Câncer Ecológico – Parte I
A ocultação das verdadeiras causas do câncer em comunidades agrícolas expõe a negligência da indústria de agrotóxicos e a falta de abordagem toxicológica na medicina
Publicado 15/01/2024 17:40 | Editado 15/01/2024 17:41

A nossa luta contra os venenos, os agrotóxicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas e outros biocidas) tem quase 60 anos, desde 1966 participamos de um Grupo de Ecologistas e Ambientalistas quer se dedicam a combater a indústria do veneno que tantos danos, tantos males, está fazendo ao meio ambiente e à saúde da população, no Brasil e no mundo. Um dos males que afeta milhões de pessoas no mundo, o câncer, é causado pelo uso intensivo e indiscriminado, sem controles, dos agrotóxicos.
A indústria do veneno teima em negar e os trabalhos de pesquisadores, bem como os diagnósticos médicos tangenciam e mentem sobre as causas do câncer. A indústria nega, através de um comportamento criminoso, porque não quer deixar de ganhar, de lucrar. Os médicos por desconhecimento já que os cursos de medicina não têm uma disciplina de toxicologia que pode capacitá-los no diagnóstico das doenças, dos problemas, causados pela ingestão e contatos pelo uso sistemático de agrotóxicos na produção agropecuária.
Uma constatação, uma prova da nossa assertiva é um artigo denominado “Panorama do câncer da pele em comunidades de imigrantes Pomeranos do Estado do Espirito Santo, realizados por especialistas da Universidade Federal do Espirito Santo, com 16 referências bibliográficas, onde não citam a verdadeira causa do câncer , o uso sistemático de agrotóxicos, nas 11 comunidades citadas, pasmem, dizem que a causa do câncer é “ à exposição solar”. Sofismam, ou melhor, mentem descaradamente! Só não mentem na quantificação das pessoas atendidas. O artigo cita “3781 pacientes, com avaliação histopatológicas, operados entre os anos de 2000 e 2010 com ressecção de 4881 lesões”. (Ob. Citada Rev. Col. Bras. Cir. 2017, 44(2): 187-193). Dizem os “especialistas” no artigo citado, que “a exposição prolongada ao sol, associada ao tipo de pele (branca, olhos e cabelos claros) contribuiu para o surgimento, com o passar dos anos, de várias lesões na pele”.
Nada dizem sobre essa comunidade agrícola que há anos manipula e usa agrotóxicos. No ano de 2022, a maioria dos casos diagnosticados, no Estado do Espirito Santo, entre as mulheres foram: mama (9l9 casos), colo do útero (428), pele (276), nasofaringe (208) e colo do útero cérvix (196). O total de casos registrados, ainda entre as mulheres, chegou a 7.416. Já entre os homens, a maioria dos casos foram: próstata (574 casos), nasofaringe (259), pele (213), estômago (200) e brônquios e pulmões (121). No total, ao longo do ano, foram 4.685 registros de câncer na população masculina. Segundo esses especialistas de araque, “Este percentual está relacionado ao significativo número de descendentes de imigrantes italianos, alemães e pomeranos que residem nas regiões interioranas que trabalham na lavoura e recebem exposição prolongada do sol” (grifos meus).
Nem uma citação sobre o uso de agrotóxicos no trabalho das lavouras! Pode? O Estado do Espirito Santo tem estimativa de mais de 13 mil novos caso de câncer em 2023.
“De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa é de que o Espírito Santo poderá registrar, 13.410 novos diagnósticos de câncer em 2023.”
Em 2022, segundo dados do Painel Oncologia do Data SUS, o Estado apresentou 12.101 novos casos de câncer, sendo 7.416 em mulheres e 4.685 em homens. Entre os casos mais comuns diagnosticados foram de mama, próstata, cólon e reto, e traqueia, brônquio e pulmão.
Em 2021, foram 13.903 novos casos, sendo 8.080 em mulheres e 5.823 em homens, com a predominância de casos de câncer de mama, próstata, cólon e reto, e traqueia, brônquio e pulmão.
Pergunto: Esses tipos de câncer são causados pela exposição ao sol? Estão querendo passar, a nós cidadãos, atestado de burrice e ignorância?
Em relação aos óbitos, as neoplasias (câncer) foram a segunda principal causa de morte no Espírito Santo em 2022, com 4.359 óbitos, ficando atrás apenas de doenças do aparelho circulatório. Os dados, ainda preliminares, são do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).
Entre os tipos de câncer mais agressivos estão brônquios e dos pulmões (454 óbitos), mama (339 óbitos), próstata (300 óbitos), estômago (251 óbitos) e cólon e esôfago (ambos com 251 óbitos). Questiono os “especialistas”: a causa desses tipos de câncer é a exposição solar?
Em 2021, foram 4.555 óbitos (dados preliminares) e, entre os que mais mataram, foram brônquios e dos pulmões (529 óbitos), mama (339 óbitos), próstata (339 óbitos), estômago (311 óbitos) e cólon (266 óbitos). São dados oficiais de fontes governamentais, portanto, inquestionáveis.
(continua…)