Filme ‘O Empregado e o Patrão’ retrata as sutilezas da luta de classes

Longa de Manolo Nieto mostra a hipocrisia patronal. Narrativa seca e impactante mostra as diferenças entre os detentores dos meios de produção e os trabalhadores

Imagem: divulgação/Netflix

Em cartaz na Netflix, o filme de Manolo Nieto, O empregado e o patrão (2021) apresenta sutilezas da luta de classes, por meio das quais pode-se perceber que impera a hipocrisia patronal com tapinhas nas costas dos trabalhadores. Mas essa obra mostra a distinção dos interesses de quem detém os meios de produção e daqueles que só possuem sua força de trabalho para vender.

Direção, roteiro, montagem, figurinos e fotografia se enquadram nessa temática, que foge da emotividade, inclusive quando a bebê do empregado Carlos (Cristian Borges) vem a falecer num acidente por meio do qual o trator que ele dirigia caiu numa vala. O filme mantém o enfoque nas diferenças de comportamento entre o empregado e o patrão em relação à tragédia, quando o fazendeiro Rodrigo (Nahuel Pérez Biscayart) se aproxima de Carlos.

Mas Nieto (O Canil, 2006; O lugar do filho, 2013) deixa claro que, apesar da proximidade e da juventude dos dois, amizade seria um termo muito forte para o relacionamento entre empregado e patrão. A obra mostra que os patrões ficam bem à vontade entre os seus, mas mantêm certo distanciamento, um determinado paternalismo, quando se relacionam com os empregados. Características da luta de classes. Também mostra que os patrões não são perversos por serem perversos, mas porque o sistema capitalista é perverso com quem vive do trabalho.

O empregado e o patrão nos remete ao livro A cara engraçada do medo (1977), do jornalista e escritor Murilo Carvalho, quando dizem “sim, patrão” com o desejo implícito de voar em sua garganta e dizer que também é gente. E a direção seca, com poucos diálogos e quase sem música, nos remete ao filme Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), adaptação do livro homônimo de Graciliano Ramos (1892-1953).

Rodrigo é o jovem patrão designado por seu pai para administrar o latifúndio, o que faz com competência – do ponto de vista patronal –, dividindo o seu tempo entre os problemas de saúde de seu filho ainda bebê e a sua tarefa. Contrata o jovem Carlos para trabalhar em suas terras com um trator. Carlos tornou-se pai muito cedo, aos 18 anos, e vive com Estefanie (Fátima Quintanilla) ainda mais jovem.

O casal de trabalhadores vive uma tragédia após o acidente e o sindicato dos trabalhadores rurais move processo judicial contra os fazendeiros pelo acidente. E, dessa forma, Rodrigo se aproxima ainda mais de Carlos para tentar evitar a presumível derrota no processo.

Com filmagem seca, a câmera realça os movimentos dos personagens, os seus olhares, fazendo com que transpareça toda a diferença entre o mundo dos ricos e o dos pobres. Os que exploram a força de trabalho e os que desta dependem para sobreviver.

Ao mesmo tempo, mostra que os sentimentos humanos, tanto de uns quanto de outros, e a luta de classes não estão na dicotomia maldade x bondade, mas sim nas diferenças de interesses: uns querem apenas acumular riqueza e outros precisam disfarçar seus sentimentos para sobreviver.

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