Assombrações

A inauguração de um instituto de treinamento com cadáveres frescos gera medo, rumores e curiosidade na vizinhança, que busca compreender o misterioso empreendimento

Instituto de Treinamento em Cadáveres é inaugurado na Zona Norte do Recife | Foto: TV Globo

                                           “Yo no creo em brujas, pero que las hay las hay”

Ando pela cidade. Bem cedinho, procurando ver as mudanças que muitas vezes são imperceptíveis no corre-corre do cotidiano. Coisas incríveis acontecem.

Perto de casa, duas quadras. Uma loja de decoração e de móveis de luxo é fechada. O saldo é liquidado sem muitas explicações. O que surgirá em seu lugar?

Uma reforma é feita. Começa a surgir algo novo. Fachada escura, com vidros negros que não permitem ver nada do que há internamente. A entrada assusta, o breu é a tônica do empreendimento, prenunciando atividade aterrorizadora.

Surge o letreiro. “Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos”. Como assim? O que é isso?

Poucos dias depois a palavra frescos é coberta por um plástico preto, o que aumentou o medo e apavoramento. Por quê? Não era para saber o tipo do morto que lá estará?

A vizinhança em polvorosa. Versões são contadas e nada é compreendido. Surgem as primeiras versões.

“Os cadáveres são tão frescos que um se levantou e andou.” Será?

“Os cadáveres ainda não chegaram, mas as almas penadas estão rondando o local para ver se atende às exigências requeridas”. Quais seriam?

“Vi, juro que vi, o fogo fátuo, o fogo dos mortos, aparecer ontem a noite.” Quem somos nós para desmentir?

A curiosidade aumenta e só há uma solução. Ir para a internet, para a ‘Barsa atual”, Google, e compreender o que está acontecendo.

Os treinamentos de médicos e odontólogos, nas nossas instituições de ensino, são feitos com peças confeccionadas em materiais flexíveis, partes do corpo, ou, quando possível, com corpos conservados em formol.

Na tentativa de aproximar com as situações reais, há um longo caminho para a autenticidade. As partes em formol mudam de cor, ficando bem mais escuras e a consistência enrijece os tecidos com o passar do tempo e muda muito a percepção ao tato.  Dificulta o transpassar para as atividades do cotidiano e aumenta a insegurança dos jovens profissionais nas suas atividades práticas.

Um grupo de médicos resolveu criar o primeiro centro de capacitação no Brasil com cadáveres frescos dizem as reportagens, frescos não porque morreram recentemente, mas, por serem conservados em baixíssimas temperaturas, o que garantiria as qualidades desejadas para a aprendizagem. O investimento não é pequeno, mas parece ter boas perspectivas empresariais, inclusive com contratos privilegiados com as instituições de ensino.

Como no Brasil é proibida a venda de corpos ou partes, os defuntos congelados virão dos Estados Unidos ou da Europa. Não fica claro como serão comercializados, por aluguel o que exigiria uma devolução em estado razoável para o uso no futuro, “leasing” com direito a uso e a pós revenda, consórcio, ou outra modalidade jurídica? Nossos causídicos são muito inventivos e encontrarão o melhor caminho, não tenho dúvida.

Compreendido o sentido do Instituto, só tomo algumas precauções. Até não ficarem claros os impactos de tão estranho empreendimento, procurarei evitar passar ao seu largo por algum tempo. Vai ver que os boatos tenham efetivamente algum fundo de verdade?

E, aos amigos que pelo Parnamirim passeiam só teria a chamar a atenção: cuidado!!!! Não mexam com os mortos.

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