Marinha questiona privilégios, mas oficiais recebem até R$216 mil por mês
Estadão obteve dados em que oficiais em missões no estrangeiro recebem em dólares. Peça publicitária que questiona privilégios dos militares pegou mal com a população
Publicado 05/12/2024 18:13
No próximo dia 13 de dezembro é celebrado o Dia do Marinheiro. Para comemorar este dia a Marinha do Brasil aproveitou a oportunidade para questionar, em peça publicitária, se realmente os militares teriam privilégios em comparação com o restante da população. No entanto, pode se dizer que o comercial veiculado em 1 de dezembro ‘pegou mal’, ainda mais depois que o Estadão publicou matéria com salários de oficiais que recebem em dólar, sendo que um deles chegou a ganhar em um mês o referente a R$216 mil.
A exposição do vídeo aconteceu sob medida após o anúncio do ministro da Fazenda, Fernado Haddad, sobre corte de gastos que deverá afetar também as Forças Armadas. Além disso, especula-se que um dos fuzileiros da força que aparece nas imagens tenha sido escolhido para a peça pela semelhança com o próprio ministro. Para a Folha de São Paulo, a Marinha negou qualquer uso de inteligência artificial (IA) e contratação de atores. O jornal ainda utilizou de recursos tecnológicos para constatar que realmente nenhuma IA foi utilizada.
Entre os cortes que devem afetar os militares, incluindo os da Marinha, consta o fim da ‘morte ficta’ ou ‘fictícia (quando um militar é expulso das Forças e fica declarado morto, ainda vivo, para que familiares recebam pensão), o fim da transferência de pensão que fica limitada a filhos e cônjuge (atualmente é permitido transferir para outros parentescos após a morte do militar), estabelecimento de idade mínima para aposentadoria (reserva remunerada) com período de transição para estabelecer base nos 55 anos, assim como colocar em 3,5% a remuneração da contribuição para o Fundo de Saúde até 2026.
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Estes são só alguns dos benefícios que a categoria tem e que o governo pretende ajustar para que todas as parcelas da sociedade contribuam para o controle das contas públicas.
O impacto anual para os cofres públicos com a medida no Ministério da Defesa será de R$ 2 bilhões, sendo que a previsão é de que metade ocorra pelos cortes e a outra por meio da maior arrecadação com o Fundo de Saúde. O valor é ínfimo perto do total que o governo pretende economizar com a proposta inteira: R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026 e um total de R$ 327 bilhões para o período de 2025 a 2030. Ou seja, os militares estão reclamando de um corte que revisa alguns privilégios que o restante da sociedade não possui. Isto torna o vídeo que ainda está publicado nas redes sociais da Marinha, ainda mais infame (veja abaixo).
Ao chegarmos em dezembro, homenageamos os Marinheiros e Fuzileiros, que abdicam de suas famílias e dos momentos de lazer para proteger as riquezas do Brasil no mar. #DiaDoMarinheiro #VemPraMarinha pic.twitter.com/ItibdCLh3j
— Marinha do Brasil (@marmilbr) December 1, 2024
Privilégios?
Os militares da Marinha indicaram para a imprensa que o vídeo foi mal compreendido. No entanto, a falta de ‘interpretação’ que indicam fez com que a sociedade e os meios de comunicação levassem a sério o questionamento em tom irônico feito ao final da propaganda: “Privilégios? Vem para a Marinha!”.
A péssima repercussão ganhou as redes sociais com muitos internautas apontando os benefícios que o resto da sociedade não possui em relação aos militares como também os salários superiores à média da população. Por sua vez, o Estadão, via Portal da Transparência, resolveu constatar se membros da Força são realmente privilegiados.
Com isso, o jornal se deparou com remunerações em dólares para funções no exterior, que convertidas para o real chegam à casa dos seis dígitos. Conforme a reportagem, com dados referentes ao mês de agosto (o último com dados completos em formato aberto), o capitão-de-mar-e-guerra Alexandre Nonato Nogueira esteve no topo da lista de remuneração com o valor total de R$ 220,8 mil (valor já convertido com base nas verbas indenizatórias US$ 24.304 e remuneração após despesas US$ 12.194), ao prestar serviço na Ilha da Madeira, território de Portugal no Atlântico.
Depois vem o capitão-de-mar-e-guerra Leonardo Taumaturgo Pavoni, assessor do Conselheiro Militar na missão brasileira na ONU até o último 29 de setembro, com o valor de R$ 216,3 mil. Leonardo é irmão do contra-almirante Alexandre Taumaturgo Pavoni, diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), responsável pelo polêmico vídeo do Dia do Marinheiro.
A lista de remuneração em dólar feita pela Marinha abrange 821 militares. O total entre salários e verbas indenizatórias no mês de referência é de US$ 7,2 milhões, convertido em real na cotação utilizada do último dia 3 de dezembro o total fica em R$ 44 milhões. A lista publicada no jornal tem 42 cargos, todos com valores superiores a R$100 mil cada.
Imagem da Marinha
Este é mais um episódio de desabono à imagem da Marinha. Recentemente veio à tona que o único comandante das três forças armadas (na época dos fatos) a auxiliar uma tentativa de golpe de Estado com o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o Almirante Almir Garnier Santos, que colocou as tropas à disposição para atender ao pedido golpista, de acordo com ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Batista Júnior.
*Com informações Estadão