Na Presidência do G20 pela primeira vez, Lula estabelece prioridades para 2024
A guerra na Ucrânia será um dos principais entraves para consensos durante a presidência do Brasil no G20. Na cúpula de Nova Delhi, Lula quer defender o meio ambiente e combater a desigualdade.
Publicado 01/09/2023 17:41 | Editado 02/09/2023 12:58
O Brasil se prepara para um marco significativo em sua história diplomática, com a responsabilidade de assumir a presidência do G20 em 2024. O Governo Lula será responsável por organizar a próxima cúpula, prevista para novembro de 2024, no Rio de Janeiro. O presidente Lula viajará na próxima semana para o encontro, que será realizado em Nova Delhi, na Índia, nos dias 9 e 10 de setembro.
Com isso, o país se tornará o terceiro grande país em desenvolvimento a liderar o grupo, após Indonésia e Índia, e antes da presidência da África do Sul em 2025. O último discurso da cúpula, no dia 10 de setembro, será de Lula, após receber — de forma simbólica — a Presidência, que será entregue pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Essa posição de liderança global trará oportunidades e desafios únicos para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que delineou uma série de prioridades para sua presidência, refletindo questões globais urgentes. O Ministério das Relações Exteriores já antecipou alguns dos temas prioritários de Lula para os encontros: combate às desigualdades, não só na área social, mas desigualdade entre países, de acesso a recursos, e sobretudo em áreas como combate à fome, combate à pobreza e a agenda social, de maneira geral
A presidência do Brasil no G20 é uma oportunidade crucial para o país demonstrar liderança global e influenciar questões importantes. No entanto, os desafios são substanciais, com divisões no G20 e preocupações diplomáticas relacionadas à guerra na Ucrânia e à possível presença de Vladimir Putin no evento. Na Índia, ele já anunciou que não irá, mas não se sabe o que pode ocorrer até a cúpula do Rio de Janeiro.
Como o Brasil abordará esses desafios e buscará construir consenso em questões globais críticas será fundamental para o sucesso de sua presidência no G20. O Brasil tem a chance de se posicionar como um líder comprometido com questões multilaterais e justiça global, mas isso exigirá habilidade diplomática e pragmatismo ao lidar com questões sensíveis.
O G20, até 2008, era praticamente apenas um encontro entre lideranças das finanças de seus respectivos países. Mas, com a crise que se instalou diante da quebra do Lehman Brothers e de outros bancos naquele ano, o bloco passou a ser o principal palco de formulação de respostas a crises internacionais.
Prioridades da Presidência Brasileira no G20
- Reforma do Sistema Internacional: Uma das principais prioridades do Brasil no G20 será a defesa de uma reforma profunda no sistema de governança global. O país buscará a inclusão de novos membros permanentes no Conselho de Segurança da ONU, uma demanda antiga da diplomacia brasileira. Essa reforma é vista como crucial para refletir a nova dinâmica de poder global. Lula insiste que não quer a divisão do mundo em bloco antagônicos, mas alerta que a ONU ainda sobreviverá se for alvo de uma reforma. O centro da proposta brasileira é a da inclusão de novos membros permanentes do Conselho de Segurança, composto desde 1945 por apenas cinco países.
- Mudanças Climáticas e Meio Ambiente: O Brasil pretende assumir um papel de liderança no combate às mudanças climáticas e na proteção do meio ambiente. Apesar de desafios internos, como o desmatamento na Amazônia, o país buscará se destacar como um defensor do meio ambiente e pressionará as nações ricas a cumprir sua promessa de destinar US$ 100 bilhões por ano para ações de proteção ambiental nos países em desenvolvimento.
- Redução das Desigualdades: O Brasil enfatizará a importância de combater todas as formas de desigualdade, incluindo a social, de renda e de gênero. A redução da pobreza será destacada como uma prioridade global, pois isso pode criar um mercado consumidor maior e reduzir a pressão migratória em direção aos países mais ricos.
As tensões no G20
Embora o Brasil tenha definido claramente suas prioridades para a presidência do G20, a reunião de líderes em Nova Delhi em setembro de 2023 já aponta para desafios e tensões significativas. O governo brasileiro está ciente dos desafios que enfrentará durante sua presidência no G20. A necessidade de equilibrar os interesses conflitantes das grandes potências e construir consenso em torno de questões globais prementes é um teste significativo para a diplomacia brasileira.
O grupo está atualmente dividido, com questões como a guerra na Ucrânia causando tensões entre os países, o que dificultará consensos para uma Declaração Final. Os desentendimentos entre Rússia e China de um lado, e países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, do outro, são um obstáculo para alcançar um consenso.
Russos e chineses se opõem a qualquer declaração condenando Moscou pela guerra. O G7, por seu lado, defende exatamente o oposto, demandando que praticamente todos os documentos da cúpula, incluindo, a declaração final, condene a Rússia, nos mais duros termos.
Além disso, a possível presença do presidente russo, Vladimir Putin, na reunião do G20 no Rio de Janeiro em 2024, poderia criar um dilema, já que ele foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é parte. Ha ainda pressões para que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky compareça ao Rio. Isso exigirá um delicado equilíbrio entre as obrigações internacionais e a diplomacia brasileira. Na recente Cúpula do BRICS, em Joanesburgo, Putin participou remotamente. Até lá, a guerra pode ter se encerrado.
No entanto, com uma agenda clara e um foco em questões globais urgentes, o Brasil tem a oportunidade de influenciar positivamente as discussões no G20 e se posicionar como um líder global comprometido com o multilateralismo e a justiça global. A presidência brasileira no G20 promete ser um momento de desafios, mas também de oportunidades únicas para a diplomacia do país.
A guerra na Ucrânia é um ponto de tensão significativo nas discussões do G20. A Rússia se opõe a qualquer declaração condenando Moscou pela guerra, enquanto os países ocidentais, liderados pelo G7, exigem condenações duras à Rússia.
O presidente Joe Biden dos Estados Unidos também tem uma agenda específica, focada na guerra na Ucrânia e suas consequências, como a crise alimentar e a inflação em nações em desenvolvimento. As nações em desenvolvimento podem se mostrar céticas em relação ao posicionamento dos EUA.