Autocrítica do PT: o anzol da direita que faz a esquerda virar peixe
Não cabe a setores da esquerda engrossarem e compactuarem com o discurso da direita. A tão famigerada autocrítica pedida ao Partido dos Trabalhadores virou o novo discurso de "corrupção na Petrobras", jargão para desmobilizar e segregar as forças progressistas.
Publicado 25/06/2019 19:05
Na prática o que a direita quer é apagar da memória nacional que não se construiu um partido tão popular e de massas do nada. O PT é fruto da continuidade da luta dos trabalhadores, construído na base de muitas greves, mobilizações, discussões, com o suor diuturno de muita militância. O PT deixou marcas indeléveis de grandes governos democráticos e populares, nas esferas municipais, estaduais e especialmente no Governo Federal, disparadamente o melhor governo para o povo de todos os tempos.
Ao contrário da imagem que tenta passar a mídia e a direita assanhada, Fernando Haddad, durante a campanha presidencial, fez sim a necessária autocrítica, admitiu os erros, chegou até a elogiar ações pontuais da lava-jato, e endureceu contra aqueles que tenham se beneficiado de esquemas de corrupção.
Parece não ter sido suficiente para a direita e para a pseudo “esquerda lavajateira”. Eles insistem na tecla, passadas as eleições, da tal autocrítica.
A direita por si só já não seria suficiente na sua cruzada, será necessário a setores da esquerda reforçar esse discurso? Parece que parte da esquerda quer que o PT admita ser o responsável pela eleição de Bolsonaro, uma tese que não se sustenta na realidade dos fatos históricos e políticos.
Quem implodiu o sistema político e deu espaço para ascensão da extrema direita não foi o PT, foi o conluio da grande mídia, judiciário (lava-jato), e partidos golpistas. Deram o golpe, sim golpe – ou existe alguém na esquerda que duvide disso?. Tiraram Lula da disputa eleitoral com uma prisão política e vergonhosa, que vem sendo exposta por mensagens trocadas entre o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores do Ministério Público pelo The Intercept. Assaltaram o poder para implementar uma agenda ultraliberal que não passou nas urnas em 2014 e foi imposta em 2018 mediante o diversionismo eleitoral.
Já que a palavra autocrítica está na moda, que tal a elite política, financeira e midiática fazerem a sua autocrítica? Será que retirar um governo legitimamente eleito do poder para implantar uma agenda não referendada pelas ruas vale a pena o preço da democracia representativa? Será que abrir espaço para o fascismo e jogar o Brasil em um abismo é melhor do que negociar nas regras da própria democracia burguesa?
A elite quer fingir ser democrática, porém não larga das práticas autoritárias e escravocratas, volta e meia lançam mão de golpes de Estado e invencionices jurídicas para fazer prevalecer seus interesses imediatistas e vira-latas, não perdem a oportunidade de usarem da tirania para impedir governos nacionalistas de desenvolverem o país, foi assim durante toda a história.
Como Lula disse em carta ao diretório do Partido em 30 de novembro de 2018: “O PT não tem culpa de ser grande, o eleitor que quis assim, são anos e anos de história e luta do partido para fazer as suas bases, foi um governo que fez para os trabalhadores e os mais pobres e isso ainda está na memória do eleitorado.”. Ora, por que o PT não poderia ter candidato? Não se trata de hegemonia, é uma consequência natural da correlação de forças na política.
Para outra liderança fora das hostes petistas ser o representante da esquerda o PT tem que desaparecer ou abrir mão do seu programa? O que são os demais partidos na esquerda hoje? Os saudosos Brizolas, Arraes, Amazonas já não se fazem mais como no passado. Algumas das legendas de hoje, mesmo com o rótulo de centro ou até de esquerda, liberaram vários dos seus candidatos e quadros no segundo turno para apoiarem Bolsonaro.
É preciso muita cautela nessas horas. Achar que isolar o PT, ou tentar tirar o seu protagonismo é fazer surgir uma nova esquerda, não é assim que as coisas vão funcionar.
A esquerda revolucionária não pode centrar fogo no PT, não pode cair na ilusão de uma transição sem a social-democracia em boa parte existente no seio do PT. Se os social-democratas são maioria e querem criar alternativas de governança burguesa, que o façam, participem. Apoiamos eles e construímos a base na propaganda revolucionária e no futuro socialista.
Tática e estratégia, conforme muda a conjuntura, devemos mudar a tática. É necessário o apoio a burguesia nacional para que exista a transição e o rompimento com o imperialismo estadunidense, só assim os trabalhadores serão capazes de se organizarem para enfim protagonizarem o poder.
Se for preciso para barrar Bolsonaro e seu governo ultraliberal, estejamos todos juntos e ampliaremos para setores da burguesia nacional. O que Lênin chamou de "esquerdismo doença infantil do comunismo", parece ter se transformado no Brasil no antipetismo. É a esquerda que a direita gosta, fragmentando e dividindo nossas forças.
"Dividir para conquistar", conceito utilizado por Maquiavel que consiste em ganhar o controle de um lugar através da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo que se mantenham individualmente. Refere-se a uma estratégia que tenta romper as estruturas de poder existentes e não deixar que grupos menores se juntem.
Vamos deixar a direita nos dividir?