Vazamentos visaram pôr em xeque investigações de Moraes, diz PGR

Em depoimento à PF, ex-assessor do TSE afirmou que celular ficou sob custódia da Polícia Civil de SP, desbloqueado, sem a necessidade de senha para acesso ao conteúdo

Foto: Alejandro Zambrana/TSE

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou nesta quinta (22) que o vazamento de mensagens de servidores do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF (Supremo Tribunal Federal) teve como objetivo colocar em dúvida as investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes. A suspeita de participação da Polícia Civil de São Paulo no vazamento foi um dos motivos que levaram o ministro a determinar uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre o caso.

“Na espécie, o vazamento seletivo de informações protegidas por sigilo constitucional, recentemente publicizado por meio de veículos de comunicação, teve o nítido propósito de tentar colocar em dúvida a legitimidade e a lisura de importantes investigações que seguem em curso no Supremo Tribunal Federal, como estratégia para incitar a prática de atos antidemocráticos e tentar desestabilizar as instituições republicanas”, disse o PGR decisão que avalizou a ordem de apreensão do celular de Tagliaferro.

Ele disse ainda que a apreensão era relevante “para que se possa identificar os autores dos vazamentos criminosos praticados e cessar as práticas delitivas, para resguardar a segurança e a lisura de importantes trabalhos investigativos que estão a serviço da coletividade”.

O ex-assessor de Moraes confirmou nesta quinta, em depoimento a PF, que seu aparelho celular ficou sob a responsabilidade da Polícia Civil de São Paulo durante seis ou sete dias, desbloqueado, sem a necessidade de senha para acesso ao conteúdo.

Em maio de 2023, Tagliaferro chegou a ser preso após um flagrante por violência doméstica. Na ocasião, o celular ficou sob custódia da Delegacia Seccional de Franco da Rocha, na Grande São Paulo.

Tagliaferro foi alvo de uma série de reportagens da Folha de S.Paulo, assinada pelos jornalistas Fabio Serapião e Glenn Greenwald, em que o jornal tentou atingir as decisões do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes por supostas ações “fora do rito” ao utilizar estrutura do TSE para apurar ações golpistas do bolsonarismo.

De acordo com a Folha de S.Paulo, os jornalistas tiveram “acesso a mais de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares de Moraes, entre eles o seu principal assessor no STF, que ocupa até hoje o posto de juiz instrutor (espécie de auxiliar de Moraes no gabinete), e outros integrantes da sua equipe no TSE e no Supremo”.

O jornalista Rodrigo Viana, do ICL, teve acesso a dois registros oficiais da polícia paulista que sugerem que o volume de informações obtidos por Serapião e Greenwald advém da apreensão do celular de Tagliaferro.

Ainda enquanto o perito era ouvido em Caieiras, na Grande São Paulo, a deputada Zambelli, informada do caso e sabendo de quem se tratava, publicou no Twitter que “o assessor de um homem poderoso no Brasil está na delegacia, porque tentou matar a esposa, dando vários tiros dentro de caso ontem a noite”.

“A polícia pode dizer que procurava no aparelho provas ou indícios de brigas ou ameaças do perito contra a esposa. Mas foi só isso? E por que Zambelli se apressou em politizar o caso de violência doméstica? Outra pergunta fundamental é: por que Tagliaferro foi preso no dia 8 à noite, e o celular dele só foi apreendido depois? A polícia levou quase 24h para ter um súbito interesse pelo conteúdo guardado no telefone?”, questiona Rodrigo Viana, do ICL.

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