Como reivindicar?

Categorias ficaram por seis anos com sub reajustes que levaram a perdas inflacionárias de mais de 57%, com fortes contingenciamentos de recursos no orçamento federal

Andes - Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior indica greve para abril. Foto: Divulgação

Educação faz parte do discurso. A saída das mazelas enfrentadas pela sociedade passa por ela. Ideia defendida por todos, quaisquer que sejam as linhas políticas ou mesmo teóricas. Se assim é, como valorizar as carreiras que lhe são atinentes, que são sua base de sustentação? Uma pergunta sem resposta fácil.

Segunda feira de manhã. Dia de uma conversa com familiar muito querido, professor de uma universidade do interior de Minas. Sempre, pontualmente às dez horas, por meia hora. Papo enriquecedor e variado, sobre a família, sobre o Brasil, sobre o Mundo, em diferentes nuances. Muito aprendo, muito discutimos.

Nem sempre concordamos. Mas, há respeito. Temos visões diferentes que nem sempre se completam. Mas, dão o que pensar. Temas que nos preocupam em que procuramos posições mais consolidadas.

Esta semana. O tema era o funcionalismo público federal e as suas reivindicações salariais. Mais precisamente as universidades, os servidores e os docentes. Categorias que ficaram por seis anos com sub reajustes que levaram a perdas inflacionárias de mais de 57%, com fortes contingenciamentos de recursos no orçamento federal, deteriorando em muito as condições de trabalho, levando a evasão de cérebros que podiam contribuir para a qualidade do ensino, que viam na mudança governamental a possibilidade de uma recomposição mínima.  Nisso, nós dois concordamos.

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Esther Dweck é professora universitária federal. Conhece bem as dificuldades das categorias. Como ministra uma grande expectativa de correções possíveis.  Em 2023, um aumento linear de 9% era o possível, com perspectivas de correções no decorrer do mandato presidencial.

Uma grande frustração. Na mesa de negociação o Governo se posiciona. Para 2024 o reajuste zero, com a vaga esperança de reversão caso haja uma arrecadação espetacular que possibilitaria míseros percentuais. Para 2025 e 2026, 4,5% respectivamente, o que levaria no período de quatro anos a um aumento que passa um pouco da inflação esperada. E as distorções que foram acumuladas, devem ser esquecidas? Decepção geral.

Continuamos concordando. Chega o ponto da perplexidade e contradição. Como se posicionar frente situação tão vexatória, tão decepcionante para categorias que sempre estiveram ao lado deste Governo e procuraram compreender a situação de dificuldade, até hoje?

Vale ressaltar que as categorias de servidores que têm mecanismos de pressão diretos como os funcionários da Receita, os Auditores, os dos Tribunais de Contas, os do Judiciário têm conseguido reajustes, inclusive mudanças nas carreiras que muito os beneficiam. Nada contra, estão em seus legítimos direitos. Por que excluir as outras carreiras, inclusive as que formam as futuras gerações, as que dão perspectivas a um País mais harmônico e menos desigual, como as da Educação?

A luta é mais do que justa. O problema é que sou velho e não vejo nenhum caminho que não seja a Greve.  Vem aí a contra-argumentação.

O movimento grevista, geralmente liderado por sindicatos, acaba tendo pouca capacidade de coordenar um debate continuo sobre o futuro da universidade e dos trabalhadores dela. O debate sempre surge na greve e desaparece assim que o reajuste (ou parte dele) é alcançado. Em setores de baixa capacidade de pressão, a greve é um paliativo de pouca eficiência, pouco se avança nas questões estruturais.

Greve, neste segmento, pouco resolve. Não sensibiliza os tomadores de decisão. Ficarmos sem trabalhar por meses apenas prejudica os alunos. Em nada modificam as decisões tomadas baseadas em controle fiscal e tentativa de atingir metas. Ceder a outras categorias, uma necessidade difícil de recusar, para este setor não, pouco influencia na imagem governamental.

Fico assustado e, depois de muito conversar, tendo a concordar. Infelizmente é a dura realidade. Mesmo para um Governo que teria compromissos com a justiça social, a decisão passa por outras esferas, principalmente a política e a sustentação econômica.

 Existem outros mecanismos de luta pelos direitos e justiça? É possível sensibilizar e mostrar o prejuízo que se fez para o futuro com a evasão de muitos jovens vocacionados que desistiram das profissões para ter uma vida um pouco mais digna? Apenas o que traz recursos no curto prazo interessa? Ninguém percebe como estamos nos rankings internacionais de instituições de ensino? É mesmo para valer o discurso de querer ser um país de primeiro mundo sem apoiar a formação e capacitação em alto nível da juventude?

Continuaremos com essa briga inglória procurando caminhos que deem dignidade a profissões que muito tem procurado consolidar uma nação muito melhor para as gerações futuras. Como? Não sei.

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