Trégua revela força da unidade palestina contra divisão no comando israelense

Emir Mourad, da Confederação Palestina Latino-americana e do Caribe, avalia os resultados da trégua de Israel negociada com o Hamas, como uma vitória da resistência palestina

As pessoas comemoram a libertação dos prisioneiros palestinos.

Após os quatro dias de trégua acordados entre Israel e o Hamas, para troca de prisioneiros, o ministro das Relações Exteriores do Catar anunciou que foi alcançado um novo acordo para estender a trégua em Gaza por mais dois dias.

Nesta segunda-feira foram informadas as famílias israelenses que teriam seus parentes de volta. O Hamas também diz que três mulheres palestinas e 30 crianças serão libertadas. Mais de 14.854 palestinos mortos em Gaza desde 7 de outubro. Em Israel, o número oficial de mortos é de 1.200.

Em entrevista ao Portal Vermelho, Emir Mourad, secretário-geral da Confederação Palestina Latino-americana e do Caribe (Coplac), aborda diversos aspectos sobre a recente trégua em Gaza e os desafios enfrentados pela população palestina. Mourad também fala sobre as perspectivas para o futuro, a pressão internacional e as complexidades políticas envolvidas.

Ao ser questionado sobre a eficácia da trégua, Mourad ressalta que, apesar da alegação israelense de querer encerrar a resistência palestina em Gaza, as forças israelenses não conseguiram dominar o território, após um mês de incursões. 

Mourad acredita que a trégua tem sido mais bem-sucedida para a resistência palestina do que para Israel. Ele aponta como uma derrota para Israel ter que negociar uma trégua com um grupo armado que eles consideram terrorista. “Eu acredito que essa trégua é bem sucedida, principalmente com a resistência palestina”. 

Mourad também aborda a questão do cumprimento de acordos por parte de Israel, citando a história de sucessivos não cumprimentos, não apenas em cessar-fogos, mas também em outros acordos e resoluções da ONU.

“Historicamente, Israel tem um sucessivo descumprimento de acordos, então não é de se estranhar”, diz ele, mencionando os acidentes e assassinatos na Cisjordânia e Gaza, por exemplo, ocorridos nos últimos dias, apesar da trégua. 

Ele destaca o fato do Hamas sair na frente na proposta de ampliação da trégua. “Agora, estão esperando a resposta de Israel. Então a resistência está impondo as ordens no terreno. Está se adiantando e está afirmando que nossa posição é essa e a palavra está com Israel”, comentou.

Reféns e pressões internas em Israel

Mourad destaca as pressões internas em Israel para manter a trégua, especialmente devido à situação dos reféns ainda sob controle palestino. Ele menciona manifestações em frente à residência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pedindo sua renúncia por um lado, e o retorno dos reféns, por outro. “O comando israelense está totalmente dividido, pressionado, e isso vai enfraquecendo cada dia mais a sua força de combate no terreno. É isso que a gente está vendo no decorrer dos dias”, ponderou.

A situação é agravada pela pressão para o cumprimento das resoluções da ONU em relação ao Estado palestino e o retorno dos refugiados.

Troca de prisioneiros e mobilização internacional

Sobre a libertação de prisioneiros, Mourad critica a prioridade da mídia corporativa ocidental à libertação de prisioneiros israelenses em detrimento dos palestinos. E enfatiza a necessidade de abordar ambos os lados da questão, incluindo a libertação de mais de 6 mil prisioneiros palestinos, muitos dos quais estão detidos sem acusação formal, entre os quais muitas crianças.

“Só mostram os reencontros de crianças e mulheres israelenses e sua chegada, mas nenhum rosto de prisioneiras e prisioneiras palestinos, mulheres e crianças menores de idade, não se mostra na televisão. A gente não vê os nomes e rostos destas pessoas na televisão”. critica.

Mourad também fala sobre as condições adversas nas prisões israelenses e as torturas que os prisioneiros palestinos sofrem e que têm sido relatadas por aqueles que estão saindo. Ele enfatiza a importância de uma cobertura mais equilibrada da mídia sobre essa questão. 

“São mais de seis mil prisioneiros, muitos nas chamadas prisões administrativas, onde não tem uma causa ou acusação, uma arbitrariedade, em que ficam presos sem prazo definido e prorrogável”, diz ele, e menciona os tiros contra jornalistas que tentam cobrir a libertação dos presos em Israel, algo que não ocorreu em Gaza. “Esse tipo de tratamento parece que é exclusivo de Israel”.

Um dos debates que gerou controvérsia em Israel foi justamente uma legislação proposta pelo governo para facilitar a pena de morte contra os prisioneiros palestinos. Houve reação das famílias de reféns israelenses que consideraram que discutir isso, agora, ia piorar o risco para seus parentes. “A pena de morte já existe. Na prática, eles executam a pena de morte a qualquer momento, sem nenhum tipo de embaraço. Eles já decretaram a pena de morte para 6.150 crianças”, afirma Mourad.

Perspectivas de cessar-fogo

Quanto ao futuro, Mourad se diz otimista em relação a um cessar-fogo definitivo. Ele ressalta que a pressão política, diplomática e econômica está aumentando; há crescente pressão internacional sobre Israel e mudança de postura dos Estados Unidos, que historicamente apoia Israel incondicionalmente.

Ele ressalta os esforços do Catar e do Hamas para ampliar a trégua por mais dois dias, aguardando a resposta de Israel. No entanto, alerta sobre as declarações de Netanyahu sobre a possível retomada da guerra após um determinado prazo. Ele considera que dezembro será um mês decisivo e expressa a esperança de um cessar-fogo definitivo.

Pressão internacional aumenta

Ele destaca a mobilização internacional em apoio aos palestinos, com sindicatos, a população global e países e rompendo relações diplomáticas com Israel e pedindo a retomada de um acordo de paz que garanta os direitos do povo palestino.

“Com essa trégua, está se fazendo um raio-x mais apurado da tragédia que está sendo esse genocídio israelense contra a população palestina em Gaza”, diz ele, citando os números atualizados, de mais de 15 mil assassinados, 36 mil feridos, só na faixa de Gaza. “A gente está vendo, uma mobilização massiva de solidariedade e apoio ao povo palestino”.

Na Cisjordânia são 239 assassinatos e mais de 3 mil feridos. São 6.150 crianças, 4.000 mulheres assassinadas e 700 idosos assassinados. Foram 7.000 desaparecidos que certamente estão debaixo dos escombros, e entre eles estão 4.700 crianças desaparecidas. Foram assassinados 64 jornalistas e 36 trabalhadores de resgate e defesa civil. Além disso, foram assassinados 205 médicos, enfermeiros e pessoal de saúdes, mais 278 escolas destruídas.

Mourad destacou a urgência da ajuda humanitária na Faixa de Gaza, caracterizando o conflito recente como um genocídio de proporções alarmantes. O dirigente sublinhou a necessidade imediata de combustível, água, alimentação e medicamentos para a população afetada, enfatizando que a situação atual é sem precedentes. Com isso, a ampliação da trégua é muito bem-vinda, em sua opinião.

“O genocídio que todo mundo viu nas telas, nas redes sociais, nunca foi visto antes. Precisamos de ajuda humanitária na faixa de Gaza. As pessoas precisam de todo tipo de ajuda: combustível, água, alimentação, medicamentos. É extremamente necessário”, afirmou Mourad.

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