Reconhecimento a artistas negros marca 51º Festival de Gramado

Vencedor, “Mussum, o Filmis” conta trajetória de um dos mais queridos artistas brasileiros. Léa Garcia foi homenageada por sua importância no cinema nacional

Ailton Graça e Mussunzinho. Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto/Festival de Gramado

O filme que conta a história de um dos artistas negros mais queridos e populares do Brasil foi o grande vencedor do 51º Festival de Gramado, encerrado no sábado (19). “Mussum, o Filmis” — assim mesmo, com a grafia fazendo referência ao jeito de falar que virou marca registrada do músico e humorista — levou seis Kikitos, o prêmio máximo do evento, incluindo o de Melhor Filme. 

O longa — também dirigido por um homem negro, Silvio Guindane — recebeu ainda as estatuetas de Melhor Ator (Ailton Graça, como Mussum), Ator Coadjuvante (Yuri Marçal), Atriz Coadjuvante (Neusa Borges), Trilha Musical (Max de Castro) e Júri Popular. Ainda houve uma menção honrosa a Martin Macias Trujillo, por seu trabalho de caracterização no longa-metragem. O filme entra em cartaz no dia 2 de novembro.

“É muito emocionante conquistar o prêmio do público porque o nosso objetivo era mesmo fazer um filme para o público”, declarou Guindane. Ele também falou sobre a importância, para o cinema nacional, de ser retomada da cota de tela. “Não adianta fazermos um filme para o público se não temos telas para apresentar para o público”, argumentou. 

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Filho de uma dona de casa e de um porteiro, ao falar sobre seu primeiro prêmio como ator, Ailton Graça, que dá vida a Mussum no longa, lembrou de sua infância na periferia de São Paulo e destacou: “Eu não sabia o que era ter fé quando escolhi ser ator. Naquela comunidade onde nasci ficava ouvindo a TV nos barracos do lado. Para mim todo mundo dentro daquela caixinha era preto, porque era assim que todo mundo era no meu bairro”. 

O ator Antônio Carlos Santana Bernardes Gomes Júnior, filho de Mussum e conhecido como Mussunzinho, elogiou o filme: “Vocês retrataram de uma forma perfeita o velho e eu vou ter o maior prazer de, daqui a alguns anos, sentar com o meu filho e mostrá-lo da forma mais aproximada que eu poderia mostrar”.

Léa Garcia presente!

A atriz Léa Garcia. Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto

O Festival de Gramado também foi marcado pela perda de uma das maiores atrizes negras do país. Presente ao evento, Léa Garcia faleceu na terça-feira (15), vítima de infarto. Ela receberia o prêmio Oscarito — concedido desde 1990 aos grandes atores e atrizes do cinema nacional — ao lado de Laura Cardoso. 

A homenagem acabou sendo entregue no sábado (19) ao seu filho, Marcelo Garcia. Ao receber o prêmio, ele salientou: “Dona Léa deixa um legado muito grande, deixa lembranças e dentro deste merecimento, dessa homenagem que foi feita por vocês foi em vida, porque a Léa vive. Ela está aqui. Ela vai continuar, ela morreu sob os holofotes e ela queria que eu fizesse isso. Eu tenho certeza”. 

Em nota, o festival lembrou que “Dona Léa Garcia havia chegado a Gramado no último sábado (12) acompanhada do filho, Marcelo Garcia. A atriz circulava diariamente pelo evento, onde acompanhou diversas sessões no Palácio dos Festivais. Em uma de suas passagens pelo tapete vermelho, a atriz afirmou ao portal Acontece Gramado ter ‘um enorme prazer em estar mais uma vez em Gramado. Esse calor, essa receptividade com a qual a cidade nos recebe. Aqui tem um leve sabor de chocolate no ar. Obrigado a todos que fazem o festival, que participam e que concorrem. Aqui me sinto sempre prestigiada’”. 

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Premiação indígena

Cineasta yanomami recebe premiação. Foto: reprodução

Outro importante reconhecimento feito pelo festival foi a premiação do curta-metragem “Mãri hi – A Árvore do Sonho (2023)”, de Morzaniel Ɨramari, considerado o primeiro cineasta Yanomami. A produção — que tem a participação do líder e xamã Davi Kopenawa e aborda o conhecimento desse povo sobre os sonhos — recebeu o Kikito de Melhor Fotografia e o Prêmio Especial do Júri. “Mãri-Hi – A árvore do Sonho” já tem uma reserva especial na 80ª edição do Festival de Veneza, na Itália, que acontece de 30 de agosto e 9 de setembro. 

O prêmio de Melhor Direção do Festival ficou com Petrus Cariry, por “Mais Pesado é o Céu” e a atriz Vera Holtz recebeu a estatueta por sua atuação em “Tia Virgínia”. O melhor longa-metragem documental foi “Anhangabaú”, de Lufe Bollini. E o prêmio dedicado a longas-metragens gaúchos foi para “Hamlet”, de Zeca Brito. (Veja abaixo a lista completa de ganhadores do Festival de Gramado).

Vencedores

Premiados do 51º Festival de Cinema de Gramado. Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto

Confira a lista de todos os vendedores do 51º Festival de Gramado: 

Longas-metragens Brasileiros
Melhor Filme: “Mussum, O Filmis”, de Silvio Guindane
Melhor direção: Petrus Cariry, por “Mais Pesado é o Céu”
Melhor ator: Aílton Graça, por  “Mussum, O Filmis”
Melhor atriz: Vera Holtz, por “Tia Virgínia”
Melhor Roteiro: Fábio Meira, por “Tia Virgínia”
Melhor Fotografia: Petrus Cariry, por “Mais Pesado é o Céu”
Melhor Montagem: Firmino Holanda e Petrus Cariry, por “Mais Pesado é o Céu”
Melhor Trilha Musical: Max de Castro, por “Mussum, O Filmis”
Melhor Direção de Arte: Ana Mara Abreu, por “Tia Virgínia”
Melhor Atriz Coadjuvante: Neusa Borges, por “Mussum, O Filmis”
Melhor Ator Coadjuvante: Yuri Marçal, “Mussum, O Filmis”
Melhor Desenho de Som: Rubem Valdés, por “Tia Virgínia”
Prêmio especial do júri: Ana Luiza Rios de “Mais Pesado é o Céu”
Menção Honrosa: Vera Valdez, por “Tia Virgínia”
Menção Honrosa: Martin Macias Trujillo, por “Mussum, O Filmis”
Júri da Crítica: “Tia Vírginia”, de Fábio Meira
Júri Popular: “Mussum, O Filmis”, de Silvio Guindane

Prêmio SEDAC/IECINE de Longas-metragens Gaúchos

Melhor filme: “Hamlet”, de Zeca Brito
Melhor direção: Zeca Brito, por “Hamlet”
Melhor ator: Fredericco Restori, por “Hamlet”
Melhor atriz: Carol Martins, por “O Acidente”
Melhor roteiro: Marcelo Ilha Bordin e Bruno Carboni, de “O Acidente”
Melhor fotografia: Bruno Polidoro, Joba Migliorin, Lívia Pasqual e Zeca Brito, por “Hamlet”
Melhor direção de arte: Richard Tavares, de “O Acidente”
Melhor montagem: Jardel Machado Hermes, de “Hamlet”
Melhor Desenho de Som: Kiko Ferraz, Ricardo Costa e Cristian Vaz, por “Céu Aberto”
Melhor trilha Musical: Rita Zart e Bruno Mad, por “Céu Aberto”
Júri Popular: “Sobreviventes do Pampa”, de Rogério Rodrigues

Longas-metragens Documentais
Melhor Filme: “Anhangabaú”, de Lufe Bollini

Curtas-metragens Brasileiros
Melhor Desenho de Som: Kiko Ferraz, por “Sabão Líquido”
Melhor Trilha Musical: Mano Teko e Aquahertz, por “Yãmî-Yah-Pá”
Melhor Direção de Arte: Felipe Spooka e Jacksciene Guedes, por “Casa de Bonecas”
Melhor Montagem: Luiza Garcia, por “Camaco”
Melhor Roteiro: Fabiano Barros e Rafael Rogante, por “Ela Mora Logo Ali”
Melhor Fotografia: Morzanel Iramari, por “Mãri-Hi – A árvore do Sonho”
Melhor Atriz: Agrael de Jesus, por “Ela Mora Logo Ali”
Melhor Ator: Phillipe Coutinho, por “Sabão Líquido”
Prêmio Especial do Júri: “Mãri-Hi – A Árvore do Sonho”
Menção Honrosa: “Cama Vazia”, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet
Melhor Curta Júri da Crítica: “Camaco”, de Breno Alvarenga
Melhor Filme pelo Júri Popular:  “Ela Mora Logo Ali’, de Fabiano Barros e Rafael Rogante
Melhor Direção: Mariana Jaspe, por “Deixa”
Melhor Filme: “Remendo”, de Roger Ghil
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Yãmî-Yah-Pá”, de Vladimir Seixas

Mostra de Filmes Universitários
Melhor filme: Cabocolino, de João Marcelo.