O presidente e o ministro na condução da economia

Lula enfrenta ataques do rentismo e agronegócio, enquanto críticos de esquerda ignoram a necessidade de força política para romper com o neoliberalismo, culpando Haddad injustamente.

Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A cada dia é mais claro que Lula governa em terreno minado e sob ataque do rentismo e do agronegócio exportador, que atuam em várias trincheiras.

Isto numa correlação de forças muito difícil, especialmente pela fragilidade da base governista na Câmara e no Senado e pela ausência de mobilização social correspondente à dimensão das tarefas do governo.

Entretanto, muitas vozes situadas à esquerda batem duro no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelas inflexões frequentes que é constrangido a fazer na condução da política econômica.

Há até os que dizem que o ministro destoa do presidente — como se não houvesse uma sintonia entre ambos.

Ou, como insistem em editoriais os principais jornais conservadores, que Lula desautorizaria frequentemente as iniciativas do seu ministro.

A intenção dos que se postam á esquerda pode até ser boa — a plena retomada do desenvolvimento econômico fundado em atividades industriais renovadas pela inovação tecnológica e pesados investimentos governamentais em infraestrutura; e, ainda de quebra, a plena efetivação das políticas sociais compensatórias e o municiamento financeiro correspondente às imensas necessidades na Saúde e na Educação.

Entretanto, assumem uma atitude meio que infantil ao não enxergarem que a ruptura com os fundamentos macroeconômicos neoliberais não é uma questão de atitude do ministro da Fazenda e de sua equipe. Antes implica em força política para tal — elemento por si mesmo da alçada do próprio presidente da República (e do conjunto das correntes políticas que com ele governam), que se empenha com determinação e habilidade para adquiri-la.

Estes críticos bem que poderiam se postar diante do espelho e se perguntarem a si mesmos qual a contribuição que têm dado para esclarecer, ajuntar e mobilizar a população trabalhadora e o povo em geral, objetivamente principais interessados na efetivação da agenda da reconstrução nacional.

Por enquanto, quase nada.

A moral da história é que sem força real, inclusive capaz de se contrapor à maioria parlamentar de centro-direita e de extrema direita, os passos do governo sempre serão em certa medida limitados e sujeitos a inflexões sob todos os títulos prejudiciais e indesejáveis.

Nada a ver com a suposta diferenciação entre o presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad, em certo sentido gêmeos siameses na condução da política econômica.

Tudo a ver com a unidade das nossas forças e o empenho na luta concreta — tanto nas esferas institucionais como na mobilização da sociedade nos salões, nas redes digitais e nas ruas.

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