Parlamentares LGBTQIA+ são ameaçadas de morte e “estupro corretivo”

Ao menos seis deputadas e vereadoras de esquerda e LGBTQIA+ foram ameaçadas por e-mail nos últimos dias. Polícia Civil investiga os casos

Daiana Santos, Rosa Amorim, Bella Gonçalves, Iza Lourença, Mônica Benício e Cida Falabella. Fotos: 1 - reprodução/redes; 2 - Olivia Godoy; 3 - Daniel Protzner/ALMG/Divulgação; 4 - Barbara Crepaldi/CMBH; 5 e 6 - Barbara Crepaldi/CMBH

Mais uma vez, mulheres que atuam na política são vítimas de ameaças daqueles que disseminam discursos de ódio e preconceitos e não aceitam quem luta pela igualdade de direitos e pela diversidade. Ao menos seis parlamentares sofreram esse tipo de ataque por e-mail nos últimos dias, no mês do Orgulho e da Visibilidade Lésbica. 

Atuante no movimento LGBTQIA+, Daiana Santos (PCdoB-RS) recebeu e-mail com mensagem lesbofóbica e ameaças de morte e “estupro corretivo”. Ela registrou boletim de ocorrência nesta terça-feira (22) na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Descriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou Com Deficiência (Decrin), em Brasília (DF) e estuda outras medidas. 

Em um dos trechos da mensagem, o autor pontua o estupro corretivo como “terapia” que “cura o homossexualismo (sic) feminino” e fala que iria na casa da deputada para realizar a “terapia”. Afirma, ainda, que ser “sapatão” seria uma aberração.

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Ao Portal Vermelho, Daiana Santos, primeira deputada abertamente homossexual eleita pelo Rio Grande do Sul, “a motivação está nítida: eu sou uma mulher lésbica, assim como outras parlamentares que foram atacadas. Nos ofendem, atacam, intimidam por sermos quem nós somos. Isso antecede a minha posição política, mas obviamente está ligada com a minha atuação”. 

A deputada salienta que foi “legitimamente eleita” e que luta “pela ampliação de direitos da comunidade LGBTI+. A escolha pelo mês de agosto não é aleatória. Por exemplo, no dia 29, vou realizar a 1ª Sessão Solene da história da Câmara das Deputadas e dos Deputados referente ao Dia da Visibilidade Lésbica”. 

Ao falar sobre os ataques durante sessão da Câmara nesta terça-feira (22), destacou: “Quero deixar bem registrado que não existe correção para aquilo que não é erro, que não existe cura para o que não é doença”. 

Ela também denunciou e repudiou os casos de ameaças contra outras parlamentares LGBTQIA+ ou que apoiam a pauta deste segmento, que somam seis em pouco mais de uma semana. Além de Daiana, foram vítimas desse tipo de violência as deputadas estaduais Rosa Amorim (PT-PE) e Bella Gonçalves (PSOL-MG) e as vereadoras do PSOL Iza Lourença (MG), Mônica Benício (RJ) e Cida Falabella (MG). A Polícia Civil investiga os casos.

Em mensagem dirigida a Bella Gonçalvez, o remetente escreveu: “Seremos breves: você é lésbica e por isso sua presença não será mais tolerada”. O e-mail enviado para Mônica Benício dizia: “Isso não é violência, é o que chamamos Estupro Corretivo Terapêutico, uma terapia de eficácia comprovada que cura o homossexualismo (sic) feminino porque ser sapatão é ser uma aberração”.

Solidariedade

As ameaças às parlamentares são reflexo do discurso de ódio e do desrespeito às diferenças que ganharam força com a ascensão da extrema-direita bolsonarista e ainda estão bastante presentes na sociedade brasileira. Os ataques vêm recebendo repúdio de lideranças e apoiadores, que têm também reforçado sua solidariedade às parlamentares agredidas. Da mesma forma, elas mesmas têm se apoiado. 

“Repugnantes as ameaças de estupro corretivo contra as companheiras Monica Benicio, do PSOL, e Daiana Santos, do PCdoB. Essa gente que destila ódio, preconceito e homofobia não pode ficar impune. É pedagógico. Toda minha solidariedade a Mônica e Daiana , ninguém vai parar a força da mulher progressista contra a barbárie”, declarou, pelas redes sociais, a presidenta nacional do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann.

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As deputadas gaúchas Maria do Rosário (PT) e Fernanda Melchionna (PSOL) também se manifestaram: “Minha solidariedade à deputada Daiana, que resiste bravamente contra ameaças e ataques. Todo apoio à luta da comunidade LGBTI+ por direitos, dignidade e respeito. Como disse Daiana, não vamos recuar!”, disse Maria do Rosário. Fernanda, por sua vez, defendeu que “é preciso investigação séria sobre esses ataques. Minha solidariedade à colega Daiana. Não vão nos intimidar!”. 

“Só hoje, duas deputadas anunciaram que foram ameaçadas de estupro. Uma delas foi Daiana Santos, do meu partido, o PCdoB. Crimes gravíssimos e ainda mais simbólicos no mês da visibilidade lésbica”, declarou a escritora e vereadora do Recife, Cida Pedrosa. 

“As redes de ódio seguem praticando crimes com ameaças às parlamentares de luta. Desta vez, a vereadora Mônica Benício, a deputada estadual Rosa Amorim e a deputada federal Daiana Santos também receberam ameaças. Estamos juntas, companheiras. Nossa força vai derrotar o ódio”, escreveu pelas a deputada estadual Bella Gonçalves.