Mais de meio milhão seguem sem luz em SP em meio a jogo de empurrar responsabilidades
Em campanha, o prefeito tem se desviado da responsabilidade pelos estragos causados pela falta de prevenção da administração municipal. Ministro de Minas e Energia cobra Aneel
Publicado 14/10/2024 09:59 | Editado 14/10/2024 16:03
No terceiro dia de apagão em São Paulo, 537 mil imóveis ainda seguem sem energia elétrica nesta segunda (14). Na capital, a falta de luz afeta 354 mil imóveis, de acordo com o balanço divulgado pela Enel no início da manhã.
Os bairros mais afetados neste momento são Jabaquara, Campo Limpo, Pedreira e Jardim São Luís, afirmou a concessionária.
O apagão atinge também municípios como Cotia (36,9 mil), Taboão da Serra (32,7 mil) e São Bernardo do Campo (28,1 mil).
A situação vexaminosa na maior e mais rica cidade da América Latina se desenrola em meio a um jogo de empurra entre a administração municipal, através do prefeito Ricardo Nunes (MDB), a empresa concessionária de energia na cidade, a Enel, e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que tem diretoria nomeada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em campanha para tentar se reeleger, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem se desviado da responsabilidade pelos estragos causados não só pela chuva, mas também pela falta de prevenção da administração municipal.
Nunes adotou a estratégia de tentar se eximir de culpa pelos transtornos, por um lado, mas também de aparecer na linha de frente da tentativa de normalizar os serviços da cidade, por outro. O prefeito procurou criticar o Executivo federal por não encerrar a concessão.
A fala de Nunes gerou uma reação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que questionou se as “árvores que caíram em cima das redes de energia também são de responsabilidade do governo federal”.
Adversário de Nunes no segundo turno da eleição à prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL) também criticou o prefeito por “falta de medidas preventivas” que poderiam atenuar os estragos.
Boulos afirma que Nunes “botou um coletinho para fingir que estava trabalhando. Mas nós estamos vendo aí”.
Além do prefeito, ele também criticou a demora da Enel em solucionar os problemas. “Uma parceria que é um terror para São Paulo. A gente está vivendo um apagão, um apagão que não é só de energia, mas um apagão de prefeito”, disse
Não é a primeira vez que São Paulo sofre com apagões. Em novembro de 2023, 2,1 milhões de clientes ficaram sem energia elétrica na região metropolitana. Houve casos em que residências e estabelecimentos comerciais ficaram sem luz por mais de uma semana.
A experiência, no entanto, não foi suficiente para que a atual prefeitura estivesse mais preparada para os eventos climáticos.
Nos vídeos publicados por Nunes, não há referência ao trabalho de gestão das árvores da cidade e de zeladoria, ações que poderiam diminuir o impacto da tempestade. Em um deles, o próprio Nunes afirma que há registro de 221 ocorrências de queda de árvores e galhos, além de 137 semáforos apagados.
Apesar de existir um alerta da Defesa Civil para tempestades com intensas rajadas de vento para a região, os canais oficiais da prefeitura de São Paulo não informaram a população sobre a situação. Não havia, tampouco, registro de preparo da cidade para o temporal.
Enel não cumpre protocolo de 2023
A Enel não cumpriu o plano de contingência para eventos climáticos extremos e colocou menos funcionários em campo do que o esperado após a tempestade que atingiu São Paulo, segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa.
Há pouco menos de um ano, São Paulo sofreu com uma tempestade severa que deixou milhares sem energia elétrica por vários dias. Após a crise, a Enel anunciou um plano para melhorar a qualidade do serviço. A promessa passava por contratar 1.200 novos empregados próprios em 12 meses e, assim, ampliar o número de funcionários em 31%. O último dado mostra que foram contratadas 176 pessoas – ou 4,6% da promessa.
No evento de 3 de novembro de 2023, demorou 24 horas para a concessionário recuperar 60% dos serviços interrompidos. Este mesmo patamar de 60% dessa vez foi atingido em 48 horas.
Ministro de Minas e Energia cobra celeridade da Aneel
Composta por membros nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a Agência Nacional de Energia Elétrica tem sido cobrada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Em reunião neste domingo (13), Silveira exigiu maior celeridade e pressão da agência sobre a Enel, a empresa concessionária.
De acordo com o MME, a Aneel claramente se mostra falha na fiscalização da distribuidora de energia, uma vez que o histórico de problemas da Enel ocorre reiteradamente em São Paulo e também em outras áreas de concessão da empresa.
Para o ministro, a agência reguladora não deu qualquer andamento ao processo que poderia levar à caducidade da distribuidora, requerido há meses pela pasta.
Silveira enviou ofício para o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa Neto, para marcar a reunião presencial, em São Paulo, onde ele estará pessoalmente “por determinação do presidente Lula”.
No ofício, enviado para solicitar “providências com relação ao histórico de falhas e transgressões da concessionária de distribuição Enel SP”, Silveira afirma que não aceitará “qualquer omissão” da agência reguladora, lembra que pediu em abril a abertura de processo administrativo e cobra um plano de emergência para “imediata resolução” do problema.