Existe crise?

Não se trata de um dilema shakespeariano de “acreditar ou não acreditar” na crise. Diante de um cenário de aumento da taxa de desemprego, aumento da inflação, queda da atividade econômica e a maior taxa real de juros do mundo, uma avaliação isenta não pode deixar de reconhecer o óbvio: há uma crise!

As causas, suas consequências, sua extensão e, principalmente, as medidas para sair da crise é o debate da ordem do dia. Certamente jamais haverá consenso das diversas correntes ideológicas quanto ao diagnóstico e muito menos quanto às medidas que se deve adotar para enfrentar esse cenário adverso.

De igual forma a extensão da crise e seu eventual declínio depende de interpretações que são animadas por interesses de classes antagônicas e, por isso mesmo, naturalmente apresentarão diagnósticos e soluções diametralmente opostas.

Como a luta política vai assumindo contornos claramente classistas, cada um procura apresentar a sua própria interpretação. A direita, apesar do golpe batizado de impeachment ter perdido força, não desistiu de seu intento golpista. Tentará manter a bandeira do impeachment na ordem do dia, continuará utilizando seus veículos de comunicação para inundar a sociedade de notícias negativas (reais ou fabricadas) e persistirá na espetacularização de operações tipo “lava jato”. Seu objetivo é criar a ideia do caos estabelecido. Os céticos continuarão brigando com a realidade. Os pessimistas prostrados, aceitando a derrota de uma batalha que sequer travaram. E as forças progressistas continuarão empenhadas em ampliar as conquistas populares, o que só será possível com a derrota dos golpistas e a revitalização de nosso projeto atual.

O governo ainda tem problemas centrais para enfrentar, dentre os quais a taxa de juros mais cara do mundo; desemprego crescente; queda da renda média do trabalhador e retração da economia.

Essa taxa de juros de 14,25% além de provocar queda no consumo, redução da atividade produtiva e aumento das despesas com o serviço da dívida pública, consome algo como 356 bilhões de reais com o pagamento de juros da dívida.

O aumento da taxa de desemprego, a queda na renda média do trabalhador e a própria retração do PIB estão diretamente relacionado com essa política de juros estratosféricos.

Mas há saída. O Brasil teve saldo na balança comercial de algo como 19 bilhões de dólares em 2015, apesar do recorrente déficit que o setor secundário (indústrias) e terciário (serviços de maneira geral), tem apresentado ao longo dos tempos. Tem reserva cambial de quase 400 bilhões de dólares, crédito na praça, uma relação comercial diversificada, importantes arranjos geopolíticos como os BRICS, Mercosul, etc. Dispõe de instrumento poderosos. Tem ainda uma rede própria de instrumentos de financiamento como BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BASA, Banco do Nordeste, etc. Rede, aliás, que o governo acaba de lançar mão para enfrentar pelo menos alguns desses aspectos deletérios.

A presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar que utilizará 83 bilhões de reais para estimular a economia. Esses recursos virão de fundos trabalhistas e de bancos públicos. O FGTS garantirá um total de 49 bilhões, sendo 22 para empréstimos de obras de infraestrutura; 17 para garantias do crédito consignado com juros mais baixo e 10 bilhões para financiar programas habitacionais. Do BNDES e demais bancos públicos virão os outros 34 bilhões: 15 para refinanciar máquinas e equipamentos; 10 destinados ao crédito rural; 5 destinados ao capital de giro das pequenas empresas e outros 4 bilhões para estimular empresas exportadoras.

Falta, ainda, de uma vez por todas, compreender a urgência e a natureza estratégica da redução da taxa de juros.

Mesmo assim é preciso compreender que o que está sendo questionado pela direita não são eventuais erros do governo e sim seus acertos. Vejamos 03 exemplos simples:

a) Taxa de desemprego. Caiu de 12,3% em 2003 – final do governo FHC (PSDB) e início governo Lula – para 4,8% em 2014 (governo Dilma). Oscilou em 2015 para 6,8% e mesmo assim é quase a metade da era FHC;

b) Renda média dos trabalhadores. Em 2003 eram 1.764 reais (441 dólares). Foi a 2.353 reais (588 dólares) em 2014 e oscilou para 2.265 reais (566 dólares), registrando um aumento real de quase 30%. Significa que as pessoas ficaram mais ricas, adquiriram maior poder de compra, melhorou a distribuição de renda;

c) O salário mínimo. Em torno de 48 milhões de brasileiros tem sua receita atrelada a esse indicador. Nesse período analisado o salário mínimo teve uma valorização real de 76%. Oscilou de 200 reais (50 dólares) para 880 reais (220 dólares). No final do governo FHC o salário mínimo era insuficiente para comprar uma cesta básica, que a época custava 208 reais. Hoje, no governo Dilma, compra até 03 cestas básicas, a depender da região;

Analisando esses dados e comparando os governos, coisa que naturalmente o povo faz, fica fácil compreender porque a direita se convenceu que só pelo golpe, pelo tapetão, ela poderá retomar o governo central do Brasil. Nas urnas, num debate franco, será difícil.

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