Lula celebra 90 anos da USP, saudando acesso inclusivo à universidade paulista
No dia em que se celebraram 470 anos da cidade de São Paulo, 40 anos do comício das Diretas Já na Praça da Sé e 90 anos da USP, Lula comemora a força da democratização do conhecimento.
Publicado 26/01/2024 11:33 | Editado 28/01/2024 10:08
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta quinta-feira (25), das comemorações pelos 90 anos da Universidade de São Paulo (USP), destacando a importância da educação, a diversidade presente na instituição e a necessidade de cooperação internacional. Além deste aniversário científico, o 25 de janeiro também celebrou os 40 anos do comício das Diretas Já na Praça da Sé e também os 470 anos da fundação da cidade de São Paulo.
Também marcaram presença no evento, entre outros, a primeira-dama Janja da Silva; o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB); o ministro da Educação, Camilo Santana (PT); o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT); e a ministra da Saúde, Nísia Trindade. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não compareceu. Coube a Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e ex-reitor da USP, representar a gestão estadual. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também não foi ao evento.
Durante a solenidade, Lula ressaltou que, desde a implementação do sistema de cotas, a USP tem se tornado mais inclusiva, mostrando que o acesso ao “berço do conhecimento” não requer ter nascido em berço de ouro. Ele lembrou que mais da metade dos aprovados no último vestibular da instituição paulista são oriundos de escolas públicas. Segundo dados da própria universidade, das 10.662 vagas preenchidas no vestibular de 2023, 5.714 são de alunos que vieram do ensino público (ou seja, 54,1%). Entre esses estudantes, 2.020 são do grupo de Pretos, Pardos e Indígenas.
O presidente destacou que a USP está cada vez mais com a cara do Brasil. “Uma cara que é preta, uma cara branca, uma cara parda, uma cara indígena. Não é mais a USP pensada para que São Paulo oferecesse ao Brasil a inteligência para governar esse país, mas é a cara do povo brasileiro da periferia, que, durante muitas décadas, nem sonhava em chegar na USP.”
Presidente Lula durante a cerimônia realizada na noite desta quinta-feira (25) na Sala São Paulo, no centro da capital paulista – Foto: Ricardo Stuckert/PR
Oriundos da USP
Ele expressou sua gratidão à universidade, afirmando que, embora não tenha tido a oportunidade de estudar na USP, foi muito ajudado por mulheres e homens da instituição em sua trajetória. “Eu posso dizer pra vocês que, embora eu não tenha tido a oportunidade de estudar na USP, eu fui muito ajudado a construir tudo que nós temos nesse país com muitas mulheres e muitos homens da USP. Por isso, obrigado”, disse o ex-presidente.
Lula ressaltou a transformação da USP ao longo dos anos, afirmando que a universidade está cada vez mais representativa da diversidade do povo brasileiro. Ele enfatizou que a instituição não é mais apenas um centro de excelência voltado para São Paulo, mas uma verdadeira representação da diversidade étnica e social do Brasil.
Prioridade ao acesso ao ensino superior
Ao abordar a qualidade do ensino na USP, o presidente agradeceu à instituição e ressaltou a importância do conhecimento como uma ferramenta poderosa. No entanto, ele alertou sobre os perigos da desigualdade provocada pela concentração do conhecimento em poucas mãos, reforçando o compromisso com o investimento na educação, desde a creche até a pós-graduação.
Durante seu discurso, Lula argumentou que o conhecimento é uma das mais poderosas ferramentas à disposição dos seres humanos, e que tem sido o motor da evolução da humanidade. “Mas o conhecimento nas mãos de poucos, em benefício de poucos, provoca mais e mais desigualdade. E não se constrói um grande país com tanta desigualdade. Foi por isso que investimos cada vez mais na educação, da creche à pós-graduação”, pontuou
Lula lembrou o aumento significativo no número de estudantes universitários durante seus dois mandatos como presidente, destacando a oportunidade proporcionada aos filhos dos trabalhadores para se tornarem doutores. Ele enfatizou que essa abertura ao ensino superior é essencial para construir um país mais desenvolvido e justo.
Ele lembrou que quando entrou na Presidência da República, em 2002 encontrou o país com 3,5 milhões de estudantes universitários e que, após seus dois primeiros mandatos, esse número cresceu para 8 milhões. “Demos aos filhos dos trabalhadores a oportunidade de se tornarem doutores. Porque é assim que se constrói um país mais desenvolvido e mais justo.”
Obscurantismo e negacionismo
Lula também aproveitou a oportunidade para abordar questões políticas, criticando o negacionismo que marcou o governo anterior, sem mencionar o nome de Jair Bolsonaro. Segundo o presidente, “o tempo do obscurantismo ficou para trás”.
“Os últimos anos foram de ataques às universidades, à produção científica e à educação como um todo. Tempo de anticiência, do obscurantismo. Felizmente, esse tempo ficou para trás”, disse Lula na agenda. “O Brasil reúne hoje as vocações naturais, o conhecimento científico, a infraestrutura energética e a experiência produtiva para ser a grande potência sustentável do século XXI e liderar o combate à mudança do clima.”
“Os negacionistas de sempre dirão que isso não passa de um sonho. Mas, para mim, o sonho é apenas a realidade que ainda não aconteceu, mas vai acontecer, a depender dos esforços que fizermos daqui para frente.”
No discurso, o presidente ainda exaltou a democracia e lembrou do primeiro comício pelas “Diretas Já”, movimento que cobrou a volta das eleições diretas no Brasil. “A democracia não está pronta em lugar nenhum. Ela tem que ser construída a cada minuto, a cada hora, a cada gesto. Por isso estou muito feliz em ter o companheiro Alckmin como meu vice”, disse. Lula e Alckmin eram adversários históricos.
O presidente ainda destacou que anunciará medidas para a educação nesta sexta-feira (26), ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, em evento no Palácio do Planalto. “Será uma explicação sobre a educação brasileira”, disse Lula. “Vamos fazer uma apresentação de como encontramos a educação, a ciência, e as universidades, o que já fizemos e vamos falar sobre o que está programado fazer a partir desse ano”, completou.
Segundo Lula, o objetivo é oferecer no Brasil a oportunidade para que os meninos possam virar “gênios” e o país não perca mais esses alunos para o exterior.
Ele concluiu seu discurso celebrando a retomada da relevância do Brasil no cenário internacional e destacou sua próxima agenda internacional, com viagens à África e à Guiana.
O presidente encerrou sua participação reiterando a importância da cooperação e da construção de um país mais justo e desenvolvido, expressando otimismo em relação ao futuro.
Homenagens aos parceiros
A cerimônia também contou com a participação da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp), que realizou um concerto marcante para iniciar as comemorações. Além disso, foi inaugurada uma exposição e realizada a entrega da Medalha Armando de Salles Oliveira a personalidades e entidades que contribuíram significativamente para a parceria com a USP ao longo dos anos.
Lula foi um dos homenageados com a medalha, assim como a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e outros.
Lula foi aplaudido ao subir ao palco para receber a Medalha Armando de Salles Oliveira aos gritos de “olé, olé, olé, lá, Lula, Lula”. Ele e Alckmin estavam acompanhados da primeira e da segunda-dama, Janja e Lu Alckmin, respectivamente.
História de excelência internacional
A história da USP, que remonta a 196 anos atrás com a fundação da antiga Academia de Direito, foi destacada durante o evento. Atualmente, a USP é a principal instituição de ensino e pesquisa do país, com aproximadamente 97 mil alunos e mais de 5 mil professores.
Responsável por 22% da produção científica brasileira, a USP aparece na 22ª colocação no ranking de universidades da Scimago Institutions e em 20º no ranking de instituições científicas.
“A USP foi pensada como uma instituição moderna, alicerçada na relação indivisível entre ensino, pesquisa e extensão. Pulsava nela uma visão de país que se ancorava na ciência, na razão e no valor da liberdade”, disse o reitor da universidade, Carlos Gilberto Carlotti Junior.
A universidade tem 11 campi espalhados por oito cidades paulistas, que abrigam 42 entidades de ensino, responsáveis por 333 cursos de graduação e 264 cursos de pós-graduação, além de quatro museus, 48 bibliotecas e quatro hospitais.
Fundada em 1934, a USP nasceu como uma resposta superior ao vácuo deixado pela crise política, estabelecendo um modelo de universidade pública, gratuita e socialmente democrática. Desde então, tem desempenhado um papel fundamental no avanço da ciência, na promoção da razão e na defesa dos valores da liberdade.
“Estamos formando líderes e produzindo pesquisas com excelência. Durante nossa história tivemos momentos difíceis, essa universidade enfrentou o arbítrio do regime autoritário instalado em 1964 que aposentou lideranças intelectuais e científicas notáveis. Apesar de duramente atingida, a USP teve forças para resistir e conservar seus fundamentos originais”, destacou o reitor.
A USP foi concebida como uma instituição moderna, unindo indissociavelmente pesquisa e extensão. Seu modelo inovador, baseado em princípios científicos e em uma visão integrada da vida intelectual, sobreviveu e prosperou ao longo das décadas, moldando o que celebramos hoje.
Para tornar a USP uma realidade, foi necessária uma harmonia entre passado e futuro. A universidade nasceu da agregação de seis escolas já existentes, incluindo a Faculdade de Direito, a Escola Politécnica e a Faculdade de Medicina Veterinária. Além disso, a visão moderna do futuro se traduziu na criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, destinada à ciência desinteressada e à busca pela universalidade do saber.
A criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) nos anos 40 fortaleceu a parceria entre a USP e a pesquisa científica, consolidando-se como uma relação virtuosa ao longo dos anos.
As décadas seguintes testemunharam a expansão da USP para além da capital, com a criação de instituições universitárias em cidades como Campinas (Unicamp) e São Carlos (USP São Carlos), contribuindo significativamente para o desenvolvimento científico do estado de São Paulo.
Em 2003, a USP alcançou um marco histórico ao ser classificada como a 85ª melhor universidade do mundo pelo QS World University Rankings, sendo a primeira universidade brasileira a figurar entre as 100 melhores globalmente.
A universidade enfrentou desafios ao longo de sua história, desde a resistência ao regime autoritário instalado em 1964 até os impactos da pandemia de Covid-19, que exigiu uma reinvenção para manter suas atividades.
A celebração dos 90 anos da USP destaca não apenas suas conquistas passadas, mas também sua visão para o futuro. A universidade permanece como uma instituição de excelência acadêmica, comprometida com a produção de conhecimento de qualidade e a formação de profissionais capacitados para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea.
A internacionalização da USP, tradição já consolidada, entra em uma nova fase com a implementação de laboratórios internacionais nos campi. A parceria com instituições francesas e a criação de um centro na China destacam o compromisso da USP em promover colaborações globais e trocas de conhecimento.
O reitor anunciou ainda a reorganização do modelo de ensino da USP, visando preparar os jovens para profissões que ainda não existem, com habilidades como comunicação, empreendedorismo e adaptabilidade ao longo da vida profissional.