Crise e Democracia
No Brasil e na maioria dos países em todo o mundo, assistimos a uma sucessão de crises envolvendo as estruturas governamentais, seus representantes nas diversas escalas do poder, justamente quando vivenciamos uma época em que os regimes democráticos estão
Publicado 26/05/2007 16:28
Há algumas décadas atrás vivíamos, em vários continentes, incluindo a América do Sul e o Brasil, sob a tutela de sistemas ditatoriais em que a única verdade era a oficial, a imprensa amordaçada pela censura implacável, as mais diversas organizações da sociedade fechadas pela violência do arbítrio. As mais elementares normas do Direito coletivo ou individual, violadas sem dó nem piedade.
A aparente austeridade dos ditadores encobria sob o manto do terror a corrupção mais deslavada, a perseguição aos que contestavam a truculência sem limites. Prendia-se, batia-se, arrebentava-se sem constrangimento. Muitas fortunas ilícitas foram construídas nesse pântano da impunidade e da exploração social. As lutas trabalhistas eram consideradas subversão e ameaça à tranqüilidade do Estado.
Os advogados, os juristas que se insurgiam contra a paz dos cemitérios foram verdadeiros bravos porque o exercício da profissão era absolutamente temerário, corria-se o risco de ao exercê-la ser transformado em réu.
As limitações das constituições elaboradas entre quatro paredes, protegidas pelo porrete e a mordaça, deixavam poucas brechas ao exercício das liberdades democráticas. Exigiam muita criatividade profissional e coragem pessoal. A atuação dos militantes oposicionistas era uma temeridade pessoal e um risco familiar.
Por outro lado, foi instituída a delação como forma de ascensão tanto no serviço publico quanto na iniciativa privada. Muitos fizeram tranqüila carreira em diversos órgãos às custas dessa aberração inominável.
Com a conquista da democracia em nosso país muitos achavam que os males em nossa sociedade seriam superados. Mas foram expostos os abismos sociais, as instituições limitadas, o privilégio do capital, um sistema representativo que marginaliza as grandes maiorias.
As crises mostram uma realidade a ser superada por formas mais avançadas de organização social nas instituições republicanas. Assim, creio, se forem aproveitadas como pedagogia democrática e conscientização popular, prevalecerá o seu lado benéfico.