PM agredida por golpistas faz depoimento revelador em CPMI
Marcela Pinno testemunhou o nível de organização, autoproteção e violência promovida pelos bolsonaristas contra a polícia
Publicado 12/09/2023 17:44 | Editado 14/09/2023 12:08
Na terça-feira, 12 de setembro de 2023, a cabo Marcela Pinno, da Polícia Militar do Distrito Federal, prestou um depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os eventos ocorridos em 8 de janeiro deste ano, quando manifestantes atacaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. O depoimento de Marcela Pinno revelou informações importantes sobre a organização dos manifestantes e a atuação das forças de segurança.
Marcela estava entre os policiais destacados para o policiamento da Esplanada dos Ministérios durante os atos de vandalismo. Em seu depoimento, ela destacou que os manifestantes da linha de frente pareciam estar organizados, demonstrando atitudes coordenadas e o uso de equipamentos de proteção.
A policial ressaltou que a violência naquele dia foi incomum e que os manifestantes pareciam dispostos a tudo, inclusive a atentar contra a vida das forças de segurança. A policial foi empurrada de uma altura de três metros. Marcela descreveu a situação como intensamente violenta e relatou ter sido agredida, inclusive com uma barra de ferro na cabeça. Mesmo machucada, a cabo da PMDF ficou na Esplanada dos Ministérios até 1h do dia seguinte.
“Enquanto alguns me chutavam, me agrediam com barras de ferro, com barras de madeira, outro tentava tomar a minha arma. Momento esse em que fui atingida com uma barra de ferro na cabeça. Quando eles perceberam que eu ainda me mantinha ali no embate, eles começaram a tentar arrancar meu capacete.”
Ela também enfatizou que não foi possível perceber qualquer comportamento de leniência por parte de outros policiais durante a tentativa de conter os manifestantes durante os ataques.
Elogios à atuação policial
O presidente da CPMI, deputado Arthur Oliveira Maia, elogiou a atuação corajosa de Marcela Pinno, comparando-a à heroína baiana Maria Quitéria. Parlamentares de diferentes espectros políticos expressaram gratidão e reconhecimento pela coragem e eficiência demonstradas pela cabo da PM-DF em meio aos tumultos. Ela acabou promovida por ato de bravura
O deputado Duarte Jr. (PSB-MA) destacou que Marcela representa o que as Forças Armadas têm de melhor: coragem, sensibilidade e eficiência. Ele agradeceu em nome do povo brasileiro pela sua dedicação.
Por outro lado, parlamentares da oposição, como Filipe Barros (PL-PR), questionaram a culpabilização exclusiva da PM do Distrito Federal por omissão no dia dos ataques e também levantaram questões sobre a atuação da Força Nacional de Segurança, destacando que todas as forças de segurança tiveram seus erros.
Decisão do STF e recurso da CPMI
Vale destacar que, devido a uma liminar concedida pelo ministro bolsonarista Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), o depoimento programado para a mesma reunião da CPMI com a ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF, Marilia Alencar, não pôde ocorrer. Os parlamentares da CPMI entraram com recurso contra a liminar, alegando que ela evidenciou a falta de equilíbrio entre os poderes e se sobrepôs a uma decisão conjunta e unânime dos membros do colegiado.
A CPMI
Os eventos de 8 de janeiro de 2023 ocorreram uma semana após a posse do presidente Lula, quando um grupo de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes em Brasília. Centenas de pessoas foram presas em consequência desses eventos.
Em resposta, os presidentes dos três Poderes divulgaram uma nota em defesa da democracia brasileira, e o Congresso aprovou a intervenção federal no Distrito Federal. Posteriormente, em abril, o Congresso criou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos de ação e omissão ocorridos em 8 de janeiro. O colegiado é composto por 16 senadores e 16 deputados.
O depoimento da cabo Marcela Pinno oferece novos insights sobre a complexidade dos eventos ocorridos naquele dia e deve continuar sendo investigado pela CPMI para um entendimento mais completo dos acontecimentos.