Lições de humanidade em meio à miséria e à pandemia
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Publicado 30/04/2020 14:03 | Editado 30/04/2020 14:04
Essa na foto acima é Dona Luzinete, moradora da Rua da Zoada, no bairro do Coque (menor IDH do Recife). Pedi a sua autorização para fotografar.
Em nossa campanha da Unegro Recife, de arrecadação e doação de cestas básicas, deixamos duas pra entregar de forma avulsa, na comunidade, pra pessoas que sequer se antenam em se organizar e buscar um mínimo apoio como este. Saí com meu carro, eu e Ana Cláudia Vasconcelos, pelas ruas mais pobres da comunidade, buscando pessoas assim.
No meio do caminho, vários homens, sentados nas calçadas, com suas carroças estacionadas, uns cavalos magros pelos terrenos. Claudinha quis entregar a eles, mas refletimos que era mais “seguro” entregar as cestas a mulheres, pois era uma garantia maior de que o donativo não se desvirtuaria.
Foi então que vimos aquela senhora, na porta de sua moradia, bem precária. Eu e Cláudia dissemos: será pra ela. Parei o carro, me aproximei e perguntei: a senhora está precisando de algum auxílio? Tenho aqui cestas básicas, a senhora quer uma? A resposta dela: “precisando eu estou muito, mas tem gente por aí precisando mais do que eu. Procure…”.
Eu quase fiquei sem ação, fiquei desconsertado, emocionado. Aquela mulher franzina, com aquela aparência frágil, empobrecida, se transformou num gigantesco monumento moral ali na minha frente. Pedi então a ela que indicasse duas famílias que ela julgava merecerem as cestas. Nesta hora chegou um senhor perto da gente e ela se apressou: “dê a esse aqui! Ele tem família grande, muitas crianças…”. Deixei com ela a outra cesta, que ela disse que iria entregar a uma mãe que estava em dificuldades. Queria ter centenas de cestas pra sair com ela, sob seu comando, ajudando mais gente.
Obrigado pela lição de vida e de ética, Dona Luzinete! Em tempos de tanta desilusão com o animal humano, a senhora me deu um sopro enorme de esperança.