Cientistas alertam para impactos das mudanças climáticas na Amazônia

Situações como a do ano passado, quando se registrou a maior vazante dos últimos 120 anos, serão mais comuns na região

(esq. à dir.) João Valsecchi, Inamara Mélo e Adalberto Val (Foto: Diego Galba/Ascom/MCTI)

Em decorrência das mudanças climáticas no planeta, as águas dos rios da Amazônia já estão mais quentes, com menos oxigênio, mais ácidas e com seca mais intensas. Situações como a do ano passado, quando se registrou a maior vazante dos últimos 120 anos, serão mais comuns na região.

O alerta foi feito pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) Adalberto Luis Val durante o painel “Mudanças climáticas e os riscos da Amazônia” da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI) que começou nesta terça-feira, no Espaço Brasil 21, em Brasília.

“Situações desse tipo passaram a ser muito comuns na região, fruto de variações extremamente significativas do El Niño. O que vimos foi uma diminuição brutal do volume de água na superfície e uma amplitude crescente de cheias e vazantes na região”, diz o cientista, que coordenou os debates.

Para ele, os desafios na Amazônia não podem ser considerados à luz dos cenários existentes nos grandes centros mundiais.

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“Precisam ser dimensionados e mitigados de acordo com informações científicas e específicas”, disse, cobrando maior investimento em infraestrutura de pesquisa na região que só possui três instituições que trabalham com produção científica.

A coordenadora-geral de Adaptação e Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Inamara Mélo, diz que as mudanças climáticas já são uma realidade, apesar do “negacionismo” que ainda persiste.

“Tem uma turma que acredita ainda que é uma coisa de ativista. A emergência climática é uma realidade e precisamos apontar para o desenvolvimento com uma lente climática bastante focada. Todos os cenários de aquecimento global mostram o quanto precisamos avançar rapidamente com metas mais ousadas da redução das emissões de gases do efeito estufa”, defendeu.

Ela apresentou números preocupantes. Por exemplo, dos 450 municípios da região Norte, 185 tem risco alto ou muito alto para inundações, enxurradas e alagamentos. 399 têm índices de vulnerabilidade alto e muito alto ao impacto das mudanças climáticas em sistemas socioecológicos.

“Na área de saúde, 246 municípios têm risco alto ou muito alto das mudanças climáticas considerando o desfecho em malária. Isso eu estou falando de cenário para agora. Eu fiz questão de não colocar futuro porque vai se agravar, mas a gente está precisando de uma agenda que seja urgente para esse processo”, afirmou.

Mamirauá

O diretor-geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, João Valsecchi, disse que o negacionismo climático está cada vez mais difícil de ser mantido, porque as evidências são tantas que, até quem quer falar por interesse próprio, tem dificuldade de manter o discurso.

Ele apresentou um estudo do pesquisador do órgão Ayan Fleischmann que registra contraste hidroclimático na Bacia do Amazonas.

“Hoje o que a gente observa é que a Calha Norte está sofrendo com mais chuvas e a parte sul do Amazonas está passando por um processo de aceleração, que tem tantos eventos extremos de maior umidade quanto eventos extremos de seca”, explicou.

O diretor do Mamirauá lembrou que a mídia focou nos botos mortos no Lago de Tefé, mas o impacto da seca isolou milhares de pessoas nas áreas urbanas e rurais da região.

“O paradoxo da Amazônia: muita água, mas muita gente passando sede. É preciso investir em cisternas de captação de água da chuva e distribuir kits de tratamento emergencial de água. O imenso desafio é o tratamento de esgoto”, propôs.

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