As Nadadoras – dor e solidariedade entre refugiados políticos
No filme As nadadoras, são ressaltados o preconceito e perseguição contra os refugiados, mas também a força e a solidariedade deles e delas, e o quanto é importante não abandonar seus sonhos.
Publicado 26/01/2023 14:25
O filme comovente da Netflix, As nadadoras, dirigido pela cineasta, diretora e roteirista galesa-egípcia Sally El Hosaini, trata da vida de duas irmãs sírias Yusra Mardini (Nathalie Issa) e Sarah Mardini (Manal Issa) atrizes francesas que são irmãs e interpretam a saga angustiante da fuga das nadadoras da guerra civil em seu país. Seus pais, incentivadores da carreira de natação das jovens, não embarcam, enquanto acompanham quando possível essa trajetória dramática até que cheguem à Alemanha. Cada passagem pela película se torna uma longa torcida para que as jovens enfim possam realizar seu sonho e cheguem em terra firme, notadamente quando elas com muita coragem enfrentam o Mar Egeu, pulando fora do barco e nadando para empurrá-lo, salvando os demais tripulantes de um bote inflável rumo à ilha grega de Lesbos, para em seguida chegarem à Alemanha.
Várias embarcações que saem de diversos locais do Oriente Médio, não tiveram a mesma sorte de Yusra e sua irmã, a exemplo das imagens de um menino sírio morto numa praia da Turquia que viralizou nas mídias sociais e representou a triste realidade e símbolo da crise migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África que buscam a fuga das guerras, das perseguições e da pobreza.
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A questão da desesperada busca por refúgio atinge diversos países do mundo, com mais de 80 milhões de pessoas tendo que fugir de perseguições, conflitos, violência, violação de direitos humanos que ocorrem em suas áreas de moradia. Segundo a Agência da ONU para refugiados (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR), a Síria registra a maior população que vive a crise de deslocamento forçado do mundo. Mais de 13 milhões de pessoas evadiram-se do país ou estão deslocadas dentro da própria pátria, tendo sido agravadas essas situações no contexto da pandemia de Covid-19. Na atualidade, a grande maioria das pessoas refugiadas sírias vivem em condições de extrema pobreza, particularmente as mulheres, crianças e pessoas com deficiência. Destaca-se que a situação é mais severa no Líbano, onde mais de 90% dos sírios vivem em condições de extrema vulnerabilidade.
A Guerra Civil ocorrida na Síria, retratada no início do filme e que provoca a fuga das irmãs começou em 2011, fazendo parte dos conflitos denominados geralmente como Primavera Árabe – que se traduz em um conjunto de protestos realizados em países árabes do Norte da África e do Oriente Médio a partir de dezembro de 2010 contra regimes ditos autoritários e por melhorias na qualidade de vida da população, mas aberta ou dissimuladamente estimulados pelo imperialismo. Essa luta envolveu vários grupos armados tendo como centralidade a luta que em geral se anunciava como sendo por democracia. Com mais de 12 anos de confrontos, tudo isso já resultou na morte de mais de 600 mil pessoas.
Segundo informações do site Brasil Escola, as manifestações tiveram início na Tunísia, tendo sido rapidamente divulgado nas redes sociais, o que motivou a adesão de outros países como Egito, Líbia, Síria, Iêmen, Barein e Marrocos, com reivindicações que refletiam a conjuntura política, a luta pela democracia, justiça social e contra as desigualdades, mas sob o olhar voraz e interessado do imperialismo estadunidense.
O Brasil recebe muitos refugiados, sendo a maior população composta por venezuelanos e a segunda por sírios. Hoje nosso país conta com quase 5 mil refugiados vindos da Síria, que lutam aqui para serem reconhecidos profissionalmente, na busca para validar seus diplomas e para conseguirem instalar-se nas cidades. Na busca de um novo começo no Brasil, refugiados sírios encontraram na culinária uma maneira de reconstruir suas vidas e ao mesmo tempo lembrar de sua terra natal. No Paraná a refugiada síria Lúcia, formada em arquitetura, e sua família organizaram uma banda intitulada Alma Síria, e já se apresentaram em eventos e festivais, além de um local onde compartilham a gastronomia de Alepo, sua cidade natal na Síria.
No Brasil contamos com a Lei 9.474/1997, que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados e vai completar 26 anos de promulgação em 22 de julho. Essa lei é essencial para proteger os direitos das pessoas forçadas a se deslocar por conflitos e graves violações de direitos humanos e que no Brasil procuram reconstruir sua vida. Destaca-se ainda como um importante instrumento de proteção a “Declaração de Cartagena sobre Refugiados”, que se tornou um exemplo de como a solidariedade e a cooperação internacional podem responder, de maneira efetiva, às diferentes situações de deslocamento forçado nas Américas. Nessa nova conjuntura com o governo de Lula, ares de esperança positiva retornam ao Brasil, enquanto o resto do mundo respira aliviado por se livrar de um presidente detestável tornado pária do planeta.
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No filme As nadadoras, são ressaltados o preconceito e perseguição contra os refugiados, mas também a força e a solidariedade deles e delas, e o quanto é importante não abandonar seus sonhos. Assim, Yusra Mardini participou em 2016 de uma olimpíada no Brasil, tendo-se classificado em primeiro lugar na competição. Foi nomeada a mais jovem Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR, protagonizando a batalha de milhares de pessoas e ainda se tornando exemplo como desportista.
É um filme que registra o quanto a desumanidade de um mundo de ganância capitalista separa famílias, violenta sonhos. Ao mesmo tempo, revelam-se lições de amor e vida, de solidariedade e de força, também se evidenciando como o esporte pode ser uma força transformadora.
Ficha técnica:
“As Nadadoras” – Netflix (2022) – pode conter spoiler
Título original do filme: “The Swimmers”
Direção: Sally El Hosaini
Duração: 135 minutos
Países: Reino Unido e Estados Unidos
Gênero: Biografia, Drama
Referências:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/primavera-Arabe.htm
https://www.acnur.org/portugues/acnur-no-brasil/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/emocionante-historia-real-que-inspirou-o-filme-nadadoras-da-netflix.phtml