As flores murcham

“Quase morto, quase em Araguaia, já não tinha forças para guerrilha.”

Imagem: Ray Shrewsberry/Pixabay

A matemática não fechava e a perturbação fazia assento. Já duvidava da mentira e a acolhia nos braços como verdade. Entre a rede e o vaso sanitário transitou durante a madrugada, escorreu suor e diarreia, acelerou os pensamentos atropeladamente, sem um minuto de paz.    

Espremia o corpo em forma de feto, encolhido, engolia o choro sem lágrimas. Contabilizava o desejo de viver como quem mapeia afetos e monstros.

As palavras saíram rasgando a carne e a esperança. Quase morto, quase em Araguaia, já não tinha forças para guerrilha. Lembrava do último almoço com a sua mãe e seu pai, já velhos e de pouca carne.  Queria ser livre, mas vivia clandestinamente para viver.

Foi visto brincando com as flores, logo o acusaram de bicho e destruidor de jardins.

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