Câncer Ecológico (Final)
Alerta sobre consumo excessivo de agrotóxicos no Brasil, destacando a situação crítica em Santa Maria de Jetibá e a necessidade de mudanças na agricultura
Publicado 22/01/2024 08:00 | Editado 20/01/2024 10:59

Em 1991 o engenheiro agrônomo colombiano, naturalizado brasileiro, especialista em agricultura orgânica, biológica, então colaborador da Federação dos Órgãos de Assistência para a Educação no Brasil – FASE, que luta contra o uso abusivo de agrotóxicos no Brasil, denunciava que o município de Santa Maria de Jequitibá, responsável por 60% da produção de hortigranjeiros do Estado, consumia 1.760 gramas de agrotóxicos por habitante. Em outras palavras, apenas em Santa Maria eram consumidas anualmente cerca de 30 toneladas de agrotóxicos por ano. Restrepo afirmava na época que este número era absurdo quando comparado à população do município, que era somente de 17 mil pessoas, sendo que desse total 70% eram pomeranos, e desses mais de 11 mil sofriam de câncer ecológico.
Anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente cerca de 130 mil toneladas no país; representando um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período.
O consumo desses produtos difere nas várias regiões do país, nas quais se misturam atividades agrícolas intensivas e tradicionais, e nestas últimas não incorporaram o uso intensivo de produtos químicos. Os agrotóxicos têm sido mais usados nas regiões Sudeste (cerca de 38%), Sul (31%) e Centro-Oeste (23%). Na região Norte o consumo de agrotóxicos é, comparativamente, muito pequeno (pouco mais de 1%), enquanto na região Nordeste (aproximadamente 6%) uma grande quantidade concentra-se, principalmente, nas áreas de agricultura irrigada. O consumo de agrotóxicos na região Centro-Oeste aumentou nas décadas de 70 e 80 devido à ocupação dos Cerrados e continua crescendo pelo aumento da área plantada de soja e algodão naquela região. Os estados que mais se destacam quanto à utilização de agrotóxicos são São Paulo (25%), Paraná (16%), Minas Gerais (12%), Rio Grande do Sul (12%), Mato Grosso (9%), Goiás (8%) e Mato Grosso do Sul (5%). Quanto ao consumo de agrotóxicos, por unidade de área cultivada, a média geral no Brasil passou de 0,8 kg por ha, em 1970, para 5,9 kg por ha, em 2023. Com relação à quantidade total de ingredientes ativos, as culturas agrícolas brasileiras nas quais mais se aplicam agrotóxicos são: soja, milho, citros, cana-de-açúcar.
O município de Santa Maria de Jetibá tem apenas 34 anos, e sua economia pautada em duas frentes: produção de hortifrutigranjeiros e comércio.
A força do campo está representada com a alta produtividade das mais de 6.200 propriedades rurais (sendo aproximadamente 4.775 cadastradas e cerca 1.500 propriedades a serem tituladas, com menos de 3 ha). Santa Maria do Jequitibá é o maior PIB Agrícola do Espírito Santo, de acordo com dados da Secretaria de Agropecuária do município.
Município é referência estadual em produção orgânica, com aproximadamente 150 produtores, graças ao trabalho pioneiro do agrônomo Jairo Restrepo. Um total de 40% de todas as hortaliças e 70% das folhosas comercializadas na Ceasa, em Cariacica, na Grande Vitória, vem do município centro-serrano.
É importante que se divulgue, que se denuncie, o fato de que grande número de agrotóxicos comercializados e usados no Brasil é proibido em seus países de origem. Como, por exemplo, os organoclorados, proibidos no exterior e vendidos aqui no pais.
Os dados que apresentamos devem servir como reflexão para uma mudança de paradigma em relação a nossa produção agrícola. O câncer é uma realidade e hoje atinge a população infantil; no Paraná, no Hospital Erasto Gaertner tem uma ala só para crianças com câncer. Será que essas crianças estão cancerosas por exposição solar como afirmam falsos especialistas? Está na hora das autoridades abrirem os olhos e, já está tarde!
Confira a primeira parte do artigo: Câncer Ecológico – Parte I