Um passo adiante no Minha Casa, Minha Vida
Lula busca na “faixa 4” do MCMV preencher lacunas sociais, resgatando a classe média e promovendo não apenas moradias, mas consciência política. Desafios que vão além das entregas de casas.
Publicado 09/11/2023 13:22 | Editado 09/11/2023 14:39
Em país marcado por tremenda desigualdade social, agravada pelo conturbado ambiente de polarização política e ideológica em que um dos polos navega em realidade paralela e confunde milhões via fake news, há um “detalhe” na anunciada “faixa 4” do programa Minha Casa, Minha Vida de duplo significado.
O objetivo é alcançar parcela expressiva da chamada “classe média”, beneficiando, famílias com renda mensal de até R$ 12 mil.
Além de socialmente justa, a intenção anunciada pelo presidente Lula alcança a superação de uma lacuna verificada em seus dois governos anteriores e nos governos de Dilma Rousseff: milhões de brasileiros e brasileiras pertencentes a essa faixa social intermediária, digamos assim, entre os 41% mais pobres e os 10% mais ricos, não se sentiu beneficiária das políticas sociais.
À época, pesquisas revelavam a insatisfação dessa faixa da população, caldo de cultura onde prosperaram a antipolítica, disseminada amplamente pela pelos conglomerados midiáticos, e a ascensão da extrema direita bolsonarista.
Por enquanto, até o fim de 2026, o governo pretende entregar mais de 2 milhões de casas no formato atual do programa.
Ainda insuficiente, porém de um simbolismo muito forte. No governo Bolsonaro o programa mudou de nome e estacionou, deixando 188 mil unidades com obras paradas.
Porém não basta a retomada do benefício. É preciso abordar politicamente a população beneficiária, contribuindo para elevar o seu nível de consciência.
Tanto porque desde o segundo governo Lula, contraditoriamente, a bandeira da Reforma Urbana se enfraqueceu – parte considerável das energias do movimento popular deslocada para as linhas de financiamento habitacional comunitário – , como o conjunto dos programas sociais vitoriosos não produziram a elevação do nível de consciência da população, conforme se constatou em sondagens como as realizadas pelo Instituto Locomotiva.
Realizações de governo eram apresentadas como dádivas, não como conquistas do povo.
A agenda da reconstrução nacional, que dá conteúdo e sentido ao atual governo, tem necessariamente a dupla face das realizações objetivas e a abordagem subjetiva da maioria da população. Sem o que não se melhora a difícil correlação de forças inóspita a transformações sociais consistentes.