Após homenagem, imortal do samba é vítima de racismo no DF

Dois sentimentos antagônicos marcaram o início da semana da lenda do samba carioca Vilma Nascimento. A ex-porta-bandeira da Portela foi homenageada na Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta segunda (20), em razão do Dia da Consciência Negra.

Nesta terça (21), no entanto, Vilma foi acusada de furto em uma loja no Aeroporto Juscelino Kubitschek, pouco antes de embarcar de volta ao Rio de Janeiro. Humilhada, a sambista foi obrigada a abrir a bolsa para provar que não havia furtado nada.

Segundo o neto, Bernard Nascimento, ela estava à espera do voo na companhia da filha Danielle Nascimento quando decidiu comprar um refrigerante na loja Duty Free Shop. Viu perfumes, saiu da loja sem comprar e, momentos depois, retornou para, então, comprar a bebida.

Na volta, foi abordada por uma segurança, que teria dito que precisava ver a bolsa dela em um lugar reservado. A filha conta que também chegou a ser abordada, mas que a fiscal queria que Vilma abrisse a bolsa.

A sambista chegou a dizer que só abriria a bolsa na presença da polícia, mas a filha começou a gravar e insistiu que ela abrisse por causa da proximidade com o horário da decolagem.

No vídeo, dá para ouvir o diálogo de Danielle com a mãe:

“Esqueceu de pagar algum produto, mãe?”, pergunta a filha.

“Eu? Não comprei nada. Como é que vou pagar?”, ao que responde Vilma, indignada.

“Mãe, não fala nada. Só faz o que ela está pedindo e depois a gente vê. Tira tudo da bolsa, mãe”.

Vilma Nascimento, eterna Porta-bandeira da Portela, foi vítima de um ato inaceitável numa loja do aeroporto de Brasília. Foi obrigada a abrir sua bolsa na frente de todos para provar que não havia furtado nenhum produto. Foi com dor e indignação que vi o vídeo dessa (+) pic.twitter.com/SOgvOfOjKf

— Paulinho da Viola (@PaulinhoDaViola) November 23, 2023

Um outro vídeo mostra o momento que a idosa cata alguns de seus pertences do chão.

Em nota, a Portela repudiou o caso e disse que “o constrangimento, demonstrado nas imagens divulgadas, é sentido por todos que temos no samba parte importante de nossa identidade”.

A Dufry Brasil, empresa do Grupo Avolta onde Vilma foi abordada, divulgou nota pedindo desculpas publicamente pelo “lamentável incidente”. A empresa diz que a abordagem foi “absolutamente fora do padrão” do grupo e que a fiscal de segurança foi afastada de suas funções.

A Dufry diz ainda que está reforçando todos os procedimentos internos e treinamentos dos funcionários para evitar que esse tipo de situação se repita.

Políticos e outras personalidades se manifestaram contra o episódio de abordagem racista sofrida pela ex-porta-bandeira da Portela Vilma Nascimento em uma loja do aeroporto de Brasília. A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco repudiou o caso:

“São absurdas e inadmissíveis as acusações racistas feitas por funcionários de uma loja do aeroporto de Brasília à Vilma Nascimento, Baluarte da Portela e lenda viva da cultura negra brasileira”, escreveu a ministra nas redes sociais.

Pelas redes sociais, o cantor e compositor Paulinho da Viola externou seu repúdio ao episódio envolvendo Vilma Nascimento.

“Vilma Nascimento, eterna Porta-bandeira da Portela, foi vítima de um ato inaceitável numa loja do aeroporto de Brasília. Foi obrigada a abrir sua bolsa na frente de todos para provar que não havia furtado nenhum produto. Foi com dor e indignação que vi o vídeo dessa cena lamentável, onde Vilma constrangida mostra seus pertences e se explica para uma funcionária. Apesar de todos os esforços que temos feito para combater esse preconceito, ele acontece diariamente toda vez que uma pessoa é agredida, humilhada, constrangida e ferida dessa maneira. Eu também me sinto ferido. Sinto muito, querida Vilma, sinto mesmo. Você é muito maior que tudo isso”, disse.