Quaest vê empate técnico entre Nunes, Boulos e Marçal em SP

Com 23% das intenções de voto, Boulos tem maior votação espontânea, com chances de avançar entre eleitorado de centro.

21/09/24 - Carreata Guaianases Créditos: Leandro Paiva/@leandropaivac

A mais recente pesquisa Quaest, divulgada nesta terça-feira (24), revela um cenário altamente competitivo para as eleições municipais de São Paulo em 2024, com os três principais candidatos — Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) — empatados tecnicamente na liderança. Nunes aparece com 25% das intenções de voto, seguido por Boulos com 23% e Marçal com 20%. A margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos confirma o equilíbrio entre os três.

A pesquisa espontânea, na qual os eleitores não são apresentados a uma lista de candidatos, reforça o cenário fragmentado, mas traz Boulos liderando com 16%, seguido por Marçal e Nunes, ambos com 14%. A alta taxa de indecisos (46%) na pesquisa espontânea revela um eleitorado que ainda não se decidiu completamente, o que sugere que as estratégias de convencimento nas próximas semanas serão cruciais.

Outro fator que favorece Boulos é sua provável chegada ao segundo turno, quando começa uma nova campanha. A polaridade entre dois candidatos, afastando as distrações do excesso de perfis de primeiro turno, torna a diferença entre as propostas mais clara. Há ainda a possibilidade de ampliação de alianças.

Evolução e estabilidade nas intenções de voto

Em relação à pesquisa anterior, de 18 de setembro, as variações nas intenções de voto foram mínimas. Ricardo Nunes oscilou de 24% para 25%, mantendo uma ligeira vantagem. Boulos permaneceu com os mesmos 23%, enquanto Pablo Marçal também manteve seus 20%. Essas variações mostram que, até o momento, nenhum candidato conseguiu romper o empate técnico, o que indica que as campanhas ainda têm um longo caminho para consolidar um favorito claro.

A estagnação nas intenções de voto sugere que, apesar da visibilidade e do debate eleitoral em curso, os três principais candidatos não conseguiram expandir significativamente suas bases de apoio. O fato de que 7% dos eleitores continuam indecisos, e que 9% pretendem votar em branco ou nulo, aponta para uma disputa ainda em aberto.

A disputa pelos votos indecisos e de centro

Ricardo Nunes, atual prefeito, tem a vantagem de disputar a reeleição, o que lhe garante uma certa visibilidade e o apoio de eleitores que priorizam a continuidade. No entanto, seu desafio será consolidar uma base eleitoral que, até o momento, não se apresenta estável, especialmente quando comparado com seus adversários mais polarizadores.

Segundo análise do diretor da Quaest, Felipe Nunes, sobre o perfil do eleitor de São Paulo, Boulos mantém-se como o candidato preferido do eleitorado identificado com o lulismo e o petismo, base consolidada na capital paulista. Seu principal desafio será ampliar o apoio para além desse eleitorado, atraindo eleitores de centro e da classe média, que têm mais resistência ao PSOL.

Já Pablo Marçal surgiria como a surpresa da disputa, consolidando-se como o representante do bolsonarismo na cidade. Seu crescimento nas pesquisas indica que ele tem sido eficaz em mobilizar o eleitorado de direita, mas sua alta taxa de rejeição — que saltou para 50% — pode ser um obstáculo difícil de superar em um eventual segundo turno.

O segundo turno: Nunes com vantagem

Nos cenários simulados de segundo turno, Ricardo Nunes aparece com vantagem tanto contra Boulos quanto contra Marçal. Contra Boulos, Nunes lidera por 49% a 32%, ampliando sua vantagem em relação à pesquisa anterior. Contra Marçal, o prefeito também lidera confortavelmente, com 52% contra 25%.

Esses números sugerem que Nunes tem a vantagem de captar votos de eleitores que não se alinham nem com a esquerda de Boulos, nem com a direita de Marçal, tentando consolidar-se como uma opção de centro moderad

o. Essa possibilidade só foi possível conforme Marçal foi perdendo esse apoio com suas intervenções agressivas e irresponsáveis em debates.

No cenário entre Boulos e Marçal, o candidato da esquerda está à frente numericamente (41% contra 36%), dentro da margem de erro. Esse embate reflete a polarização do eleitorado paulistano, dividido entre a esquerda e a nova direita representada por Marçal.

Rejeição: o grande desafio

A taxa de rejeição é um dos indicadores mais relevantes nesta fase da campanha. Datena (PSDB), que já figurou como um candidato competitivo, despencou para 6% nas intenções de voto e enfrenta uma rejeição de 68%, o que praticamente inviabiliza sua candidatura.

Já Boulos e Marçal enfrentam rejeições de 50%, patamar que, segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, é considerado próximo ao limite, mas mantem a viabilidade da candidatura. A rejeição de Marçal foi a que mais cresceu entre uma pesquisa e outra, refletindo a polarização que sua candidatura representa.

Boulos também viu sua rejeição subir de 46% para 50%, o que pode ser um sinal de resistência de eleitores mais conservadores à sua figura associada à esquerda. Nunes, por outro lado, tem a menor rejeição entre os principais candidatos (39%), o que lhe confere uma vantagem importante em uma disputa acirrada.

Tabata Amaral (PSB), que subiu para 8% nas intenções de voto, também se beneficia de uma rejeição relativamente baixa (36%), o que pode abrir espaço para crescimento em um cenário onde os eleitores busquem alternativas menos polarizadoras.

Mais eleitores convictos, mas ainda com espaço para mudanças

A pesquisa também revelou um aumento significativo no número de eleitores que dizem ter uma decisão de voto definitiva. Agora, 61% afirmam que sua escolha é final, contra 54% na pesquisa anterior.

Entre os eleitores de Pablo Marçal e Guilherme Boulos, 71% dizem que a decisão é definitiva, um sinal de que seus respectivos eleitores estão convictos. Mesmo assim, ainda há 38% dos eleitores que podem mudar de ideia, o que indica que as próximas semanas de campanha serão decisivas.

Os debates, especialmente após a agressão ocorrida no debate de segunda-feira (23), que não foi captada pela pesquisa, podem influenciar significativamente esses eleitores indecisos.

O debate organizado pelo Grupo Flow em parceria com o Grupo Nexo, da Faculdade de Direito da USP, ficou marcado pela expulsão de Pablo Marçal por desrespeito às regras já na reta final do evento, durante as considerações finais. Em outros momentos, houve também ataques pessoais. Um integrante da equipe de Marçal chegou a agredir o marqueteiro do prefeito Ricardo Nunes. 

O empate técnico entre Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal torna a corrida pela Prefeitura de São Paulo uma das mais imprevisíveis dos últimos anos. Com a polarização evidente e uma base significativa de eleitores ainda indecisos, as próximas semanas serão cruciais para definir o rumo da disputa.

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