A voz do Silêncio
Já no inicio, o filme mostra o quanto a melancolia, a frustração, o abandono e a solidão acompanham os personagens, sentimentos aprofundados com a música de Criolo
Publicado 05/09/2023 08:23 | Editado 05/09/2023 08:25
“Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra
Afogada em seu próprio mar de féu
Aqui ninguém vai pro céu
Não precisa morrer pra ver Deus”
(Criolo)
O Filme, A Voz do Silêncio, que eu batizaria de “A voz da solidão”, dirigido por André Ristum, uma coprodução entre Brasil e Argentina, premiado como melhor direção e melhor montagem no Festival de Cinema de Gramado, baseia-se em experiências reais da vida do diretor. Já mostra em seu inicio o quanto a melancolia, a frustração, o abandono e a solidão acompanham os personagens da película, aprofundada quando a canção “Não existe amor em SP”, com Criolo evidencia um turbilhão de sentimentos desses protagonistas da cidade de São Paulo, essa que é uma das cinco maiores megalópoles do mundo, e é conhecida pelo cotidiano saturado de imensas dificuldades, com mais de 13 milhões de habitantes segundo o último censo.
No filme, o tempo de vida, a história pessoal e os dilemas de cada um/a, se misturam e ao mesmo tempo se complementam pela busca e mesmo pelo desencanto, quando na canção, Criolo avulta que Os bares estão cheios de almas tão vazias e Onde os grafites gritam, Ristum, o diretor apresenta os 9 personagens, hora sem suas casas, hora na imensa solidão da cidade, e que nem todos tem ligação entre si, embora angustias e histórias similares, e que se integram à história da coletividade humana, nas suas diversas indagações.
A ganância vibra, a vaidade excita canta Criolo que tem no filme como principal protagonista a competente Marieta Severo como Maria Claudia, uma mulher triste e sem ânimo para a vida, e que vive das lembranças e da esperança de encontrar seu filho (Arlindo Lopes), que lhe manda cartões postais de várias regiões do mundo, trazendo ilusão à mãe que sente profundamente a falta do filho. Ela mora com a filha Raquel (Stephanie de Jongh), que sonha ser cantora, mas só consegue fazer alguns bicos como dançarina de boate noturna.
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Outras pessoas que também vivenciam as dores da vida, como o locutor de rádio, argentino (Ricardo Merkin),que mescla sua fala com belos e antigos clássicos, enquanto lembra de histórias passadas com sua filha e seu neto que não esquece do avô e nutre amor por ele. Ainda no prédio onde reside, o porteiro uma pessoa solidária que trabalha também, durante a noite em um sushi-bar e divide suas inquietudes com pessoas solitárias da madrugada.
As pessoas interligadas por laços frágeis, alimentados por vícios, desilusões e adoecimentos trabalham diferentes temáticas do isolamento como raça, classe social, evangelismo, homofobia, envelhecimento, relações abusivas e adultério.
Outros/as personagens interpretados por Ricardo Arlindo Lopes, Claudio Jaborandy, Stephanie de Jongh, Marat Descartes, Tássia Cabanas, Nicola Siri, Marina Glezer, que vivem vidas sufocadas e angustiadas completam o drama cheio da tensão pelo emprego, pela sobrevivência, atravessados por uma eclipse lunar que possa pontuar mudanças na vida dessas pessoas, que compõem a diversidade da grande cidade de São Paulo em meio à tristeza dos personagens e sua histórias de vida. O belo eclipse lunar (a lua de sangue) poderá transformar aquelas vidas marcadas por sofrimentos peculiares em possibilidades transformadoras, nessa cidade diversa, fascinante e que nunca dorme?
Ficha técnica: (pode conter spoiler)
Filme: A voz do silêncio.
Direção: André Ristum
Roteiro: Marco Dutra, André Ristum
Elenco: Marieta Severo, Stephanie de Jongh, Arlindo Lopes