Virada Cultural 2024: mais dispersa e menos impactante

Última edição do festival sob gestão de Ricardo Nunes mostra um encolhimento no formato e uma perda de vitalidade, contrastando com a energia vibrante dos anos anteriores

Divulgação/Prefeitura de São Paulo

Neste fim de semana, dias 18 e 19 de maio, acontece em São Paulo a última Virada Cultural sob a gestão de Ricardo Nunes (MDB/SP). Essa edição aparenta estar não apenas enxuta, mas também decepcionante, visto que se trata de uma das festividades mais emblemáticas da capital.

Comparado aos anos anteriores, o festival deste ano apresenta uma significativa redução no número e na concentração de palcos, especialmente na região central, marcando uma mudança não apenas na identidade, mas também no impacto do evento.

Desde sua criação em 2005, a Virada Cultural consolidou-se como um fenômeno urbano que ocupava o centro da capital paulista com uma efervescência única, proporcionando 24 horas ininterruptas de atividades culturais. A edição de 2019, por exemplo, contou com mais de 1200 atrações em 35 palcos, com 27 deles localizados no coração da cidade. Este modelo não apenas facilitava o acesso do público às diversas atrações, mas também revitalizava o centro da maior cidade do país, convertendo-o num grande palco de expressões culturais diversas.

A edição de 2024, no entanto, revela uma abordagem significativamente diferente. O número de palcos foi reduzido para 22, distribuídos por 12 regiões da cidade, com apenas dois deles no Vale do Anhangabaú. Esta dispersão geográfica, embora possa parecer uma tentativa de democratização do acesso à cultura, na prática, pode diluir a essência vibrante que caracteriza a Virada Cultural.

Além disso, a mudança no formato dos palcos, que agora não operam 24 horas ininterruptas como antes, sugere uma diminuição na amplitude e no impacto do evento. A Virada Cultural sempre foi mais do que apenas uma série de shows; era uma experiência imersiva que permitia aos paulistanos e visitantes explorarem a rica tapeçaria cultural da cidade durante um fim de semana sem interrupções.

Embora a administração defenda a descentralização como uma forma de levar cultura “à porta da casa das pessoas”, especialmente nas periferias, é crucial questionar se esta abordagem não compromete a visão original do evento de promover a convivência e apropriação coletiva do espaço público no centro da cidade. A descentralização até poderia ser vista como uma medida positiva se não fosse acompanhada de uma redução da oferta cultural e de horários mais restritos, que parecem mais uma resposta a cortes orçamentários do que a uma estratégia cultural bem pensada.

A Virada Cultural não é apenas uma oportunidade para entretenimento, mas também um importante motor econômico e social para a cidade. Vale ressaltar que a edição anterior, em 2023, gerou 1,8 mil empregos e movimentou R$ 91,3 milhões, demonstrando o potencial econômico e social que está sendo subestimado este ano.

A gestão atual, sob Ricardo Nunes, parece ter perdido uma oportunidade valiosa de fortalecer e expandir um dos eventos mais inclusivos e abrangentes da cidade. A última Virada Cultural sob sua administração não apenas representa um retrocesso em termos de escala, mas também sugere uma falha em reconhecer e investir no potencial pleno da cultura como vetor de transformação e união urbana.

__

com informações de agências

Autor