Estudo alerta para impacto do esgotamento de águas subterrâneas
Pesquisa publicada na revista Nature revela queda alarmante de 71% nos níveis de águas subterrâneas entre 2000 e 2022, com análise de 170 mil poços em mais de 40 países.
Publicado 25/01/2024 12:13 | Editado 26/01/2024 14:53
Uma pesquisa abrangente, analisando milhares de medições do nível de águas subterrâneas em mais de 40 países, revelou um alarmante esgotamento dessas reservas essenciais em diversas partes do mundo. O estudo, publicado na revista Nature nesta quarta-feira (24) e divulgado pela CNN, marca a primeira análise em escala global dos níveis de água subterrânea e destaca a urgência em compreender o impacto humano nesse recurso vital.
Com apenas 2% de toda a água doce disponível para consumo, as águas subterrâneas desempenham um papel crucial, especialmente em regiões onde as chuvas e as fontes superficiais são escassas, como no noroeste da Índia e no sudoeste dos Estados Unidos. Contidas em aquíferos, essas reservas são essenciais para o abastecimento de água potável, irrigação e diversos outros usos.
“Este estudo foi movido pela curiosidade. Queríamos compreender melhor o estado das águas subterrâneas globais, analisando milhares de medições do nível das águas subterrâneas”, diz a coautora do estudo Debra Perrone, professora associada do Programa de Estudos Ambientais da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.
Os pesquisadores observaram uma diminuição significativa nos níveis das águas subterrâneas, com uma redução média de 71% em 1.693 sistemas aquíferos analisados entre 2000 e 2022. Em 617 (36%) desses locais, os níveis diminuíram mais de 0,1 metro por ano, causando preocupações sobre o acesso à água potável e os impactos ambientais associados.
O Aquífero Ascoy-Soplamo, na Espanha, foi identificado como o de maior declínio, registrando uma média de redução de 2,95 metros por ano. “Fiquei impressionado com as estratégias inteligentes que foram postas em prática para lidar com o esgotamento das águas subterrâneas em vários lugares, embora estas histórias de ‘boas notícias’ sejam muito raras”, disse o coautor do estudo Scott Jasechko, professor associado da Escola Bren de Ciência e Gestão Ambiental, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara.
Os autores destacam a aceleração dessas reduções, observando que, entre 1980 e 2000, o declínio em 30% dos aquíferos estudados aumentou nas duas primeiras décadas do século 21. Essa descoberta sugere uma deterioração mais rápida do que o previsto, enfatizando a necessidade de ações urgentes para preservar essas reservas. “Estes casos de declínio acelerado do nível das águas subterrâneas são duas vezes mais prevalentes do que o esperado diante de flutuações aleatórias na ausência de quaisquer tendências sistemáticas em qualquer período de tempo”, observou o estudo.
O hidrólogo Donald John MacAllister, do British Geological Survey, não esteve envolvido na pesquisa mas elogia o estudo como uma compilação de dados “impressionante”, apesar de haver algumas lacunas.
“Penso que é justo dizer que esta compilação global de dados sobre águas subterrâneas não havia ainda sido feita nesta escala”, afirmou. “A água subterrânea é um recurso extremamente importante, mas um dos desafios é que, por não podermos vê-la, ela fica fora da mente da maioria das pessoas. O nosso desafio é lembrar os tomadores de decisão de que temos este recurso e que temos que cuidar dele para desenvolvermos resiliência e nos adaptarmos às alterações climáticas”, finalizou MacAllister.
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com agências