Reunião dos ministros dos BRICS+ na Rússia discute reformas e desafios globais
Nos discursos em Nizhny Novgorod, Mauro Vieira e Wang Yi expressaram pontos comuns . Vieira focou na questão das moedas locais e Wang na cooperação Sul-Sul
Publicado 11/06/2024 14:39 | Editado 13/06/2024 15:47
Durante a primeira sessão de trabalho da reunião dos Ministros de Relações Exteriores dos BRICS, realizada em Nizhny Novgorod, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, apresentaram na segunda-feira (10) discursos que destacaram tanto os desafios globais quanto as oportunidades para a cooperação entre os países do BRICS e os países em desenvolvimento.
Ambos os ministros destacaram a gravidade do cenário global atual. Vieira mencionou fome, pobreza, aquecimento global, conflitos e catástrofes humanitárias, enquanto Wang se concentrou nas crises prolongadas na Ucrânia e em Gaza, além de novos desafios como cibersegurança e mudanças climáticas. Ambos criticaram a marginalização das Nações Unidas e a violação do direito internacional, mas Wang foi mais específico em sua crítica às sanções unilaterais e barreiras protecionistas impostas por certos países para manter sua hegemonia.
Enfoque na cooperação e coesão
A importância da cooperação internacional e do fortalecimento das relações bilaterais foram pontos comuns nos discursos. Vieira sublinhou a necessidade de coesão entre os membros dos BRICS, baseando-se no “espírito dos BRICS”, que inclui respeito mútuo, igualdade soberana, solidariedade, abertura e inclusão. Wang Yi destacou o BRICS+ como uma plataforma vital para o diálogo entre os mercados emergentes e os países em desenvolvimento, promovendo a cooperação Sul-Sul.
Ambos os ministros defenderam reformas nas instituições internacionais. Vieira destacou a necessidade de fortalecer o multilateralismo através de uma reforma abrangente da ONU, especialmente do Conselho de Segurança. Wang Yi também abordou a necessidade de melhorar a governança global, propondo três pontos principais: defender a segurança universal, priorizar o desenvolvimento e defender a equidade e a justiça.
Vieira destacou dois tópicos principais: a questão das moedas locais e instrumentos de pagamento, defendida pelo presidente Lula, e a expansão dos BRICS. Wang Yi enfatizou a importância do BRICS+ como uma força dinâmica para o desenvolvimento dos BRICS e a cooperação Sul-Sul.
Expansão dos BRICS e BRICS+
Vieira abordou a expansão dos BRICS, mencionando a discussão em torno do modelo de países parceiros e destacando a necessidade de definir princípios, critérios e procedimentos para a associação. Ele enfatizou a importância de alcançar um consenso na próxima Cúpula de Kazan sobre esses aspectos. Ele reafirmou o compromisso do Brasil com os BRICS, considerando-o indispensável para a promoção dos interesses do Sul Global.
Wang Yi, por outro lado, destacou a importância estratégica do Diálogo dos Ministros das Relações Exteriores do BRICS e dos Países em Desenvolvimento (BRICS+), que inclui 12 grandes países em desenvolvimento com influência regional. Este modelo, segundo Wang, facilita a unidade e a cooperação entre os países em desenvolvimento, aumentando a influência do Sul Global. Wang Yi destacou a ascensão coletiva dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento, impulsionando um mundo multipolar.
Vieira encerrou seu discurso reafirmando o compromisso do Brasil em trabalhar construtivamente sob a orientação da presidência atual dos BRICS para completar as tarefas designadas, valorizando o papel do grupo na promoção dos interesses do Sul Global. Wang Yi também enfatizou a importância de continuar a promover soluções políticas para conflitos internacionais e reformas no sistema financeiro internacional, além de fortalecer a cooperação em áreas como economia digital e infraestrutura.
Os discursos de Mauro Vieira e Wang Yi em Nizhny Novgorod reforçam a posição dos BRICS como uma plataforma essencial para enfrentar desafios globais e promover a cooperação entre os países do Sul Global. A reunião marcou um momento crucial para o grupo, ampliando sua influência e enfrentando desafios globais com uma visão coletiva e integrada, mostrando a importância de uma resposta unificada às crises contemporâneas e às oportunidades de desenvolvimento conjunto.
Mauro Vieira também deu boas-vindas aos novos membros do grupo, incluindo os Ministros de Negócios Estrangeiros do Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos. Vieira também lamentou a perda do presidente Ebrahim Raisi e do ministro Hossein Amirabdollahian, expressando suas condolências ao representante iraniano presente.
Encontro bilateral
Também na Rússia, os ministros das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, reuniram-se. Wang afirmou que a China sempre priorizou o Brasil em sua diplomacia e está disposta a trabalhar para resumir sistematicamente as experiências bem-sucedidas do último meio século e elevar a parceria estratégica abrangente a um novo nível, acrescentando que isso está de acordo com os desejos de ambos povos e as expectativas da comunidade internacional, e contribui para a paz e o desenvolvimento globais.
Mauro Vieira enfatiza que o Brasil valoriza muito seu relacionamento com a China, está pronto para se envolver estreitamente em intercâmbios de alto nível com a China, reforçar a cooperação em vários domínios, incluindo o comércio e a economia, e definir um novo posicionamento para as relações bilaterais para abrir novas perspectivas para os próximos 50 anos. Ele acrescentou que o Brasil e a China compartilham posições semelhantes em muitas questões, e a declaração conjunta sobre os seis entendimentos comuns sobre a solução política da questão da Ucrânia é de importância significativa.
Putin e Lula
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, mantiveram uma conversa telefônica na mesma segunda-feira (10), segundo a Presidência brasileira.
Putin mencionou a visita da presidente do Banco do BRICS, Dilma Rousseff, ao Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, destacando a importância de fortalecer a cooperação econômica entre os países do grupo. Os presidentes discutiram ainda a recente viagem do vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, à China, onde reforçou os laços e a colaboração bilateral.
Lula reiterou sua posição a favor de negociações de paz para o conflito na Ucrânia, ressaltando a necessidade de um diálogo que envolva todas as partes envolvidas. Esta postura está alinhada com o documento firmado pelo assessor presidencial Celso Amorim e o diretor do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista da China, Wang Yi, que também defende a paz através do diálogo.
Outro ponto central da conversa foi a necessidade de uma ampla reforma no sistema de governança mundial. Lula insistiu que esta questão deve ser debatida na próxima reunião do G20, buscando um sistema que reflita os novos arranjos geopolíticos globais e fortaleça o papel das Nações Unidas como fórum para a prevenção de conflitos.