Gil faz show em Xangai pelos 50 anos da diplomacia Brasil e China
O cantor expressou sua preocupação com o ambiente de guerra que se espalha pelo mundo, e destacou o entusiasmo e alegria dos chineses em seu show
Publicado 08/10/2024 17:16 | Editado 10/10/2024 15:20
O renomado músico brasileiro Gilberto Gil fez um show memorável na noite desta segunda-feira (7) para cerca de 1.500 pessoas no Centro de Arte Oriental, em Xangai, China. A apresentação foi o ponto alto das comemorações dos 50 anos das relações diplomáticas entre Brasil e China. Gil, que está em sua turnê de despedida “Aquele Abraço”, fez questão de destacar a importância de sua presença em uma região sob risco de conflito, enfatizando a busca pela paz.
“Olha, o fato de eu vir de tão longe, de uma cultura tão distinta, para buscar esse intercâmbio, essa abordagem espiritual através da linguagem musical, é sinal de que eu sou um soldado desarmado, um soldado sem armas”, afirmou o cantor em entrevista à Folha de S. Paulo, ao ser questionado sobre a delicada situação geopolítica entre China e Taiwan, onde ele também se apresentou dias antes. “Espero que aqui [entre China e Taiwan] não entre em conflito armado”, completou, comparando a região com outras áreas de tensão global, como Gaza e Ucrânia.
A presença de Gil em Xangai foi resultado de negociações entre sua equipe e o Itamaraty, que começaram no ano passado, para incluir o artista nas celebrações do cinquentenário das relações sino-brasileiras.
Um dos pontos altos da entrevista foi a visão de Gilberto Gil sobre a China e seu povo. Para o cantor, o país, que nos últimos anos se consolidou como uma das maiores potências econômicas do mundo, carrega um legado cultural de proporções impressionantes. “Mais recentemente, com o desenvolvimento econômico pulsante, sua presença mundial se tornou mais nítida, intensa. A China hoje rivaliza com os grandes países ocidentais e tem um papel importantíssimo no mundo”, disse ele, ressaltando o impacto do país no cenário global.
Durante o show, Gil fez uma apresentação nostálgica, repleta de sucessos como “Expresso 2222” e “Aquele Abraço”, acompanhada por dois de seus filhos e dois netos. A neta Flor Gil, de 16 anos, teve participação de destaque, não apenas apoiando o avô nos vocais, mas também cantando músicas como “Moon River” e “Choro Rosa”, composta por ela mesma. A jovem vem acompanhando o avô em turnês desde os dez anos e descreveu essa etapa na Ásia como uma experiência nostálgica, destacando que será a última vez que poderá se apresentar com Gil, devido a compromissos escolares em Nova York.
Após o show, o músico foi mais específico em relação à recepção do público chinês, descrevendo os asiáticos como “entusiastas” em suas manifestações culturais, mas com nuances distintas entre as diferentes nações. “Os chineses são dos mais entusiastas que a gente pode encontrar, muito mais do que os japoneses, por exemplo. A China é mais alegre do que o Japão”, destacou Gil, sugerindo que a China e o Japão representam símbolos importantes da vida cultural asiática, mas com abordagens emocionais distintas.
Sobre sua turnê e a presença da família, Gil afirmou que a música é um elo que une seus familiares e reforça os valores em torno dos quais eles se mantêm coesos. Ele acredita que, em momentos de crise global, o papel da família pode ser fundamental para promover valores positivos e restauradores.
A turnê de despedida de Gil ainda tem mais uma parada na Ásia, com um show previsto para a Coreia do Sul. Após o concerto em Xangai, o artista e sua trupe familiar aproveitarão dois dias de descanso na cidade.
Ao ser questionado sobre as eleições para prefeito no Brasil, Gil comentou que o país continua polarizado entre as forças políticas que sustentam Lula e Jair Bolsonaro. Para ele, essa divisão é parte de um contexto global, resultado de resquícios do colonialismo europeu e da Revolução Soviética, que continuam moldando as correntes ideológicas e políticas em diversas partes do mundo. Contudo, Gil se mostrou otimista ao afirmar que o mundo caminha para “processos harmonizadores cada vez maiores”.
O evento foi organizado pelo Consulado-Geral do Brasil em Xangai e pela rede de restaurantes brasileiros Latina, com apoio de empresas como Vale, Suzano e Huawei. Embora a data oficial dos 50 anos das relações Brasil-China tenha sido 15 de agosto, as comemorações se estenderam ao longo do ano, com uma concentração de eventos culturais em Xangai, cidade que se destaca como um dos principais centros culturais da China.