A subjetividade do pênalti

A marcação do árbitro Sandro Meira Ricci de pênalti cometido pelo zagueiro Gil, do Cruzeiro, sobre Ronaldo, do Corinthians, provocou a ira do treinador Cuca e do dirigente Zezé Perrela. Desde a suspeição do árbitro, até a do próprio campeonato. Mas esse negócio chamado pênalti sempre provocou tal reação em quem, supostamente, ou não, o comete.

Dois amigos assistiam juntos a uma partida de seu clube do coração no estádio.

Eis que o atacante do seu clube cai dentro da área.

Os dois, tomados de fúria, gritam: “É pênalti!!! Juiz ladrão!!!”

Um está com um rádio no ouvido, outro só com os olhos no jogo.

No rádio, o comentário refere-se a uma simulação do atacante, diante do qual o ouvinte se resigna: “Não foi pênalti, acabaram de dizer aqui.”

O outro, com os olhos no campo, coloridos pelo pavilhão do seu clube, retruca: “Mas foi na nossa frente, claro que foi pênalti!”

O torcedor de ouvidos colados no rádio, cheio de razão inflada pela sabedoria dos comentaristas, reafirma sua posição de que nada houve, mas tenta desfazer o assunto para não perder o jogo.

Para não perder a sua própria razão, o torcedor desprovido de qualquer aparelho de rádio ou TV, mas certo de sua capacidade de analisar lances, finaliza o assunto: “Bem, eu vi pênalti!”.

E aí está o cerne desta eterna questão acerca do pênalti!

A penalidade máxima, como o próprio nome já diz, é a maior punição que o clube infrator pode receber. A bola na marca da cal, a 11 metros do gol, com 20 jogadores atrás da linha da grande área. Dentro dela, só o batedor e o coitado do goleiro, que tem ali uma prova de que sua profissão é mesmo condenada à desgraça. Também quando pega… torna-se um herói!

Diante de tamanho perigo de gol, o pênalti é o lance mais polêmico do futebol. Desde o lance que o gerou, passando pela marcação do árbitro, até a cobrança, tudo é contestável.

Os árbitros primam pela falta de critério. Seja entre seus pares, ou até mesmo entre si próprios. O que dá margem ainda mais para discussões intermináveis a respeito.

Mas existem aqueles pênaltis que são praticamente homicídios dentro da área. Carrinhos desleais por trás, pela frente, pelo lado, onde a bola passa ao largo dos olhos do zagueiro brucutu.

Neste caso, é pênalti e não tem discussão! Embora ele tenha tocado com a ponta da chuteira na bola, segundo um microscópio instalado na testa do torcedor do time que cometeu a infração.

Tem aqueles pênaltis que não são tão pênaltis assim, mas são! Um agarrão na camisa que só o juiz e o replay viram, um empurrãozinho maroto que vira um mergulho naquela linda piscina chamada grande área, entre outros pequenos delitos que dão vazão aos hormônios dos torcedores nas arquibancadas.

E tem aqueles que, absolutamente, nunca serão! Quando a área se torna um palco, e os atores deitam, rolam, morrem de dor, e após o apito, vibram como se arrancassem aplausos da plateia. E, de fato, arrancam. Pelo menos parte dela, aquela que coincidentemente veste as mesmas cores de sua camisa.

Resumindo, falta dentro da área é pênalti! Por mais óbvio que isso possa parecer.

Existe uma gradação popular da penalidade, ou foi muito pênalti, ou foi pouco pênalti. Ora, bolas! Pênalti é pênalti!

No fim das contas, o pênalti se configura como uma infração pessoal e intransferível. Um acha que foi, outro acha que não, e na hora, o juiz tem 1 segundo pra decidir. Pode errar, como qualquer ser humano, cujo olhar não é preciso como a lente de uma câmera. Daí saber se o fez propositalmente, só se houverem evidências para tal suspeita.

Caso contrário, fica o debate… por anos, e anos, e anos…

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