Cadê a autocrítica da direita?

A chegada de Jair Bolsonaro ao poder significou uma oportunidade para a direita de governar com votos e legitimidade, o que não acontecia há 16 anos. No entanto, as contradições no poder estão levando o governo a uma espiral de crises intermináveis, a economia não reage, e as instituições dançam à beira de um abismo perigoso, onde no fundo do poço se projeta um regime ditatorial.

A virada à direita na América Latina após a Primavera Rosa — período de ascensão de governos de centro-esquerda —, começou de maneira turbulenta, com derrubadas de Presidentes em golpes de estado fomentados pela política internacional de Washington. O ponto alto da direita latino-americana foi a eleição do neoliberal Maurício Macri na Argentina, e a promessa de uma consolidação hegemônica ideológica no cone sul.

No Brasil, as forças políticas que estão à direita, representantes do modelo político-econômico neoliberal, tiveram que lançar mão também de um golpe de estado para voltar ao poder. Em meio ao diversionismo eleitoral de 2018, esconderam sua agenda que vinha sendo implementada há dois anos por Michel Temer e PSDB, e apoiaram o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Os neoliberais acharam em Bolsonaro a oportunidade de continuarem colocando sua agenda em prática; desta vez, com a legitimidade das urnas.

Uma vez eleito o novo governo, rapidamente começaram a aparecer as contradições no condomínio do poder. A direita não está mais unida como em 1964, tanto que a nova direita, que surge após 2013 e se consolida no golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, avança para cima até mesmo da centro-direita e do chamado centrão, com um discurso de purificação nacional, limpeza política e patriotismo: “Meu partido é o Brasil”.

Sob a fachada do combate à corrupção, a Operação Lava-Jato destruiu a classe política como um todo. Sua associação perversa com a grande mídia influenciou a opinião pública que passou a desacreditar nas instituições políticas representativas, dificultando a sustentação de parte da direita que se diz democrática e abrindo terreno para soluções autoritárias ganharem competitividade no jogo político.

A aposta dos neoliberais fracassou. Mesmo que tenham êxito em avançar em suas pautas econômicas, sairão desmoralizados por se associarem a um governo com práticas abertamente fascistas e saudosistas da Ditadura Militar.

Essa aliança fratricida da direita brasileira joga fora a oportunidade de obterem algum sucesso político e econômico após ficarem tantos anos fora do poder. Enquanto isso, Bolsonaro vai tentando se distanciar, se autoproclamando o único representante da direita brasileira tentando empurrar os neoliberais para o centro.

Será um erro para a direita clássica conservadora deixar o seu capital político ficar nas mãos de um extremista. Pior ainda para a democracia.

A direita neoliberal carregará o peso político de sua agenda recessiva, que joga o país no desalento do desemprego, destrói o Estado e a proteção social, entrega o patrimônio público e submete o país ao neocolonialismo; traz de volta a miséria e destrói a relação capital x trabalho, aprofundando as desigualdades.

Além de ser responsável por todo sofrimento social e pelo desastre econômico, a direita estará associada à volta do autoritarismo e do golpismo. O vale-tudo pelo poder não deu certo. Quem gosta muito de pedir autocrítica para os outros, não está na hora de fazer a sua própria autocrítica?

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor