Uruguai vai ao segundo turno com Frente Ampla na liderança

Esquerda obtém maioria no Senado, mas direita pode ter vantagem na Câmara, caso se unam partidos da atual coalizão governista.

Yamandú Orsi e sua vice Carolina Cosse.

O Uruguai viveu neste domingo (27) um decisivo primeiro turno nas eleições presidenciais e legislativas, que deram à Frente Ampla (FA) a vantagem, mas não garantiram a vitória. O candidato Yamandú Orsi obteve 43,9% dos votos, uma liderança considerável, mas abaixo dos 50% necessários para vencer no primeiro turno. Orsi, que contou com o apoio do ex-presidente José “Pepe” Mujica, enfrenta agora um cenário de segundo turno, marcado para 24 de novembro, onde terá que buscar apoio adicional para vencer a coalizão governante.

O Partido Nacional, liderado por Álvaro Delgado, ficou em segundo lugar, com 26,7% dos votos, enquanto Andrés Ojeda, do conservador Partido Colorado, alcançou 16%. Apesar do crescimento do Partido Colorado, eles ficam fora da disputa final. Outras legendas, incluindo o Cabildo Abierto, tiveram menos de 5% dos votos, marcando um declínio significativo da direita nacionalista.

Em comparação com a última eleição, a FA cresceu de 39% para 43,8% –4,8 pontos–, o PN do presidente Lacalle Pou apresentou votação menor e passou de 28,6% para 26,9% –1,72 pontos– e o Partido Colorado aumentou a sua votação: passou de 12,4 % dos votos em 2019 para 16,1% – uma diferença de 3,7 pontos – nestas eleições.

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No caso dos partidos menores, também houve mudanças em relação à disputa de cinco anos atrás: o Cabildo Abierto, partido liderado por Guido Manini Ríos, caiu significativamente e passou de 11% para 2,5% dos votos –8,5 pontos. O Partido Ambientalista Constitucional, a Assembleia Popular e o Partido Ecologista Radical Intransigente votaram cerca de 0,5%, enquanto o Partido pelas Mudanças Necessárias e o Avanço Republicano votaram cerca de 0,1%.

Em Montevidéu, milhares de eleitores da Frente Ampla comemoraram com Orsi no calçadão costeiro da cidade, onde ele agradeceu o apoio e ressaltou a força da FA, reafirmando ser a coalizão mais votada no país. Já na Plaza Varela, Álvaro Delgado reuniu simpatizantes das legendas de centro-direita, ressaltando a importância da união entre as forças da coligação para o segundo turno. Delgado confirmou que nesta segunda-feira (28), os partidos da coalizão iniciarão discussões para estruturar a campanha de segundo turno, definindo também um programa comum.

Composição legislativa e reformas plebiscitadas

Além da disputa presidencial, foram eleitos os membros das duas câmaras legislativas: a Câmara dos Deputados, com 99 cadeiras, e o Senado, com 30. A Frente Ampla conquistou 47 cadeiras na Câmara, enquanto o bloco governante deve obter a maioria com o Partido Nacional, o Partido Colorado, o Cabildo Abierto e o Partido Independente. A novidade na Câmara dos Deputados é a entrada do partido de ultradireita que se diz “antissistema” Identidade Soberana, que conquistou duas cadeiras.

Os eleitores também votaram em duas propostas de reforma constitucional: uma sobre mudanças no sistema previdenciário e outra para permitir batidas policiais noturnas. Ambas as propostas foram rejeitadas, com apoio insuficiente para aprovação. A reforma previdenciária, que incluía mudanças como a redução da idade de aposentadoria para 60 anos, recebeu apenas 38,8% de apoio. A proposta sobre batidas noturnas teve um pouco mais, com 39,9% dos votos, mas também não atingiu o necessário.

As eleições transcorreram de forma pacífica, com participação de 90% dos eleitores. Desde a redemocratização em 1985, o Uruguai se consolidou como uma das democracias mais estáveis da América Latina e uma das 14 democracias plenas do mundo, segundo o índice da The Economist. Observadores internacionais não foram necessários, embora visitantes de diversos países tenham acompanhado o trabalho da Justiça Eleitoral uruguaia.

O ex-presidente Mujica, um dos primeiros a votar, fez um comentário sobre o foco econômico dos candidatos, lamentando a pouca atenção dada ao setor agrícola e ressaltando o papel da democracia. Em meio à campanha de segundo turno, o atual presidente Luis Lacalle Pou, que encabeçou listas ao Senado pelo Partido Nacional, reforçou seu compromisso com uma transição ordenada até o final do mandato.

O desafio do próximo governo

Com uma economia classificada como de “alta renda” e um Índice de Desenvolvimento Humano elevado, o Uruguai enfrenta desafios sociais, como a pobreza infantil, estimada em 20%, e questões de segurança pública. Embora o país apresente uma taxa de homicídios de 11,2 por 100 mil habitantes — menor que a de muitos países latino-americanos — ela ainda está distante de países comparáveis, como o Chile.

Com o segundo turno se aproximando, a Frente Ampla buscará intensificar seu apoio para assegurar a vitória, enquanto a coalizão governista tentará mobilizar os eleitores de centro e direita para manter o poder. Com a polarização das forças políticas e os desafios socioeconômicos, o Uruguai se prepara para mais uma rodada eleitoral decisiva.

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