Repeteco especulativo

A nacionalização das eleições municipais varia conforme a geopolítica local, a tradição de luta e a organização de forças políticas, mostrando a complexidade do pleito.

Foto: SOPA Images/LightRocket via Gett

Participo de eleições municipais desde 1985, quando se restaurou o pleito direto para prefeito, antes interditado pela ditadura militar. 

Eu já vinha da minha própria eleição como deputado estadual em 1982. 

De lá para cá são muitas campanhas acumuladas. 

E algumas impressões tipo déjà-vu.

Caso da especulação sobre em que medida o pleito será principalmente “municipalizado” ou “nacionalizado”.

Depende de alguns fatores, parece óbvio. Entre os quais a dimensão das cidades, sobretudo, sua importância geopolítica em cada estado, tradição de luta, presença maior ou menor de forças políticas e sociais organizadas. 

Caso das capitais e cidades de 200 mil habitantes para cima. 

Pode ser que sim, pode ser que não. 

Recife, por exemplo, tem tradição de disputas altamente politizadas, marcadas pela polarização entre direita e esquerda — ainda que as candidaturas eventualmente não tenham precisamente esses perfis. 

Aí se pergunta sobre em que medida fatores nacionais — como os prestígios conflitantes de Lula e Bolsonaro — serão decisivos ou não. 

Decisivos propriamente creio que não. Forte influência poderão exercer. 

É preciso enfrentar o episódio eleitoral em cada cidade média e grande do país com o espírito aberto, sem hipóteses pétreas pré-concebidas e atentos ao real nível de consciência política do grosso do eleitorado. 

Mas assim mesmo toda previsão é temerária, pois há fatos fortuitos que poderão surgir no curso da batalha e mudar o rumo da maioria do eleitorado. 

No pleito de 2000, no Recife, ninguém em sã consciência poderia imaginar a derrota do então prefeito, o ex-governador Roberto Magalhães, à testa de poderosa conjugação de forças políticas e econômicas. 

Mas ele perdeu. 

A esquerda venceu com a chapa João Paulo (PT) prefeito e Luciano Siqueira (PCdoB) vice.

Havia um novo sopro progressista crescente no país que chegou a influenciar a capital pernambucana. 

E ocorreram erros capitais praticados por Roberto Magalhães (PFL).  

Um deles foi invadir a redação do Jornal do Commércio e ameaçar um jornalista com revólver em punho.

Por um triz o pleito foi ao segundo turno e vencemos por 5.835 votos de um total de cerca de 700 mil eleitores.

Na prática, sob a confluência do ambiente político nacional com a peculiar disputa local. 

Casos assim se registram pelo país afora, às centenas.

Isso determina o limite das atuais pesquisas empenhadas em verificar o peso do chamado “fator nacional” no pleito deste ano. 

De toda forma, os vários institutos que entrevistam eleitores contribuem para alimentar o debate. O que, em certa medida, ajuda na elevação do nível de consciência política do eleitorado.

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