Mais de 200 candidatos se retiram do 2º turno na França para isolar extrema direita
O campo da esquerda foi onde mais se registraram as desistências, com 131 retiradas de candidaturas ante 82 da coligação de Macron. Entenda a estratégia conhecida como “cordão sanitário”
Publicado 03/07/2024 09:28 | Editado 03/07/2024 20:14
Na tentativa de barrar a chegada inédita da extrema-direita ao poder na França, 218 candidatos classificados para o segundo turno das eleições legislativas, marcado para o próximo domingo (7), desistiram das disputas envolvendo três ou mais candidatos.
Das 218 desistências, 131 são do campo da esquerda, liderado pela Nova Frente Popular (NFP), e 82 da coligação do presidente Emmanuel Macron, o Juntos (Ensemble, em francês).
O sistema político francês divide o país em 577 círculos eleitorais, cada um deles representado por apenas um deputado. Para ser eleito, o deputado precisa conquistar maioria simples (50% + 1 voto) no 1º turno ou ser o mais votado (proporcionalmente) em um 2º turno disputado não apenas por dois, mas pelo número de postulantes que alcançar um mínimo de 12,5% dos votos.
Essa peculiaridade da política francesa cria a possibilidade das chamadas disputas triangulares — quando há três candidatos no 2º turno.
Para evitar a chegada ao poder do Reunião Nacional (RN), partido de extrema direita, liderado por Marine Le Pen e seu pupilo, Jordan Bardella, os partidos do campo democrático pretendem isolar os candidatos do RN em uma estratégia conhecida na França como “cordão sanitário”.
Ela já foi usada em outros pleitos em que a extrema direita chegou ao 2º turno com chances de vitória, como em 2002, quando o candidato de direita Jacques Chirac, dos Republicanos, recebeu apoio de partidos de centro e esquerda para derrotar Jean-Marie Le Pen, da então Frente Nacional.
Dos 577 assentos em disputa, 306 iriam para o segundo turno com uma disputa triangular. No entanto, após a evocação do cordão sanitário restaram apenas 100 disputas nesse molde até às 18h do horário local, prazo dado aos candidatos manterem ou não as inscrições.
Logo após o fim do primeiro turno, no último domingo (30), a esquerda se antecipou e foi muito clara: retiraria as candidaturas em todos os círculos eleitorais onde o RN ficou em primeiro lugar, e um candidato da Nova Frente Popular ficou em terceiro (ou quarto). O mesmo valeria para os círculos eleitorais em que um candidato do RN ficou na segunda posição, mas a manutenção do candidato da NFP poderia prejudicar.
A coligação do presidente Emmanuel Macron, por sua vez, não teve a mesma firmeza para consolidar o cordão sanitário. Enquanto alguns apelaram para a uma retirada sistemática nos círculos eleitorais onde um candidato da NFP está numa posição mais favorável, outros falavam de uma escolha caso a caso.
Em círculos eleitorais onde o candidato mais bem posicionado faz parte da França Insubmissa, partido de Jean-Luc Mélenchon, classificado por Macron como extrema esquerda, a orientação foi pela não retirada da candidatura do Juntos.