STF torna réus irmãos Brazão e outros três por assassinato de Marielle

Para o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, a PGR “expôs de forma compreensível todos os requisitos exigidos”. A decisão foi unânime pelo acolhimento da denúncia

Primeira Turma do STF decide se abre ação penal contra acusados do caso Marielle. Fotos: Andressa Anholete/SCO/STF.

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, nesta terça (18), por unanimidade, tornar réus os irmãos Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido – RJ), além de outras três pessoas, pelo homicídio da ex-vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

O relator do inquérito, ministro Alexandre de Moraes, foi acompanhado pelos ministros Cristiano Zanin, Cármem Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino, que ainda defenderam a instauração da ação penal contra o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil, os policiais militares Robson Claixto, o Peixe, e Ronald Pereira, sob acusação de auxiliarem no planejamento do crime.

Agora réus, os acusados responderão pelo homicídio de Marielle e Anderson e a tentativa de assassinato contra a ex-assesora que sobreviveu aos ataques. Com exceção do delegado Rivaldo, os outros quatro também responderão por formação de organização criminosa para grilagem de terras com apoio das milícias.

Moraes justificou o acolhimento da denúncia do Ministério Público afirmando que “a PGR (Procuradoria-geral da República) expôs de forma compreensível todos os requisitos exigidos”. Ainda disse que a Procuradoria foi “coerente na exposição dos fatos, descrevendo satisfatoriamente a existência dos crimes em tese de organização criminosa e homicídios qualificados”.

Mais cedo, o subprocurador Luiz Augusto Santos Lima, que representou a PGR, defendeu que os irmãos Brazão decidiram matar a vereadora para impedir que ela continuasse a prejudicar os interesses da família em práticas de grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro.

O crime seria, segundo a denúncia, o ápice das desavenças entre a família e integrantes do PSOL.

Para os membros do MP, os irmãos Brazão constituíram uma organização criminosa em reduto eleitorais na zona oeste do Rio de Janeiro, nos bairros de Rio das Pedras, Jacarepaguá e Oswaldo Cruz.

O subprocurador Luiz Lima defende o acolhimento das acusações Fotos: Andressa Anholete/SCO/STF

Os investigadores constataram troca de favores entre milicianos e a dupla, que recebiam indicações para cargos públicos na Alerj e na Câmara dos Vereadores do RJ, em troca de apoio eleitoral nas regiões de milícia.

A partir da formação da organização criminosa, os irmãos Brazão começaram a atuar nas casas legislativas da capital fluminense e do Estado para ampliar o domínio sobre os terrenos ainda não regularizados na zona oeste da cidade.

As intenções de Domingos e Chiquinho Brazão em comercializar o loteamento, inclusive com a aprovação de um projeto de lei na Câmara dos Vereadores, passou esbarrar na atuação política de Marielle.

Segundo o subprocurador, “assim como Domingos e Francisco [Chiquinho], Marielle também tinha como bandeira política a reivindicação do uso do solo no Rio de Janeiro, mas sob outra perspectiva”

“Marielle passou a defender explicitamente que os PLs tinham uma finalidade de permitir a exploração econômica de espaços dominados por milícias, gerando severos atritos com os irmãos”, afirmou.

As deliberações parlamentares chegaram a ser adiadas nove vezes devido a atuação de Marielle e outros parlamentares do Psol. A matéria foi aprovada por um voto de diferença. Para a PGR, foi essa a motivação do crime perpetrado em março de 2018.

Em 2017, Marielle propôs um PL destinando a viabilizar a regularização fundiária de habitação de interesse social para famílias com baixa renda mensal de até 3 salários mínimos, se opondo as políticas de habitação dos irmãos Brazão.

“Marielle se tornou, portanto, a principal opositora e o mais ativo símbolo da resistência aos interesses econômicos dos irmãos”, disse o subprocurador Luiz Lima. Por isso, os irmãos decidirão “eliminar de vez o obstáculo e ao mesmo tempo dissuadir outros políticos do grupo de oposição”, concluiu.

Ainda nesta terça-feira (18) o ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de novo inquérito para apurar o suposto crime de obstrução de investigação dos irmãos Brazão, do delegado Rivaldo Barbosa e dos policiais civis Giniton Lages e Marco Antônio de Barros Pinto.

O relator ainda determinou o desmembramento, com envio dos autos para o Ministério Público do Rio de Janeiro, da apuração sobre os supostos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro em relação a Rivaldo Barbosa.

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