Honrosa desconfiança 

O mercado financeiro intensifica as críticas ao governo Lula, enquanto as forças progressistas destacam avanços e defendem maior controle estatal sobre a economia.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A avaliação negativa do mercado financeiro em relação ao presidente Lula pulou de 64% em março para 90% agora segundo pesquisa Genial-Quest.

Na mídia, entrevistas com agentes do rentismo a propósito de tamanho grau de desconfiança, dão azo a que repitam a cantilena de que as medidas do pacote econômico recém-lançado justificariam o distanciamento crescente entre o governo e o mercado. 

A proposta de isenção do imposto de renda para quem ganha até cinco salários mínimos é duramente criticada como fator inflacionário. 

É evidente que o pacote é tão complexo quanto insuficiente sob vários aspectos — a critério de quem o analisa. 

O PCdoB, que integra em primeiro plano a aliança que governa com o presidente Lula, não se exime de expressar opinião própria. 

Em nota pública, acentua êxitos parciais do governo no programa de reconstrução nacional e ao mesmo tempo as pressões que recebe da classe dominante por suposto descontrole das contas públicas, que segundo os comunistas não ocorre. 

Reafirma o caráter nocivo da política de juros altos adotada pelo Banco Central. 

E sugere mais ousadia no sentido de retomar o controle das “alavancas” da economia elevando a meta de inflação, retomando a soberania popular sobre a política monetária via superação da autonomia do Banco Central, reforço do papel dos bancos públicos na ampliação do crédito com juros baixos e da prioridade plena aos investimentos da Petrobras e não ao pagamento de dividendos aos acionistas. 

Manifesta pleno acordo com a tributação da renda do patrimônio dos super ricos.

São visões diametralmente opostas — a do rentismo e a do PCdoB e demais forças populares e democratas consequentes.

Os comunistas identificam com clareza o alvo principal do combate, evitando atingir aliados empenhados, por designação do presidente da República, na espinhosa tarefa da gestão econômica e financeira. 

Nesse contexto, a desconfiança do mercado financeiro em relação ao presidente Lula em níveis tão elevados soa como verdadeira honra, pois reafirma de que lado o presidente peleja no conflito entre o sistema financeiro e os interesses da nação e do povo.

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