Putin visita Coreia do Norte em busca de alinhamento estratégico

O movimento é crucial, pois a ajuda militar dos EUA à Ucrânia está sendo disponibilizada, aumentando a urgência de Moscou assegurar apoio de Pyongyang.

Vladimir Putin e Kim Jong Un durante uma visita ao Cosmódromo Vostochny, na Rússia, em setembro de 2023. Sputnik

O presidente russo, Vladimir Putin, desembarcou na Coreia do Norte para uma rara visita que sinaliza o aprofundamento do alinhamento entre os dois países e a necessidade de Moscou comprar armas de Pyongyang. Kim Jong Un, líder norte-coreano, cumprimentou pessoalmente Putin na rampa do avião ao chegar à capital, Pyongyang, nas primeiras horas da manhã de quarta-feira, horário local, conforme relatado pela mídia estatal russa TASS.

A mídia estatal RIA informou que Putin e Kim fizeram uma pausa para conversar animadamente por vários minutos antes de seguirem para suas respectivas carreatas. As ruas de Pyongyang foram enfeitadas com bandeiras russas e cartazes de Putin, em uma demonstração de acolhimento ao presidente russo, que não visita o país desde 2000. Esta é também uma rara viagem ao exterior para Putin desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, e um momento-chave para Kim, que não acolhe outro líder mundial desde a pandemia de Covid-19.

Fortalecimento da parceria

A visita de Putin será acompanhada de perto em todo o mundo e espera-se que cimente ainda mais a crescente parceria entre Rússia e Coreia do Norte, fundamentada na animosidade compartilhada em relação ao Ocidente e na necessidade de Moscou de munições para a guerra na Ucrânia. Após a visita à Coreia do Norte, Putin deverá viajar para Hanói, no Vietnã, em uma demonstração dos laços estreitos entre os dois países, o que provavelmente irritará os Estados Unidos.

Putin e Kim planejam assinar uma nova parceria estratégica, segundo Yuri Ushakov, assessor de Putin. Ushakov afirmou que o acordo visa garantir maior estabilidade no nordeste da Ásia e não é provocativo nem direcionado contra outros países. Este novo acordo substituirá os documentos assinados entre Moscou e Pyongyang em 1961, 2000 e 2001.

Implicações globais

O porta-voz da segurança nacional dos EUA, John Kirby, declarou que o governo Biden não está preocupado com a viagem em si, mas com o aprofundamento do relacionamento entre os dois países. Sem provas, EUA, Coreia do Sul e outros acusaram a Coreia do Norte de fornecer ajuda militar substancial à Rússia, enquanto observadores levantam preocupações sobre Moscou ajudar Pyongyang no desenvolvimento de seu programa militar de satélites.

A visita de Putin ocorre num momento de tensões elevadas na península coreana. Recentemente, soldados norte-coreanos cruzaram brevemente para o sul na Zona Desmilitarizada (DMZ), levando a Coreia do Sul a disparar tiros de advertência. Além disso, Kim Jong Un saudou a solidariedade com a Rússia em uma mensagem a Putin no dia nacional russo, 12 de junho. Putin, em artigo para o jornal oficial norte-coreano Rodong Sinmun, agradeceu a Pyongyang por seu apoio inabalável à Rússia na guerra na Ucrânia.

A visita de Putin à Coreia do Norte, seguida por uma viagem ao Vietnã, demonstra seu interesse em restabelecer sua posição no cenário global, contrariando a imagem de isolamento pós-guerra. No mês passado, Putin visitou Pequim, reforçando a oposição conjunta com o líder chinês Xi Jinping contra a ordem mundial liderada pelos EUA. A Rússia também recebeu recentemente ministros dos Negócios Estrangeiros do BRICS, destacando seus esforços para fortalecer laços com economias em desenvolvimento que formam o bloco.

Para Kim, a visita de Putin é uma oportunidade de mostrar sua influência global e buscar apoio econômico e tecnológico de Moscou. A Coreia do Norte tem enfrentado sanções internacionais devido ao seu programa de armas nucleares, mas a crescente dependência da Rússia e as tensões com o Ocidente podem mudar essa dinâmica.

Putin visitou a Coreia do Norte pela última vez em 2000 e sua viagem atual é vista como uma ofensiva para reforçar laços estratégicos e buscar suporte para a guerra na Ucrânia. Este movimento é crucial, pois a ajuda militar dos EUA à Ucrânia, há muito aguardada, está sendo disponibilizada, aumentando a urgência de Moscou em assegurar apoio adicional de Pyongyang.

Autor