Ausência de Israel é principal obstáculo a negociações com o Hamas
Israel não enviou delegação às negociações com o Hamas. Em entrevista ao Vermelho, Emir Mourad diz que os EUA seriam o mediador mais influente para um cessar-fogo
Publicado 06/03/2024 08:50 | Editado 06/03/2024 15:51
Em meio à devastação contínua na Faixa de Gaza, as negociações de trégua enfrentam obstáculos significativos, destacados por Emir Mourad, secretário-geral da Confederação Palestina Latino-Americana e do Caribe (Coplac), que representa as comunidades palestinas no continente. Ele compartilhou ao Portal Vermelho suas impressões sobre as negociações emperradas no Egito. Representantes do Hamas chegaram ao Cairo para discutir uma possível trégua, no entanto, a ausência da delegação israelense levanta questões sobre a viabilidade dessas conversas.
A mídia israelense relata que Israel reteve sua delegação devido à recusa do Hamas em fornecer respostas claras, especialmente em relação à lista de reféns em Gaza. Israel preferiu bater o pé, a ir ao Egito exigir a tal lista de reféns vivos, para saber se vale a pena um acordo. Apesar disso, o grupo palestino parece determinado a prosseguir com as negociações, buscando o apoio do Egito e do Catar.
Após 150 dias de um conflito brutal, o saldo é terrível: mais de 30 mil palestinos mortos, incluindo mais de 10 mil crianças. Mourad, em uma entrevista franca, expressou a urgência de um cessar-fogo permanente, contrastando com as discussões em torno de uma pausa de 30 a 40 dias.
O ponto crítico, enfatiza Mourad, é a ausência da delegação israelense nas recentes rodadas de negociações. Enquanto as partes palestinas e israelenses apresentam suas exigências, a ausência israelense é vista como o principal obstáculo para avanços significativos.
“É como quem diz: nós não queremos fazer um acordo. Queremos permanecer executando esse genocídio na faixa de Gaza”, resumiu.
O cerne da preocupação reside na ausência da delegação israelense nas últimas rodadas de negociações. “Quando uma parte se recusa a participar das negociações, revela sua falta de compromisso com a paz”, destaca Mourad. Essa recusa, segundo ele, sugere que Israel não está interessado em buscar uma solução pacífica.
“Tentamos, através de negociações, alcançar um cessar-fogo”, afirma Mourad. “Os palestinos aspiram por uma paz duradoura, enquanto Israel parece inclinado a prolongar o genocídio.”
Mourad destaca os objetivos de Israel no conflito: “Primeiro, continuar o genocídio; segundo, expulsar a população palestina de Gaza; e terceiro, manter a ocupação do território”. No entanto, ele permanece otimista de que as negociações em andamento possam levar a uma solução pacífica, desde que todas as partes estejam dispostas a se envolver de maneira construtiva.
Cumplicidade dolosa
Agora, as esperanças residem no papel dos Estados Unidos, visto como um mediador influente. No entanto, Mourad aponta os EUA como um cúmplice maior do genocídio. “Os EUA têm um papel crucial a desempenhar”, declara Mourad. “Eles possuem os meios financeiros e militares para convencer Israel a se comprometer com um cessar-fogo.”
Além disso, Mourad revela esforços em curso para pressionar o governo israelense, incluindo tentativas de divisão interna. “Estamos testemunhando uma intensa pressão sobre Netanyahu e sua administração”, revela ele. “É crucial aumentar essa pressão para alcançar uma resolução justa.”
O membro do gabinete de guerra israelense e líder da oposição Benny Gantz se reuniu com funcionários do governo Biden em Washington, DC, na segunda-feira para discutir a guerra em curso. Num aparente desprezo, Gantz não informou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu da sua viagem, o que levou o governante a esclarecer a seus aliados ocidentais – que “o estado de Israel tem apenas um primeiro-ministro”.
À medida que Netanyahu enfrenta críticas renovadas a nível interno e é culpado pelos ataques de 7 de Outubro, a popularidade de Gantz tem crescido – tanto que muitos o vêem como o provável substituto de Netanyahu, que segue sem convite para visitar Washington. Ele só participa do governo, porque Bibi quer causar impressão de unidade nacional em meio ao conflito.
As propostas de trégua em discussão incluem um cessar-fogo de seis semanas e a libertação de cativos considerados vulneráveis, como doentes, feridos, idosos e mulheres. No entanto, as exigências contínuas de ambas as partes destacam os desafios para alcançar uma paz duradoura. “Não é exclusividade de ninguém ter pedidos e ter exigências. O problemático é a ausência israelense, independente de quaisquer condições”, ressalta Mourad.
Enquanto Israel continua a insistir em sua abordagem militar, o Hamas exige uma retirada completa das forças israelenses e uma ampliação da ajuda humanitária para a população de Gaza.
Mourad ressalta a importância do mês sagrado do Ramadã, que se inicia em breve. “Estamos aguardando os próximos passos antes do Ramadã, um período de significado espiritual para os muçulmanos”, explica ele. “Esse momento poderia trazer uma pausa no conflito, mas isso depende da vontade de todas as partes envolvidas.”