Música e Gastronomia: o melhor acontece em Sampa
“Em São Paulo as coisas acontecem, sem precisarmos procurar. Lazer, cultura, e gastronomia, é lá que se encontra o melhor.”
Publicado 17/09/2024 09:43
Fazia meses que não íamos. Temos familiares e muitos amigos. São Paulo é sempre uma festa, sempre descobrimos coisas novas. Dez dias revigoram, fazem com que se sonhe acordado, a cidade fervilha com atividades culturais.
Verdade. Voltar ao “friozinho de 28 graus recifense”, sem dúvida, foi agradável. Deixar os 34 graus com uma unidade do ar menor que 15%, um alívio. Ainda mais com a poluição do ar acrescida pelas fumaças das queimadas. Não podemos negar que incomodava, no entanto, as atrações várias foram surgindo e nos animando.
Nada programamos. Vamos à procura de centrar a cabeça e aproveitar o que vier. Sem muito procurar, lazer, boa comida e cultura acontecem. Muito a aproveitar. Como dizia o poeta popular, vulgarmente chamado “Yossef, the Small Pagodé”, nada de se preocupar, “deixa a vida me levar.”
Falar dos restaurantes japoneses e árabes que sempre freqüentamos e adoramos seria repetir o já dito, apresentar a Martins Junior, a melhor livraria da cidade, ou os cafés dos quais somos habitues, seria repetitivo. Isso já é conhecido de todos. Centrarei nos programas que surgiram sem estarem agendados, que a estada nos propiciou.
Chegamos numa sexta. Jazz B é casa que freqüentamos. Na General Jardim, ao lado do badalado restaurante Casa do Porco. As atrações sempre de qualidade.
Jorginho Neto e seu hepteto. Dois saxes, um trombone, teclado, bateria, violão e contrabaixo. Uma noite inesquecível. Um bom vinho a acompanhar e comidinhas para degustar. Duas horas de puro entretenimento. Verdade que exageraram um pouco nos improvisos. Fazer o que, músicos deste quilate, todos tocando em orquestras famosas, têm direito a um showzinho particular.
Um almoço no Blue Note. A comida é sempre boa. Vendo do alto a Paulista e o andar desajeitado de suas meninas. A deselegância concreta. Um trio de Bossa Nova e música americana. Piano, baixo e percussão. Tudo perfeitamente encaixado. Conjunto Nacional, onde outrora já foi o famoso Fasano, onde perdemos recentemente a livraria Cultura.
Noite abrasadora faz com que saiamos à rua. Buscar um chopp gelado e um bom sanduíche. Pensamos no Beirute do Ponto Chic. Preferimos nosso boteco de costume. Monte Belo na Rafael de Barros e seu Americano inconfundível. Mais um chopp e uma tábua de frios.
Às oito, no escurecer, andando pela Paulista. Vemos uma fila no Itaú Cultural. Perguntamos o que se passa. Uma peça teatral, “Por Trás das Flores”, com Helena Ranaldi e Martha Meola. Pré estréia. Ainda há lugar, melhor, grátis. Estamos dentro. Diálogo de mãe e filha que expõe os conflitos e contradições dessa relação amorosa. Gostamos, grandes interpretações.
A Embaixada está promovendo, a preços populares. A Camerata da Orquestra Sinfônica da China. Fazem concertos pelo Brasil para comemorar os cinqüenta anos de relações diplomáticas entre os dois países. Justa homenagem ao que vem dando muito certo.
No recém reinaugurado Teatro Cultura Artística. Após o incêndio ficou belo. O enorme painel de Di Cavalcanti na fachada impressiona. As salas de espetáculo bem cuidadas com uma excelente acústica. Peças curtas, de Mendelsohn a Tchaikovisky, passando por Piazzola e canções populares chinesas. Fantástico. Ovação e delírio da platéia. Dois bis mostram o quão excepcional foi a apresentação. A alma engrandecida pelo som da música universal.
Voltamos ao Jazz B. O mago do acordeom e seu quinteto. Toninho Ferragutti e suas composições. Novamente um vinho e drinks sofisticados. Simpático, cumprimenta a todos e atende a pedidos. Com poucos improvisos, curtos, ressalta a beleza de suas composições. Mais uma noite de puro encantamento.
Sábado ao meio dia, o centro da cidade fervilha. Vários bares e música variada, nem sempre de qualidade. Nosso destino estava traçado. Iríamos á Casa de Francisca. Na Quintino Bocaiúva, pertinho da Praça da Sé. Um prédio histórico, do início do século XX, arquitetura eclética.
Um almoço musical. Para uns, dançante. O salão impressiona, as mesas de madeira, uma arquibancada em frente ao palco, o apinhado de gente, os lustres antigos. O contentamento e os risos, marcas do local.
Almoço da melhor qualidade, o salmão grelhado, o arroz de camarão e frutos do mar, a carne de sol. Boa caipirinha e cerveja gelada. Garçom muito atencioso.
Músicas latino-americanas, cúmbia, cha-cha-chá, boleros e mesmo música brasileira. Cubanos, venezuelanos e brasileiros, profissionais competentes, se juntam num animado repertório que faz com que as pessoas mexam as cadeiras do corpo, mesmo sem querer. Satisfeitos, uma tarde de alegria e confraternização com amigos.
Convidados, vamos. No bairro de Higienópolis. Um bistrô francês, ICI, da melhor qualidade. A decoração convencional, o atendimento discreto e eficiente.
Mexilhões ao molho de vinho branco com especiarias de entrada. Acompanha fritas e um molho de alho bem temperado. Os pratos nos animam. O boeuf bourguignon, o melhor que já comi, o salmão selado, os camarões enormes, os steaks com seus molhos. Creme bruleé é a sobremesa especialidade. Cafés e chás. Com irmãos e dileta sobrinha, uma farra gastronômica inesquecível.
Chegou ao fim a temporada. É tradição, com a família de minha companheira, ir a uma pizzaria. Marcas registradas da cidade. Esta vez a escolhida foi a 1900 na Alameda Campinas,. O chopp gelado e as sodas limonadas temperadas trouxeram frescor a uma noite escaldante. A pizza de escarola divina, a de alcachofra uma novidade, a portuguesa sem graça. Culpa nossa, pois alguns exigem que não se coloque cebola. Descaracteriza, pelo menos para mim. Noite agradável de muita confraternização e promessas de breve retorno.
Em São Paulo as coisas acontecem, sem precisarmos procurar. Lazer, cultura, e gastronomia, é lá que se encontra o melhor.