Kamala Harris deve substituir Biden na chapa democrata à presidência dos EUA
Os democratas entram em novo processo para unificar o partido em torno de um nome para enfrentar o ex-presidente e republicano Donald Trump em novembro
Publicado 22/07/2024 10:50 | Editado 22/07/2024 14:40
Depois de muita pressão, o presidente Joe Biden anunciou neste domingo (21) que não irá aceitar a indicação das primárias do partido democrata, renunciando a candidatura para a eleição presidencial dos Estados Unidos, em 5 de novembro de 2024.
Os democratas agora entram em um novo processo para unificar o partido em torno de outro nome para enfrentar o ex-presidente e republicano Donald Trump.
“Foi a maior honra da minha vida servir como seu presidente. E embora tenha sido minha intenção buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me afaste e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato”, escreveu Biden.
Em outro comunicado neste domingo, Biden disse apoiar a atual vice-presidente Kamala Harris para liderar a chapa democrata.
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“Hoje quero oferecer todo o meu apoio e endosso para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano. Democratas – é hora de nos unirmos e derrotar Trump”, afirmou o presidente.
A vice-presidente Kamala Harris reagiu ao apoio de Biden e afirmou que irá lutar pela indicação do partido. “Me sinto honrada por ter o apoio do presidente, e minha intenção é merecer e conquistar esta indicação”, disse.
“Farei tudo o que estiver ao meu alcance para unir o Partido Democrata – e unir a nossa nação – para derrotar Donald Trump e a sua agenda extrema do Projeto 2025”, completou.
O presidente do Comitê Nacional Democrata, Jaime Harrison, disse que “nos próximos dias”, o partido “empreenderá um processo transparente e ordenado para avançar unificado para um candidatura capaz de derrotar Donald Trump em novembro”.
Harrison disse em uma declaração no domingo: “À medida que avançamos para selecionar formalmente o indicado do nosso partido, nossos valores como democratas permanecem os mesmos — reduzir custos, restaurar a liberdade, proteger os direitos de todas as pessoas e salvar nossa democracia da ameaça da ditadura.”
Apesar da mobilização pós desistência de Biden, a definição oficial será apenas em agosto, durante a Convenção Nacional Democrata, a partir do dia 19.
A atual vice-presidente, Kamala Harris precisa do apoio de 1.969 dos 3.936 delegados democratas para garantir sua indicação na convenção.
Ainda que a indicação democrata deva demorar até o mês que vem para se oficializar, a atual vice-presidente recebeu uma série de apoio de correligionários. O ex-presidente Bill Clinton e sua esposa, Hillary Clinton, decretaram apoio a vice-presidente logo nas primeiras horas. Além deles, os presidentes estaduais do partido democrata de todos os 50 estados dos EUA apoiam Kamala Harris.
Desde o momento em que a candidatura de Biden começou a sofrer críticas mais duras – o principal marco para a acentuação delas foi o debate contra Donald Trump do dia 27 de junho – institutos americanos fizeram pesquisas simulando um confronto entre Kamala e Trump nas urnas.
A pesquisa da empresa democrata Bendixen & Armandi deu vitória de Kamala sobre Trump por 42% a 41%, com uma margem de erro de 3,1%, em um levantamento feito dia 9 de julho e noticiado pelo site Politico.
Pressão pela desistência de Biden
A pressão pela desistência da candidatura de Joe Biden passou a ser intensa após o desempenho catastrófico no primeiro debate da corrida presidencial, em 27 de junho, organizado pela CNN.
Em março, o chefe da Casa Branca conquistou o número necessário de delegados para ser o candidato presidencial pelo partido Democrata, superando a marca de 1.968 delegados.
Naquele ponto da corrida eleitoral, o democrata obtinha maior unidade dentro do seu partido do que seu adversário Donald Trump. Trump ainda teve que participar de debates dentro do partido Republicano contra pré-candidatos como Ron deSantis e Nikki Haley.
No entanto, com o passar dos meses, Biden começou a evidenciar que sua capacidade cognitiva estava, de fato, definhando. Foram inúmeros os casos de confusão mental antes do debate da CNN.
Em junho de 2023, ao se referir ao conflito entre Rússia e Ucrânia, Biden disse que o presidente russo estava “perdendo a guerra no Iraque”.
Em fevereiro, um dia após confudir o atual Emmanuel Macron com François Mitterand, o americano chamou o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, de presidente do México.
O debate televisivo em junho, no entanto, foi o pior golpe para as intenções da campanha de Joe Biden. O democrata chegou a se hospedar durante quase uma semana em Camp David, um retiro dos presidentes americanos, se preparando para o crucial debate.
Durante o debate, Biden apresentou voz rouca — atribuída a um resfriado —, pouco entusiasmo e hesitou em diversos momentos. Trump, por outro lado, despejou uma série de mentiras com calma e de forma assertiva, sem ser corrigido por Biden.
Após a calamitosa performance de Biden, a imprensa norte-americana citou o estado de pânico entre os democratas. Colegas de partido se preocuparam com a capacidade do presidente para mais um mandato.
Até este sábado (20), 34 congressistas democratas pediram publicamente para Biden encerrar sua candidatura à reeleição –12 deles apenas nas últimas 48 horas.
Eles representavam mais de um em cada dez democratas no Congresso americano, em que o Partido Democrata de Biden controla 213 cadeiras na Câmara dos Deputados e 51 no Senado.
Democratas do alto escalão do partido, como o ex-presidente Barack Obama e a presidente emérita Nancy Pelosi, também atuaram nos bastidores para que Biden retirasse a candidatura.
Diversas campanhas de arrecadação de fundos estavam paralisadas, segundo fontes democratas em deppoment à Reuters na última sexta (19). De acordo com elas, a campanha arrecadou em julho apenas a metade dos US$50 milhões em doações para o Fundo da Vitória de Biden.
Reação democrata à renúncia de Biden
O ex-presidente Barack Obama se manifestou sobre a desistência de Biden da corrida eleitoral. Em um comunicado publicado na plataforma Medium, o democrata classificou o atual presidente como “um patriota da mais alta ordem”. Biden foi vice-presidente na gestão Obama entre 2009 e 2017.
No entanto, Obama não declarou de imediato apoio a Kamala em seu pronunciamento pós-desistência de Biden.
“Navegaremos por águas desconhecidas nos próximos dias,” disse Obama em uma declaração. “Mas tenho uma confiança extraordinária de que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual um nomeado excepcional emerja.”
Diferente de Obama, o ex-presidente Bill Clinton e sua esposa, Hillary Clinton, são os maiores nomes do partido que apoiaram Kamala até o momento.
Eles disseram que “farão o que puderem para apoiá-la” e que “agora é a hora de apoiar Kamala Harris e lutar com tudo o que temos para elegê-la. O futuro da América depende disso”.
Além deles, os presidentes estaduais do partido democrata de todos os 50 estados dos EUA apoiam Kamala Harris.