“Conflito na Palestina mostra que projeto sionista fracassou”

Para analista internacional palestino, o ataque do Hamas atingiu a espinha dorsal do estado de Israel, que é seu Exército, ao provocar uma “derrota inexplicável”

Protestantes a favor da Palestina são vistos nas ruas de Amã, na Jordânia, em 13 de outubro de 2023

Se o senso comum olha para o Oriente Médio como uma “selva de árabes” permanentemente em guerra, os árabes que não enxergam um palmo à frente do nariz olham para o atual conflito entre Israel e a Palestina de forma bairrista e condescendente. Mas esta não é a visão de Reda Soueid, especialista em Relações Internacionais com pesquisa sobre o Movimento Nacional Árabe, e atuação engajada em movimentos sociais e partidos de esquerda.

Seu olhar se volta ao século XIX, para o movimento nacionalista árabe, que avança e é esmagado pelo Ocidente durante o nasserismo nos anos 1970. A ideia de uma unidade árabe, com estado forte e desenvolvimentista, liderada por Gamal Abdel Nasser, no Egito, é abortada pelas potências vitoriosas da 2a. Guerra Mundial, conforme fundam o estado de Israel, a partir de 1948 e criam a maior base militar dos EUA e Europa ocupando e expulsando os palestinos de suas terras.

Esta visão desvincula a questão meramente territorial entre judeus e palestinos. “O estado sionista tem uma tarefa a ser cumprida pelo imperialismo ocidental naquela região”, diz Soueid ao Portal Vermelho. Esta tarefa precisa ser cumprida, apesar das divergências civilizatórias e ideológicas na sociedade israelense que se unificam no exército, chamado eufemisticamente de Forças de Defesa de Israel. 

O analista aponta como Israel é constituído de uma colcha de retalhos inconciliável de visões raciais, ideológicas e religiosas com visões opostas em permanente ebulição. As recentes turbulências políticas em torno de uma reforma judiciária promovida por Benjamin Netanyahu são um exemplo desta disputa interna. Algo que só se homogeneiza em suas forças armadas, o grande sentido de existir de Israel, tanto para si como para o Ocidente imperialista.

É desta lógica que Soueid parte para definir como “um grande fracasso sionista” o atual conflito deflagrado pelo ataque do Hamas e de outras forças insurgentes contra o sul do território, gerando centenas de reféns e mais de 1200 mortos. Ele destaca como a retórica ocidental oculta a dimensão do que ocorreu, ao ignorar o gigantismo militar de Israel sendo surpreendido e atropelado por grupos armados com táticas praticamente improvisadas e condições restritas de atuação.

Soueid pode parecer categórico demais ao dizer que “o fracasso do exército sionista, no 7 de outubro, representa o fim da hegemonia ocidental naquela região”. Mas seu raciocínio merece ser ponderado pela dialética proposta e a visão de longo prazo que busca observar nos fenômenos políticos daquela região.

Trajetória de exílio

Reda nasceu no sul do Líbano, em 1962, na tríplice fronteira com a Palestina e a Síria, numa cidade chamada Khiam, onde atualmente se conhece como Fatahland, uma zona de guerra.  Desta forma, ele conhece territorialmente o conflito atual, desde que nasceu, tendo saído de lá, com 17 anos, forçado pela família.

Ele tinha um irmão de 24 anos que era membro do Partido Comunista Libanês. “Numa das noites de bombardeios à nossa cidade, ele saiu para socorrer os feridos e caiu uma bomba perto dele. Ele era tudo para o meu pai, para a minha família, muito amado”.

Ainda na adolescência, Reda já participava da guerrilha, em treinamentos. Mas seus pais o forçaram a sair do Líbano, no final de 1978, para que também não morresse.”Eu era caçula de dez filhos e, você imagina que toda a família continua de luto pelo filho que perdeu, até hoje”. Seu pai foi assassinado em 1984 por mercenários de Israel. 

“Você sai da geografia, mas a causa não sai de você”, diz ele, que continuou sua militância internacionalista. Para ele, a luta é uma só, em que o inimigo é o imperialismo, o colonialismo.

Reda Soueid não gosta de expor esse lado mais pessoal, pois prefere falar em termos mais geopolíticos sobre o assunto. Mas sua história representa a trajetória de ocupação colonial, violência e exílio forçado de milhares de palestinos e libaneses pelo mundo. ”Hoje, eu acho que, muitas vezes, você pode contribuir mais de fora, do que de dentro, onde você poderia estar morto”, diz.

Mas Soueid é insistente em focar no que importa e rejeitar questões laterais. Durante toda a entrevista procurou evitar as armadilhas de linguagem e narrativa da mídia ocidental, que desviam a percepção real do que acontece com aqueles povos, há tantas décadas. 

“Nestas últimas três décadas se desfocou muito da questão principal do nosso enfrentamento com o colonialismo ocidental, resumindo a um conflito palestino-israelense, o que não é verdade. Como se fosse uma mera disputa territorial. Isso que a gente tem que desfazer”, diz ele. 

Para ele, é preciso colocar a origem do conflito num trilho e recontar essa narrativa repetida no Ocidente. Porque o projeto colonial europeu visa toda aquela região, a nação árabe na sua totalidade. Para ele, este projeto tem a geografia palestina como seu foco principal. “O projeto colonial europeu e britânico inicial visava manter o domínio sobre aquela região através da implantação de um estado sionista, que tem uma tarefa clara de se transformar num agente policial daquela região”.

Os argumentos usados pelos colonizadores para justificar a ocupação da Palestina e sua colonização, de acordo com ele, têm que ser contestados. Ele pontuou os inúmeros “acordos” entre países colonizadores que dividiram a África e o Oriente Médio entre si, de forma arbitrária, gerando os conflitos atuais.

“Existem razões históricas para os europeus temerem o ressurgimento de uma nação árabe que abrange toda a norte e leste da África, e toda a Península Árabe”, diz ele. Por isso, ele explica que a burguesia judaica ocidental de etnia asquenaze (germânica) atuou juntamente com os colonizadores para a implantação do Estado de Israel, mas se conflita com os sefarditas haredim (ibéricos religiosos). 

“A criação do Estado de Israel foi feita de forma arbitrária, ilegal, sem nenhum embasamento jurídico. As nações vencedoras da Segunda Guerra Mundial estabelecem a divisão do mundo entre elas, e entregam essa parte do mundo para os europeus. Em que base legal foi feita essa partilha? O questionamento é esse”, indagou. 

Leia abaixo trechos da entrevista de Reda Soueid:

Falando desse momento em particular que a gente está vivendo, quais são as diferenças perceptíveis entre essa insurgência que houve agora, em 7 de outubro, e as outras que você acompanhou anteriormente. A percepção mundial do conflito tem diferença entre o que está acontecendo agora e o que acontecia antes? 

O projeto sionista na Palestina da forma como foi implantado fracassou. Chegou no seu auge e fracassou. 

Antes do 7 de outubro, o Estado sionista vivia um embate interno violento entre duas vertentes: os asquenazes europeus que se consideram os fundadores do estado e suas instituições, e que todo o êxito desse Estado pertence a eles. Asquenazes europeus brancos, que se consideram pertencentes ao mundo civilizado. 

Do outro lado você tem uma outra ala que são os sefarditas haredim, mais religiosos e fundamentalistas, que buscam ampliar e implantar o sonho do Estado imaginado, pelas razões as quais eles foram trazidos para a Palestina. 

O estado de Israel foi criado em cima de dois pilares: ser um estado ocidental implantado no coração da nação árabe. Um enclave e base militar para servir, prestar serviços para o Ocidente, com todos esses valores que tanto propagam: a democracia, direitos humanos, etc.

O outro lado são os que foram trazidos e estão retornando para a terra prometida que Deus ofereceu ao povo eleito para colonizar, “ocupar uma terra sem povo para um povo sem terra”. 

Os asquenazes também tinham uma vertente que se apoiava na tese da terra prometida, de que os judeus saíram da Palestina há dois mil anos, e vagaram pelo mundo e agora estão retornando e vão implantar um estado socialista na Palestina. “Vamos criar os kibutz, as novas formas de produção, de divisão de riqueza”, dizem. São esses valores que hoje a chamada esquerda sionista propaga. Foi a partir disso que Stalin aceitou a entrega da Palestina e a criação do estado de Israel. 

Os asquenazes europeus começaram a perder a maioria dentro do estado de Israel para os Haredim. Aquela ala que falava do Estado Socialista acabou. Isso morreu, não existe mais, não tem mais nenhum tipo de experiência socialista de produção, de coletividade. Esquece. Isso tudo foi jogado no lixo. Os que propagam isso já não existem mais. 

Sobrou aquela ala que fala de valores democráticos ocidentais, entre os asquenazes e sefarditas haredim, que querem implantar o modo de vida fundamentalista para os ocidentais. Esse é o conflito que está implantado dentro do Estado sionista. 

Eu conheço um judeu sionista brasileiro, que não é mais sionista, pois me relata que foi para Israel e, depois de alguns anos, voltou antissionista. Porque o haredim não come o hambúrguer, mas ele quer que eu não coma também. Ele quer implantar o seu modo de vida para todos. 

Quando se trata de interferir na Suprema Corte, o que eles querem dizer com isso? Que a Suprema Corte não pode continuar ditando as regras do estado laico. Esse poder tem que ser transferido para uma instituição religiosa, para os rabinos. E esses ocidentais brancos jamais vão querer aceitar isso.

Então, são dois projetos antagônicos dentro do estado sionista, que não conseguiu produzir uma sociedade homogênea, até porque cada colônia tem seus habitantes vindo de um determinado lugar do mundo. E praticam suas tradições, sua língua, sua fala dentro dessas comunidades. Nem uma colônia é igual ou parecida com a outra. Cada um na sua. 

Eles se encontram aonde? No exército. Na verdade, eles formam um exército que tem um Estado. A espinha dorsal do Estado de Israel é seu exército. Se esse exército perde o moral e tudo que foi apostado em cima dele, o que resta de Israel é o desmoronamento. 

Assim, essa operação que aconteceu em 7 de outubro, atingiu a espinha dorsal do Estado sionista que é seu exército. Toda propaganda de mídia feita desde a sua criação, — de ser o exército mais poderoso daquela região e do mundo, que produz tecnologia de ponta, que vende para o mundo todo —, desmoronou em cinco horas naquela operação. 

Ela significou que eles estão tentando fugir de contar essa história de forma verdadeira e clara. Como 1.200 homens das brigadas Alcassam conseguem derrotar 15 mil homens, a força que fazia a proteção e o cerco à Faixa de Gaza?

São milhares de homens com o melhor da tecnologia, não só israelense, mas ocidental, empregada naquela região. São 65 quilômetros de muro na linha de fronteira. Tem 10 metros de concreto abaixo da terra, mais tantos metros com parede de grade de ferro, com toda a tecnologia, sensores para detectar qualquer coisa e sistemas de alarmes. Câmara de vigília e 25 postos ao longo da fronteira, equipados também com o melhor da tecnologia.

Como é que essa operação aconteceu em cinco horas? Toda aquela região ficou cega. Como que a Alcassam conseguiu bombardear? Usaram drones que lançaram no topo de mirantes, onde você tinha toda aquela tecnologia utilizada, que recebia e transmitia e acionava mecanismos de artilharia. Conseguiram cegá-los com ultraleves. Conseguiram adentrar esses postos, prenderam ou eliminaram todos os efetivos militares.

Isso aconteceu em cinco horas. É a maior derrota que um exército ocidental sofreu na vida. É isso que eles fogem de focar. Onde é que está essa tecnologia toda que vocês usavam, que venderam ao mundo e tal? Como é que não funcionou? Eles estão fugindo de falar disso e isso vai vir à tona, logo, logo. O que aconteceu foi o desmoronamento desse sistema todo, o qual provocou um estado de choque nos norte-americanos, antes dos israelenses. Isso que levou os EUA virem com toda força para aquela região para salvar e segurar a barra do estado sionista, que permaneceu em choque por dias.

Politicamente, eles estavam se digladiando entre si. Forçaram um entendimento entre as partes e formaram um governo de coalizão, que é uma grande mentira. Porque quem está de fato comandando politicamente o estado sionista são os americanos. Eles não saem de lá. Quem esta de fato comandando a força militar são os americanos. Porque volta e meia você vê que encheram o Mediterrâneo de tropas. Fizeram incursões com baixas, inclusive de americanos. Liberaram todo tipo de munição, inclusive interromperam o fornecimento para a Ucrânia. A Ucrânia virou um segundo plano para os americanos.

Então, o desmoronamento do Estado de Israel é o fim da hegemonia ocidental naquela região, simplesmente isso. Então, o projeto que eles estavam tentando implantar, que é a rota Índia, Arábia Saudita, Porto de Haifa, isso é uma resposta à Rota da Seda. Quando, na reunião do grupo do G20, que foi uma resposta à reunião dos BRICS na África do Sul, os americanos vieram com essa ideia um pouco fantasiosa, na verdade, ela encaixa na política para aquela região desde os sionistas históricos Shimon Pérez, em 1985, que sempre falava do Novo Oriente Médio, que juntava a inteligência judaica com o capital. Ela permanece intacta e vem sendo adaptada, reativada e reanimada ao longo do tempo. 

Em 2006, a Condoleeza Rice quando lançaram a agressão contra o Líbano, por causa do ataque a um comando israelense na fronteira e fizeram dois reféns para trocar os prisioneiros, ela conduziu uma operação de 36 dias em que foram derrotados. Ela falava que matar civis é a dor do parto, uma fase necessária para o surgimento do novo Oriente Médio. O que é a implantação desse Novo Oriente Médio para eles? É entregar o comando tanto militar, como econômico, como financeiro ao estado sionista. Ser o líder naquela região é exatamente a função que os ingleses queriam dar a esse estado, lá no século XIX. 

Isso em contraposição a um projeto nacional árabe, que no tempo do Nasser estava em andamento e que foi aniquilado já naquela época.

Com essa derrota militar, não se consegue mais vender a ideia de que o estado de Israel é capaz de garantir segurança para os regimes árabes do petróleo. Regimes que são governados e manipulados pelo Império, que financiaram todas as operações militares, tanto de americanos como israelenses. O andamento da batalha, ali, vai determinar não só o futuro do estado sionista, mas toda a geopolítica daquela região.

Nós estamos iniciando uma fase, retornando na verdade para 1969, no auge do movimento nacional árabe que era liderado pelo Gamal Abdel Nasser. Ele conseguiu realizar grandes avanços no sentido de promover a nacionalização do canal de Suez, de promover a reforma agrária, começar o processo de industrialização no Egito e uma série de avanços árabes bem nítidos naquela fase. Promoveu a unificação entre a Síria e o Egito, que depois fracassou devido a forte ingerência ocidental, principalmente americana. 

Então essa fase começou a ganhar notoriedade entre as elites pensantes nacionalistas árabes. Assim, a luta não é mais Palestina-Israel. O Hassan Nasrallah (líder do Hezbolá) falou como líder da resistência árabe em geral, de toda aquela geografia do mundo árabe.

Não há mais divisão para a resistência que ocorre no Líbano, na Síria, no Iraque, no Iemên. Em sua fala, Nasrallah deixou bem claro que o enfrentamento é com os Estados Unidos e seus instrumentos. Quando ele chama Israel de teia de aranha, nem dá mais valor pra esse estado. 

Todo dia o Iêmen tem lançado mísseis e aviões não tripulados no sentido da região sul da Palestina, chamada Eilat. Então, o enfrentamento é em toda a região, não se restringe à Palestina, é a nível regional. 

Reda, você não acha que depois de mais de um mês, o exército israelense está demonstrando força também, na medida em que está agindo de uma forma muito brutal e ignorando todas as resoluções da comunidade internacional?

O Estado sionista nunca cumpriu uma única resolução da ONU. É um estado marginal. Aquela ordem mundial que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial cometeu os piores crimes contra o povo árabe. Já cometeram na Primeira Guerra Mundial, que dividiram a nossa geografia entre eles. Na Segunda Guerra Mundial, fizeram o pior. Deram continuidade ao crime. 

Primeiro, nos dividiram em estados inviáveis, onde empossaram governantes que eles elegeram e colocaram suas assessorias, tanto econômica, financeira e militar, para dirigir as instituições que eles criaram. Depois promoveram a migração para a Palestina e trouxeram bandos armados terroristas asquenazes europeus para promoverem o que eles chamam de guerra de independência na Palestina.

Ninguém fala. De onde vieram esses palestinos que estão morando nesse maior campo de refugiados do mundo, a Faixa de Gaza. Eles foram expulsos de seus vilarejos na Palestina! A mídia ocidental esconde, por isso eu falo que nós voltamos à estaca zero. Essa gente foi expulsa de suas casas, sofreu genocídios, crimes de guerra… Ninguém vai perguntar o que aconteceu em 1948? Esses crimes de guerra prescreveram? 

Por que se fala campo de refugiado de Jenin, de Tulkarm e tal? Mas campo de refugiado de quem? Quem são essa gente? Esses que falam em solução de dois estados, ou são ingênuos, ou muito espertos, de considerar que a história será esquecida. Não! Você teve crimes que foram cometidos com o aval das potências ganhadoras da Segunda Guerra Mundial. Eles são cúmplices, são responsáveis! Os que fizeram vista grossa a todo o genocídio, desde 1948 até hoje, são responsáveis. 

Esses campos de refugiados, para onde vai essa gente? Onde esta a resolução sobre o direito dos palestinos retornarem às suas casas?

Eu queria que você comentasse o perfil do Netanyahu, que está passando por mais uma crise de popularidade internamente. Desde a reforma judiciária que está tramitando, agora passa por esse questionamento sobre sua atuação no 7 de outubro e as perdas na imagem de Israel em termos internacionais. Estão ocorrendo manifestações pedindo a renúncia dele, inclusive.

Veja bem, não importa muito para a imagem de uma liderança sionista. Eles são todos parecidos. Não pensa que aquela “esquerda sionista” é mais humana do que o Bibi Netanyahu e a direita. São todos criminosos. Eles vêm da mesma escola. 

Essa demonização de um e de outro pela mídia ocidental é puro teatro. O que interessa é como manter esse estado sionista na forma que foi planejada pelo Ocidente. Não interessa quem esteja no comando. 

Mas você não acredita que o Netanyahu está perdendo esse prestígio perante o ocidente? 

Isso é o de menos. O máximo que pode acontecer com o Netanyahu é o que aconteceu com o Ehud Olmert. Vai pra prisão, prende ele por motivos outros. Mas o projeto sionista desejado pelo Ocidente continua. Os americanos costuram um novo tipo de governo. 

A gente não pode cair nessa conversa de pesquisas de opinião.Eles fizeram cinco eleições que demonstram os antagonismos entre as correntes sionistas. O Benjamin Netanyahu, como asquenase ocidental-europeu, se aliou aos sefaraditas orientais religiosos e conseguiu se manter no poder por uma cadeira. O que vai alterar na ordem ali? Vai permanecer o problema crônico dentro desse estado. Esse estado, por si só, sem nenhum tipo de guerra com a vizinhança, não vai conseguir sobreviver.

Nem começou a guerra ainda. A não ser que o ocidente venha todo, como foi feito em 1982 no Líbano, pra chamar para si a defesa do Estado de Israel. Porque eles não podem perder a base militar. 

A gente não pode cair nessa de que caiu o Bibi Netanyahu, o “estado democrático israelense” vai eleger o novo governante democrático e a vida vai continuar seguindo dentro da sua normalidade institucional, dentro desse único estado democrático no meio daquela selva de árabes. É pura propaganda.

Quando as lideranças políticas se pronunciam, falam em jogar bomba atômica sobre os árabes. Com essas declarações, você acha que algum árabe se engana sobre Israel? Esse quadro pintado pela mídia ocidental só é engolido aqui. Lá, já é outro entendimento, outra visão. Todos entendem Israel como uma base militar como qualquer outra instalada para aqueles lados, só que a maior delas.

Mas o objetivo dos árabes hoje, com todas as suas vertentes, é a descolonização. Desde Camp David (1978), quando conseguiram tirar o Egito da liderança da nação árabe, Camp David (2000), Taba (2001), e depois Oslo (1993), que foi a pá de cal jogada em cima do movimento nacional árabe. Tudo isso ficou para trás. 

Hoje você tem uma nova visão, uma nova era. Há um quadro global totalmente diferente sendo desenhado. Nações querendo por fim à hegemonia ocidental, querem construir uma nova ordem global, baseada em outros valores e regras, que os árabes com certeza querem participar.

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