Itamaraty adota ação afirmativa para mulheres em concurso

A mudança visa equiparar o percentual de admitidas na carreira com o total de inscritas. O objetivo de que pelo menos 40% dos aprovados sejam mulheres.

Palácio do Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Pela primeira vez na história, o concurso do Itamaraty para a carreira de diplomata terá ação afirmativa de gênero. Haverá a convocação adicional de até 75 candidatas para a segunda das duas fases da prova, com o objetivo de que pelo menos 40% dos aprovados para essa etapa sejam mulheres.

Atualmente, de acordo com dados de 2003 a 2023 do ministério das Relações Exteriores, cerca de 40% dos candidatos inscritos no concurso são mulheres, entretanto, elas são apenas 26% dos aprovados na prova. Na última edição do concurso, 44% dos inscritos eram mulheres, mas entre os aprovados só havia 32% de mulheres.

Das 75 vagas adicionais liberadas para mulheres na segunda etapa, 35 serão destinadas à ampla concorrência, 35 serão pretas ou pardas e até cinco serão inscritas na cota para pessoas com deficiência. Apesar das mudanças nas cotas, os conteúdos das disciplinas cobradas continuam os mesmos. 

A prova para diplomacia do Itamaraty é uma das mais competitivas do país. No ano passado, conforme informa o Instituto Rio Branco, foram 159 candidatos por vaga, enquanto no vestibular para medicina na USP, foram 117 inscritos por posição disponível. 

A motivação para adoção das cotas de gênero está na tentativa de corrigir desigualdades históricas que se reproduzem até o dia de hoje. Dados do estudo de Estatísticas de Gênero do IBGE mostram que o tempo disponível para estudos de mulheres e de homens é diferente, já que existe muito mais cobrança sobre as mulheres quando o assunto está ligado às tarefas domésticas.

Os especialistas apontam que mulheres passam, em média, 21,3 horas por semana dedicadas às tarefas do lar, tempo quase duas vezes maior do que o dos homens, que ficam em média 11,7 horas semanais ocupados com afazeres domésticos. Dessa forma, a dedicação exclusiva aos estudos já se mostra comprometida para elas. 

Mesmo nas camadas mais ricas da sociedade, essa desigualdade se mantém. Para os 20% mais ricos do país, são 15,2 horas semanais dedicadas às tarefas de casa pelas mulheres, enquanto os homens passam cerca de 10,7 horas semanais ocupados com esse tipo de trabalho. 

As responsabilidades ligadas à casa, aos cuidados com filhos e familiares caem majoritariamente sobre as mulheres. Quando pensamos no estilo de vida nômade da diplomacia, as obrigações sociais ligadas à família se tornam peso ainda maior, afastando-as da carreira. 

Apesar do retrato demográfico brasileiro, no qual mulheres representam mais da metade da população, atualmente, o corpo diplomático brasileiro é composto apenas por 23% de mulheres. 

Autor