A iminência de golpe de Estado, entre nós, está sempre associada a intervenção militar e rupturas constitucionais.
O populismo de extrema-direita, que hoje toma o nome de bolsonarismo, não é fruto do acaso, nem jabuticaba em pé de goiabeira: sua emergência responde a uma necessidade do processo político brasileiro, marcado pela presença ativa de setores radicalmente conservadores de nossa sociedade cuja formação deita raízes na escravidão de negros e no genocídio das populações nativas.
Mais do que nunca se impõe a necessidade da formação orgânica de uma grande frente ampla de resistência ativa
O fundamental deve ser encontrar a tática correta de enfrentamento ao que aí está, e esta parece ser disputar o apoio perdido para a direita junto às grandes massas, desafio tanto maior quanto são ingratas as condições atuais de luta.
O fato objetivo, a cobrar nossa atenção, é o projeto autoritário protofascista, ao qual precisamos nos antecipar, para impedir que germine.
Denunciar o golpe de 1964 corresponde a dar um passo à frente na defesa da democracia, por definição um ente desarmado, pois em seu resguardo só se pode levantar a autoridade moral de um povo imbuído de consciência histórica.
O capitão da reserva remunerada Jair Messias Bolsonaro (condenado por haver atentado contra o decoro, a disciplina e a ética da carreira militar, da qual foi convidado a retirar-se) precisa ser detido, e de suas mãos precisam ser retiradas as condições atuais de intervenção política. Seu desequilíbrio (agravando inépcia e limitações cognitivas) requer a curatela das instituições que, até aqui omissas, ou acovardadas, aparentemente estão esperando o circo pegar fogo para só então chamar os bombeiros, esquecidas de que todos estamos sob as lonas. Elas inclusive, com seus mandatários e togados.
O país se desindustrializa. As exportações regridem. Mas os bancos fazem a festa.
Para além da mera oposição ao que aí está, o papel da esquerda é preparar-se para disputar poder, o que requer engenho e arte na construção de uma frente ampla, popular, democrática e progressista.
Trata-se de farsa ideológica e ética a grande imprensa brasileira tentar apresentar-se como isenta e independente face ao governo Bolsonaro, quando, de fato, o apoia, como apoiou o golpe de 1964 e a era Campos-Bulhões-Delfim, como apoia todo governo de força que promova o império do capital, efetivo condutor de seus movimentos.
“Longe de incentivar a economia e proteger o trabalho o governo liberal-autoritário restringe os direitos trabalhistas e desarticula a cadeia de proteção social”.