Envelhecimento em tempo real

E sigo exibindo os cabelos brancos tendentes a rarefeitos, o rosto enrugado, o olhar atento e os passos firmes de quem escolhe o bom e o melhor da velhice.

Foto: Freepik

Entendo quase nada sobre o tema, além do fato de eu mesmo experimentar esse fenômeno humano que é avançar na idade por décadas.

— Vovô, você já está velhinho!, sentenciou minha neta Alice há uns dois ou três anos passados.

A velhice para mim é uma experiência concreta e dispensa leituras e estudos específicos. Não tenho tempo.

Então, de modo espontâneo e improvisado, eu mesmo cuido de viver essa fase da maneira que me apetece: tendo sempre presente as lições acumuladas e me mantendo aberto e sem nenhum preconceito a novas experiências e à atualização das minhas convicções.

Claro que existe a parte ruim. Por exemplo, se carrego sacolas de compras um tanto pesadas logo sinto os reflexos daquilo que suponho ser uma espécie de bursite do quadril (ando à procura de um ortopedista que possa diagnosticá-la).

Também não me arriscarei jamais a uma boa pelada na praia. Não quero passar a vergonha de pedir substituição aos 10 minutos do primeiro tempo.

A parte boa, entretanto, é que já aprendi o caminho das pedras e evito entrar em enrascadas. Tanto nas relações interpessoais, como em atividades coletivas.

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Tirante certa dificuldade de usar o tempo com a disciplina necessária, ocupo meus dias entre a intensa militância político-partidária e vários prazeres, entre os quais o da boa leitura e o da convivência com as pessoas a quem mais amo.

E presumo que já há bastante tempo desenvolvi a boa técnica de não insistir em resolver aquilo que as pessoas no entorno não estão dispostas nem convencidas de que devam resolver. De quebra, o bom exercício da tolerância:

“O silêncio às vezes é a melhor forma de dizer” — li num parachoque de caminhão.

Saudades do passado? Nenhuma. Apenas as boas lembranças.

O tempo presente é o que mais conta. 

E sigo exibindo os cabelos brancos tendentes a rarefeitos, o rosto enrugado, o olhar atento e os passos firmes de quem escolhe o bom e o melhor da velhice.

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