Julieta, um filme que reflete sobre as mulheres e a maternidade

O filme Julieta nos leva a refletir sobre as mulheres na função da maternidade, as buscas, as culpas, o abandono e a esperança.

Cartaz original do Filme Julieta, de Pedro Almodóvar

Mais um filme do grande cineasta espanhol Pedro Almodóvar Caballero, que traz elementos próprios da marca em seus filmes como a tristeza, a paixão, a irreverência, a angustia, a perda, as relações familiares e a forte presença das mulheres. Almodóvar recebeu várias premiações por seus filmes, sendo o único cineasta de seu país a ganhar o Oscar. 

Em Julieta ele se baseia no livro da escritora canadense Alice Munro, ganhadora do Nobel de literatura em 2013, e que serviu de base para o roteiro do filme. Na película, Juliet (Julieta) é interpretada por duas grandes e lindas atrizes, Adriana Ugarte (Julieta mais jovem) e Emma Suárez (Julieta mais velha). 

O filme apresenta dois momentos da vida de Julieta, ambos de muita tristeza, mágoa e dor, evidenciados através das cenas e das cartas escritas para a filha, sendo o segundo momento marcado pela dúvida e constante busca pela filha Antia, do abandono com culpa e tentativa de esquecimento para o sentimento constante do desespero pela ausência da filha e em alguns momentos o retorno da esperança e a procura de Antia (Priscilla Delgado/ Blanca Parés ). Ela com a idade de 13 anos em férias na casa de uma amiga, após um passeio da escola, recebe a notícia da morte de seu pai.

Julieta é professora de literatura clássica e aparece numa cena logo no início do filme dando aula sobre a Odisseia, de Homero. No trem, ela aparece lendo o livro: A tragédia grega, de Albin Lesky.

Seu companheiro, Xoan (Daniel Grao) e que a protagonista encontra em um trem, após um acontecimento trágico ocorrido na viagem, acaba por preencher o vazio e a perplexidade pela situação ocorrida naquele momento. Ela se apaixona e também é amada por ele.

Em nossa coluna publicada no Portal vermelho, um primeiro filme resenhado por mim desse cineasta, “Mães Paralelas”, também marcante, registra uma história coincidente entre duas mulheres, mistura histórias de vida, resistências cotidianas e sonhos perpassadas pelo universo feminino no que tange aos desafios e aos papéis da maternidade.

No filme Julieta, destaca outra trajetória onde uma mulher vive dois momentos marcados pela maternidade e que nos leva a refletir sobre as mulheres nessa função da maternidade como: as buscas, as culpas, o abandono e a esperança.

Ao longo da vida de uma grande parcela de mulheres, a maternidade é definida de forma diversa seja na questão da idade, no componente das classes sociais, da raça/etnia. A construção social sugere de forma quase imposta, entre diversos atributos, a gravidez e o consequentemente a maternidade. O filme de Almódovar nos faz penetrar nesse emaranhado de sentimentos, da culpabilização e da negação que podem ocorrer até mesmo de forma inconsciente, gerando frustrações, desespero e desesperança. 

Mais uma vez esse grande cineasta carrega na bela fotografia, nas cores fortes, e na trilha sonora do espanhol Alberto Iglesias que nos leva para um caminho de beleza das cores, da tristeza da alma, da perda e do abandono, mas retorma a busca pelos sentimentos mais profundos. Nessa película, novamente é forte o papel das mulheres, presente nas perdas de Julieta em seus diversos momentos da vida. Ao mergulhar nesse filme levamos junto nossas frustações, mas também a possibilidade de retomar e ao final reencontrar a esperança.

Julieta – Disponível na Netflix (Pode conter spoiler)
Espanha, 2016
Drama, 96 minutos
Direção- Pedro Almodóvar
Roteiro- Pedro Almodóvar
História- Alice Munro
Elenco- Emma Suárez, Adriana Ugarte


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