Aula de resistência: Samba da Treze, madeira de lei que cupim não rói
O Samba da Treze é um movimento fundado em 1974 e esse ano está completando 50 anos. Desde então, ocupa as ruas do Bixiga, socializando de forma democrática o samba brasileiro
Publicado 07/06/2024 14:43
Escrevo nesta coluna sobre educação e hoje vou falar do samba. Sempre vi o samba como aula de história, de luta e resistência. Recentemente, passei a frequentar as ruas do Bixiga, tradicional bairro paulistano, conhecido pela boemia, a gastronomia e o samba.
Nessas minhas andanças, frequentei muitos bares e rodas de samba, mas uma em especial me chamou a atenção, a roda do Madeira de Lei. Os ouvi a primeira vez no Botecão da Treze, um sobrado histórico do bairro, localizado em frente à Igreja da Achiropita, local muito aconchegante, que mantém características do século passado. Na parte debaixo se organiza a roda. Os mais ousados se organizam em sua volta e soltam a voz e o samba no pé. Na parte superior, os mais recatados, contam com mesas e cadeiras, além de um balaústre que permite que possam assistir o “show”. O sucesso é tão grande que ocupa a rua também.
Foi isso que me chamou a atenção – a democracia daquele evento, não só por receber um público variado e lhes oportunizando vários espaços, mas por socializarem com todos um repertório de alta qualidade. As músicas vão desde o samba raiz até sucessos mais atuais. Ouvimos com o Madeira de Lei clássicos do samba que infelizmente não é difundido pela indústria do entretenimento e daí a importância deste movimento. É como sempre digo nas escolas por onde passo “Nosso papel é apresentar às crianças o que elas provavelmente não vão receber em casa ou nas ruas”. Uma educação democrática é aquela que socializa conhecimento e é isso que o Samba da Treze faz: socializa democraticamente o melhor da nossa cultura, do nosso samba.
Quanto à história, o Samba da Treze é um movimento fundado em 1974 e esse ano está completando 50 anos. Namur conta que o Samba da Treze é o projeto de Samba de Rua que tem como objetivo democratizar e apresentar o trabalho de artistas de nosso país. Desde então, ocupa as ruas do Bixiga, socializando de forma democrática o samba brasileiro. Lá vale de tudo e mais um pouco, não tem idade certa, tipo de roupa, nem limites para a música. A ideia é que todo mundo passe pela experiência do samba ao ar livre. O Samba da Treze hoje é merecidamente reconhecido como Patrimonio Histórico e Cultural da Cidade de São Paulo.
Atualmente, as rodas são comandadas pelo grupo Madeira de Lei, composto por Railson Mello (Intérprete e cavaquinhista), Lennon Campos (Voz e violonista), Namur Scaldaferri (Intérprete e Percussionista), Marcelo Emidio (Mestre Bianca) (Voz e Percussionista), Beto Emídio (percussionista), Roberto Ferreira (Robertão) (Intérprete) e Carla Borges, que é produtora do grupo e dona de uma linda voz, que, às vezes, presentei o público com uma apresentação ou outra.
Como ressalta a LDB, no seu artigo 1º “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Por isso, a coluna hoje foi sobre o Samba da Treze e o Madeira de Lei, que são exemplos de como a educação deve romper os muros da escola e de como devemos socializar de forma democrática os nossos conhecimentos, arte e cultura.
Botecão da Treze: Rua Treze de Maio, 499
Instagram: @sambadatreze