Polícia de SP ficou seis dias com celular apreendido de assessor de Moraes

Informação revelada pelo ICL sugere que as mensagens publicadas pela Folha de S.Paulo para descreditar a atuação de Moraes no TSE podem ter sido obtidos pela polícia de Tarcísio

O ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, Eduardo Tagliaferro (de terno), e Airton Vieira, juiz instrutor de Alexandre de Moraes no STF, acusados pela Folha de S.Paulo por atuação "fora do rito" - Reprodução

O celular de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor-chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação), do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ficou sob a posse da Polícia Civil de São Paulo ao menos por seis dias. A informação é do portal ICL Notícias que ainda apurou que a deputada bolsonarista Carla Zambelli foi avisada da ocorrência.

Tagliaferro foi alvo de uma série de reportagens da Folha de S.Paulo, assinada pelos jornalistas Fabio Serapião e Glenn Greenwald, em que o jornal tentou atingir as decisões do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes por supostas ações “fora do rito” ao utilizar estrutura do TSE para apurar ações golpistas do bolsonarismo.

De acordo com a Folha de S.Paulo, os jornalistas tiveram “acesso a mais de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares de Moraes, entre eles o seu principal assessor no STF, que ocupa até hoje o posto de juiz instrutor (espécie de auxiliar de Moraes no gabinete), e outros integrantes da sua equipe no TSE e no Supremo”.

O jornalista Rodrigo Viana, do ICL, teve acesso a dois registros oficiais da polícia paulista que sugerem que o volume de informações obtidos por Serapião e Greenwald advém da apreensão do celular de Tagliaferro.

O perito do TSE foi preso no dia 9 de maio pela polícia paulista após ser denunciado pela esposa por violência doméstica com arma de fogo. Seguida da ordem de prisão, o cunhado de Tagliaferro levou o aparelho celular a uma delegacia da polícia paulista, chefiada pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas.

Ainda enquanto o perito era ouvido em Caieiras, na Grande São Paulo, a deputada Zambelli, informada do caso e sabendo de quem se tratava, publicou no Twitter que “o assessor de um homem poderoso no Brasil está na delegacia, porque tentou matar a esposa, dando vários tiros dentro de caso ontem a noite”.

“A polícia pode dizer que procurava no aparelho provas ou indícios de brigas ou ameaças do perito contra a esposa. Mas foi só isso? E por que Zambelli se apressou em politizar o caso de violência doméstica? Outra pergunta fundamental é: por que Tagliaferro foi preso no dia 8 à noite, e o celular dele só foi apreendido depois? A polícia levou quase 24h para ter um súbito interesse pelo conteúdo guardado no telefone?”, questiona Rodrigo Viana, do ICL.

“O fato é que só no dia 15/05/23 o aparelho foi devolvido a Tagliaferro. A polícia de Tarcísio passou seis dias com o celular à disposição. Foram extraídos todos os dados do aparelho? Ou só aqueles que interessavam à investigação sobre violência doméstica?”, completa.

Sem citar a reportagem de Viana, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria afirmando que o celular apreendido pela Polícia Civil foi lacrado, segundo consta no Boletim de Ocorrência lavrado no próprio dia 9 de maio.

Segundo Viana, “jornalistas experientes entenderam a publicação da seguinte forma: a Folha passou um recibo gigante”.

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