Festival Vermelho debate as diversas faces da defesa da democracia

Parlamentares e lideranças sociais discutiram a democracia política, o acesso à informação, à terra e aos alimentos e à educação

Foto: Fernando Udo

Nesta sexta-feira (22), durante o Festival Vermelho 2024, ocorreram os debates Diálogos Vermelhos – sob o tema Cultivando a Democracia. Sob a coordenação do deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA), falaram o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), a jornalista Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Liu Durães, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e as lideranças estudantis, Manuela Mirella, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), e Jade Beatriz, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBEs), A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) prestigiou o debate com uma saudação.

Democracia liberal e socialismo

Orlando convocou os presentes a repensarem o conceito de democracia e seus desafios contemporâneos. Ele destacou a necessidade de ir além da mera defesa do modelo de democracia liberal, enfatizando que a democracia é um pacto histórico que envolve a formação de consenso na sociedade sobre as regras do jogo político. Ele argumentou que é fundamental qualificar o tipo de democracia que se busca, defendendo uma perspectiva popular que permita mais participação e pluralismo.

Um dos pontos centrais de sua fala foi a necessidade de regulamentação das plataformas digitais, que desempenham um papel fundamental na circulação e no debate político contemporâneo. Ele alertou para o perigo de transferir o poder político para esses monopólios e defendeu a importância de estabelecer parâmetros regulatórios para garantir uma comunicação democrática no ambiente digital.

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Democratização da comunicação

Renata proferiu um discurso sobre a necessidade de democratização da comunicação no país e no mundo. A jornalista enfatizou que, em um momento de profundas transformações na forma de acumulação do capital e nas relações de produção e trabalho, é essencial fortalecer a luta política e ideológica para disputar a consciência de milhões de trabalhadores. Ela ainda relembrou o aniversário dos 60 anos do golpe que cerceou a democracia no Brasil, ressaltando a importância da resistência contra o autoritarismo.

Renata abordou o papel da comunicação nesse contexto, destacando que não há democracia sem uma comunicação democrática. Ela criticou o atual cenário no Brasil, onde os meios de comunicação de massa são dominados por poucas empresas familiares, e defendeu a necessidade de avançar na regulação democrática desses meios, bem como nos debates sobre os novos desafios trazidos pela internet e pelas redes sociais.

A coordenadora do CGI.br ressaltou os impactos sociais, econômicos e no mundo do trabalho das grandes plataformas de internet, que dominam não apenas o fluxo de informação, mas também a circulação de produtos e serviços. Ela alertou para os perigos da desinformação e das fake news nas eleições, que têm sido utilizadas para manipular a opinião pública e impedir o avanço de candidatos progressistas. Ela encerrou seu discurso ressaltando a importância de fortalecer a luta política e ideológica diante do avanço da extrema-direita, que se beneficia do uso das ferramentas de comunicação digital.

Democracia do acesso à terra

Liu Durães destacou a importância da luta pela terra e pela reforma agrária no contexto da defesa da democracia. Ela iniciou sua fala ressaltando a trajetória de lutas do MST, um movimento que completa 40 anos e que tem como objetivos principais a luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação da sociedade em uma sociedade socialista. Ela enfatizou que, mesmo sendo um movimento que historicamente questionou a democracia representativa, entendendo-a como uma democracia burguesa, o momento atual exige uma defesa contundente desse regime político.

“Estarmos aqui hoje fazendo a defesa dessa democracia é um marco. Com o avanço da extrema direita, vimos muito próximo de nós a possibilidade de que essa democracia fosse sucumbida em nosso país. Mas, por meio da luta, da organização e da resistência, não permitimos que isso acontecesse”, afirmou Liu.

A dirigente do MST ressaltou que a defesa da democracia não se limita à garantia de eleições periódicas, mas também está intrinsecamente ligada à luta por direitos sociais, econômicos e ambientais. Nesse sentido, destacou a importância da reforma agrária popular como um instrumento não apenas de redistribuição de terras, mas também de produção de alimentos saudáveis para toda a população.

“Não concordamos com a gourmetização dos alimentos, que torna a comida inacessível para a classe trabalhadora. Queremos produzir alimentos bons e saudáveis para todos, e isso passa pela democratização do acesso à terra e aos recursos naturais”, enfatizou.

Juventude e Democracia

No palco principal do Festival Vermelho, as vozes da juventude ecoaram com força, trazendo à tona os desafios e as lutas pela democracia no Brasil. As duas lideranças estudantis dividiram o tempo de fala para compartilhar suas perspectivas e chamaram à ação para construir um país mais justo e igualitário.

Expressando sua alegria em participar do Festival Vermelho, Manu destacou a importância de cultivar a democracia em um país marcado por uma história de lutas e resistência. “Se todo o poder emana do povo na democracia, para cultivar a democracia nós temos que disputar o povo”, afirmou Manuela, ressaltando a necessidade de estar presente nas bases, nos territórios e nas instituições para mostrar um projeto de Brasil inclusivo e democrático.

Jade, por sua vez, enfatizou a amplitude do conceito de democracia, indo além do simples ato de votar. Para ela, a democracia também está intrinsecamente ligada ao acesso à educação de qualidade, à alimentação, à cultura e aos direitos básicos. “Quando o filho do pobre não tem o mesmo acesso que o filho do rico, a democracia está sendo falha”, afirmou Jade, destacando a luta da juventude pela garantia de direitos fundamentais, como o acesso à educação.

Ambas as lideranças ressaltaram a importância da mobilização da juventude para fortalecer a democracia e combater retrocessos. Manuela convocou os presentes a se unirem em defesa da democracia, lembrando da importância de eventos como o Festival Vermelho e convocando para um encontro no Pelourinho, em memória dos que lutaram pela democracia. Por sua vez, Jade destacou a vitória recente na luta pela reforma do Ensino Médio, mas ressaltou que ainda há muito a ser feito, convocando para uma mobilização ainda maior.

Saudação aos comunistas

Lídice da Mata saudou os presentes, reconhecendo o contexto político acelerado devido à proximidade do encerramento da janela partidária para as eleições municipais. Lídice ressaltou seu compromisso com as atividades de seu partido, mas fez questão de comparecer ao festival, atendendo ao convite da deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), uma das organizadoras do evento.

Entre os presentes, Lídice reconheceu o amigo e colega Aldo Arantes, destacando a importância de eventos como o Festival Vermelho para fortalecer a resistência e a luta socialista no país. Ao abordar os desafios enfrentados pelo campo político progressista, Lídice destacou a importância de continuar lutando pela democracia, pelas liberdades individuais e pela melhoria das condições de vida do povo brasileiro.

“A democracia no Brasil precisa ser fortalecida com a participação ativa da juventude e de todos aqueles que lutam por um país mais justo e soberano”, afirmou a deputada, encerrando sua saudação com vivas ao PCdoB e à democracia no país.

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