2007 e 2021: duas experiências sobre o Dia Nacional da China

O meu olhar se impressionava pelo que vinha de fora, como a vastidão do Oeste, mosteiros com tradições religiosas milenares e paisagens extasiantes, como o azul intenso das águas cristalinas do Parque Nacional Jiuzhaigou

Fotomontagem feita com as fotos de: Xinhua;

Cheguei na China no finalzinho de setembro de 2007. Uns três ou quatro dias depois da minha chegada, o país comemorava naquele 1º de outubro o 58º aniversário da fundação da sua República Popular. Ainda zonzo devido a experimentação drástica de novas sensações e fusos horários, fui convidado pela minha instituição à época (Universidade de Estudos Internacionais de Xi’an) para juntar-me a um passeio de uma semana organizado para os professores estrangeiros que ali trabalhavam. No roteiro, alguns lugares históricos em trechos da antiga Rota da Seda e visitas a paisagens naturais deslumbrantes nas províncias vizinhas de Gansu e Sichuan.

Foto: Arquivo pessoal

Assim, pelo Oeste, eu dava os meus primeiros passos por essa China tão vasta. Desde então, 14 anos seguidos, tenho acompanhado aqui, ao lado do povo chinês, esse que é um dos principais feriados do país. Vale salientar que apesar do feriado se referir ao dia 1º de Outubro, esse feriado nacional se estende até o dia 7 do referido mês.

No entanto, neste ano de 2021 passei por uma experiência completamente nova. Em vez de viajar ou ficar em casa descansando com a família, fiquei todo o feriado nacional praticamente imóvel, internado em um hospital, devido a uma cirurgia no ombro. Porém, tanto no caso daquela deslumbrante viagem de 2007 quanto nesse repouso forçado de oito dias em um hospital na cidade de Shaoxing, província de Zhejiang, leste da China, o aprendizado sobre o país e seu povo tem sido imenso.

No caso da viagem de 2007, o meu olhar se impressionava pelo que vinha de fora, como a vastidão do Oeste, mosteiros com tradições religiosas milenares e paisagens extasiantes, como o azul intenso das águas cristalinas do Parque Nacional Jiuzhaigou (Vale das Nove Aldeias) e o conjunto harmonioso de montanhas, vegetação e piscinas naturais de pedras calcárias do Parque Nacional Huanglong (Dragão Amarelo), ambos figurando desde 1992 na lista da Unesco de Patrimônio Mundial da Humanidade.

Foto: Arquivo pessoal

No caso de 2021, o meu pensamento ficou impressionado por uma série de percepções sutis e reveladoras da profunda transformação social que a China está passando. Por exemplo, mesmo no caso de hospitais de cidades não muito centrais e voltados para o atendimento da população em geral, como o que eu estava, os avanços econômicos e científicos podem ser facilmente notados na modernidade e variedade dos seus equipamentos, assim como no seu quadro de especialistas.

Também pude perceber o significado mais profundo da força de uma rede familiar solidária enraizada na cultura chinesa que faz com que os momentos mais adversos os indivíduos sejam melhor amparados (inclusive financeiramente) e superem com menos dificuldades essas adversidades circunstanciais. No meu caso, além da família do irmão da minha esposa Ningning, parentes do seu pai que moram em uma cidade relativamente distante fizeram questão de se deslocar para transmitir, com presentes e um lindo buquê de flores, seus votos para uma pronta recuperação. Para mim, gestos simples mas com ensinamentos realmente duradouros.

Por outro lado, entendi mais profundamente o significado de algumas preocupações do presidente Xi Jinping quando ele diz, por exemplo, que é preciso evitar que os pobres voltem à pobreza por causa das doenças ou quando coloca a prosperidade comum no centro de suas preocupações.

E finalmente, gostaria de destacar dessa experiência a abnegação dos profissionais de saúde do Hospital de Medicina Tradicional Chinesa de Shaoxing que, independentemente de feriado ou dia normal, estão ali diuturnamente entregues ao seu trabalho de cuidar dos pacientes.

No meu quarto, uma senhora de 65 anos proveniente de uma área rural mais carente se recuperava de graves lesões que sofreu de uma batida de moto. Coincidentemente recebemos alta juntos. Tanto ela como eu, assim como os demais pacientes daquele longo corredor onde estávamos internados, fomos minuciosamente bem cuidados por uma equipe excepcional de enfermeiras. Também os médicos. No meu caso, o Dr. Hu Songfeng, responsável por minha cirurgia, além da operação, visitou-me outras vezes para acompanhar o meu processo de recuperação e pacientemente explicar (e demonstrar) para mim e minha esposa como proceder nesse processo de recuperação. Curiosamente, na saída para casa, encontro o Dr. Hu na porta do hospital onde aproveitou para recomendar alguns cuidados e reforçar os seus conselhos sobre os medicamentos e exercícios pós-operatórios. A todos do hospital minha gratidão.

Foto: Arquivo pessoal

Assim como o de 2007, o feriado nacional de 2021 trouxe-me lições que serão realmente inesquecíveis.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor